Venha ver o por do
sol:
considerações sobre a
experiência do silêncio na formação artística
Por Regina Machado (1)
para Amina Shah
Então antigamente
a gente ia ver o por do sol. Quer dizer, não que as pessoas saíssem de casa com
essa intenção, tipo um programa.
O por do sol acontecia, e acontece, todos os dias, cada dia diferente do
anterior.
Geralmente
coincidia com o fim do trabalho e nessa hora parada o por do sol estava ali,
acessível, no horizonte. É que havia horizonte. Se não da porta da minha casa,
com três passos se chegava num lugar onde seria possível descortinar o encontro
do céu com a terra, ou com a montanha, ou com o mar e acompanhar o sol sumindo,
sumindo. Todo dia.
Hoje, por trás dos
prédios - cortinas irremovíveis - das nossas cidades, o sol continua se pondo
cada dia de um jeito, num horizonte que ninguém consegue saber se existe,
quanto mais ver.
Criança de hoje
não conhece a expressão: “ter horizonte na vida”.
Porque não tem a
experiência do horizonte, não pode entender a expressão. Simples assim?
Será que uma
pessoa pode ser “alguém com horizonte na vida”, se não vive a experiência
possivelmente cotidiana, e não apenas turística, de contemplar no silêncio do
fim da tarde a nunca mesmice de um por de sol?