Um dia, um homem com roupas simples e
o rosto coberto com um capuz adentrou a casa de chá e se dirigiu ao mestre sufi
Nasrudin, buscando a verdade:
Rubem Alves: Andar de manhã
Por Rubem Alves
Durante as duas últimas semanas tenho começado os meus dias cometendo um furto. Não sei como evitar esse pecado e, para dizer a verdade, não quero evitá-lo. A culpa é de uma amoeira que, desobedecendo as ordens do muro que a cerca, lançou seus galhos sobre a calçada. Não satisfeita, encheu-os de gordas amoras pretas, apetitosas, tentadoras, ao alcance de minha mão. Parece que os frutos são, por vocação, convites a furtos: basta mudar a ordem de uma única letra… Penso que o caso da amoreira comprova esta tese linguística: tudo tem a ver com o nome. Pois amora é a palavra que, se repetida muitas vezes, amoramoramoramora, vira amor. Pois não é isso que é o amor? Um desejo de comer, um desejo de ser comido… O muro, tal como o mandamento, diz que é proibido. Mas o amor não se contém e, travestido de amora, salta por cima da proibição. Foi assim no Paraíso… Os poucos transeuntes que passam por ali àquela hora da manhã talvez se espantem ao ver um homem de cabelos brancos colhendo amoras proibidas. Mas, se prestarem bem atenção, verão que quem está ali não é um homem com cerca de 70 anos, é um menino. E como o próprio filho de Deus que disse que é preciso voltar a ser menino para entrar no Reino dos Céus, colho e como as amoras com convicção redobrada. E para que não pairem dúvidas sobre a inspiração teologal do meu ato, enquanto mastigo e o caldo roxo me suja dedos e boca, vou repetindo as palavras sagradas: “Tomai e bebei, este é o meu sangue…”. Ah! A divina amora, graciosa dádiva sacramental! Começo assim meu dia, furtando o fruto mágico que opera o milagre por todos sonhado de voltar a ser criança.
Viagem Literária 2014 - Entrevista com o Contador de Histórias
Por Fabio Lisboa
Entrevista do contador de histórias e autor Fabio
Lisboa para o repórter Thiago Barreto sobre a Viagem Literária, programa da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.
Quais as suas expectativas para a
Viagem Literária deste ano?
Grandes
expectativas, afinal, neste ano me propus a contar a história de meu livro, O
Mistério Amarelo da Noite, que é baseado em fatos que ocorreram na minha
infância. Bem, claro que os fatos foram recheados de imaginação e aventura. E,
na hora de contar, convido os ouvintes a se aventurarem comigo no lugar mais
escuro e assustador do meu imaginário infantil: o Beco Escuro! A ideia é que,
ao "entrar" neste local fictício, cada ouvinte leve tanto seus
próprios medos quanto sua luminosa coragem. E assim, embarcarmos nesta Viagem
Literária!
Como surgiu a vontade de se
tornar um contador de histórias?
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