Por Fabio Lisboa
Entrevista do contador de histórias e autor Fabio
Lisboa para o repórter Thiago Barreto sobre a Viagem Literária, programa da Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo.
Quais as suas expectativas para a
Viagem Literária deste ano?
Grandes
expectativas, afinal, neste ano me propus a contar a história de meu livro, O
Mistério Amarelo da Noite, que é baseado em fatos que ocorreram na minha
infância. Bem, claro que os fatos foram recheados de imaginação e aventura. E,
na hora de contar, convido os ouvintes a se aventurarem comigo no lugar mais
escuro e assustador do meu imaginário infantil: o Beco Escuro! A ideia é que,
ao "entrar" neste local fictício, cada ouvinte leve tanto seus
próprios medos quanto sua luminosa coragem. E assim, embarcarmos nesta Viagem
Literária!
Como surgiu a vontade de se
tornar um contador de histórias?
Desde o
jardim da infância, meus pais me encantavam com os clássicos da literatura
infantil. Quando menino, meu avô me fascinava com suas histórias "de
boca". Jovem, comecei a ler muito e até a escrever. Sonhava em ser
escritor. Mais velho, depois de me formar e descobrir que a publicidade não
seria suficiente para alimentar os meus sonhos, ao escolher uma nova profissão,
comecei lendo e contando histórias num projeto voluntário. A alegria e
realização foi tanta que logo virei profissional, e descobri, há mais de 10
anos, que era isso que eu queria fazer para o resto da vida.
Você acha importante os pais
incentivarem as crianças a lerem livros fora da escola?
O papel
dos pais é fundamental na formação dos futuros leitores. O gosto pela leitura
na verdade se adquire antes mesmo de a criança saber ler. Os pais, ao lerem e
contarem histórias, criam momentos afetivos de sonhos e de descobertas
inesquecíveis para os filhos. Essa magia acontece quando, por exemplo, estes
compartilham um livro ao pé da cama, antes de dormir. Assim, ao aprender a ler,
as crianças mantém o prazer de sonhar e descobrir o mundo por meio das páginas
de um livro.
Em um mundo onde os celulares e
outras tantas mídias dominam a atenção das crianças, o que fazer para que elas
não percam o gosto pela leitura?
Nada
supera o poder da imaginação. Nem as novas mídias. Especialmente, para quem
descobre o gosto pela leitura e, assim, aprende a usar o seu poder imaginativo.
Por isso, quem lê um livro e depois vê um filme baseado na obra raramente prefere
o filme. O problema é que muitas crianças e mesmo jovens não chegam a ter
incentivos suficientes para que se tornem leitores fluentes e aprendam a usar o
seu próprio imaginário. Então o segredo para que os livros sejam amados é,
independente dos novos recursos audiovisuais, que os pais e professores
incentivem as crianças e os jovens a descobrirem, em si mesmos, o recurso
inigualável da leitura e da imaginação.
E para encerrar, qual foi o
primeiro livro que você leu e com qual idade?
Assim
que aprendi a ler com autonomia e a literalmente viajar nas narrativas, por
volta dos sete anos, adorava os livros da Série Gato e Rato, como Fogo no céu,
e O rabo do tatu. Os autores Mary e Eduardo França conseguiram captar, em
poucas e bem escolhidas palavras e ilustrações, histórias fáceis e gostosas de
ler. Ainda me lembro até hoje do orgulho de ler e reler incontáveis vezes estes
pequenos contos tentando desvendar suas tramas: afinal, um tatu com rabo de
macaco continua sendo tatu? Naquela época, tentava entender como estas
narrativas me despertavam emoções e a vontade de conhecer mais de mim e do
mundo destes incríveis personagens. Mais de trinta anos depois, continuo
tentando entender as emoções contidas num conto e entrando, encantado, nestas
verdadeiras viagens de descoberta.
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