Era
fim de tarde e o avô passeava com o neto por uma das movimentadas praças da
barulhenta cidade em que viviam.
Havia
o barulho de pessoas, celulares, carros, ônibus, buzinas, sirenes, construções.
-
Está ouvindo as cigarras cantando?
-
Não, vô.
-
Chegue mais perto, elas estão ali.
-
Eu nunca vi uma cigarra por aqui! Será que elas ainda existem na cidade, Vô?
O avô se abaixou próximo ao banco da praça.
-
As cigarras se mimetizam, se disfarçam na folhagem e é difícil ver as
danadinhas mas sei que estão por perto. Ainda moram por aqui, sim! Se formos de
encontro ao som que emitem, talvez possamos ver a vibração de suas membranas,
que é como cantam.
O
neto se abaixou e conseguiu enfim ouvir a cigarra. Esta, com medo, parou de
“cantar”. Mas os três continuaram lá, se observando, e quando a cigarra
percebeu que o avô e neto não lhe representavam perigo, recomeçou a melódica.
Os dois conseguiram vê-la e ouvi-la direitinho desta vez.
-
Vô, como você consegue ouvir tão bem?
- Na verdade, eu não ouço mais tão bem, mas aprendi a prestar atenção ao que vale a pena ser
escutado.
E
naquele momento a criança e o velho ouviam muito bem a natureza da cidade.
-
Veja que muitos passam e poucos escutam o som das cigarras. Agora veja o que
acontece, se alguém irá ouvir este som baixíssimo...
O
avô tira do bolso e deixa cair delicadamente uma moeda na calçada.
Na
mesma hora, mesmo com a poluição sonora ao redor, várias pessoas olham para o
chão bem na direção do dinheiro.
-
Viu, não se trata de ouvir, mas de saber ouvir. Saber o que ouvir e escutar
melhor.
a partir da versão de Rona Leventhal, The Cricket
Story
Referências
Livro: Spinning Tales, Weaving Hope: Stories,
storytelling, and activities for peace, justice and the environment, 2002, New
Society Publishers, Canada, p. 201.
Post Relacionado
História real – Homem e cão (John e Shep) no lago: uma
história de amor, compaixão e retribuição
Mantenha-se conectado ao
Contar Histórias no Facebook: