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Neurociência e contar historias: O poder da comunicação 2 (parte 2 de 2)


Imagem de sobreposição de emparelhamento neural do Estudo da Universidade de Princeton (em inglês): “Emparelhamento neural falante-ouvinte baseia comunicação efetiva”.

Um relato científico-experimental sobre a conexão entre as pessoas ao compartilhar histórias


Na postagem anterior imaginamos o poder de uma pessoa projetando suas imagens mentais em outra. Imaginamos o poder de alguém adivinhando os pensamentos do outro antes deles acontecerem. Como vimos, não se trata de um estudo paranormal e sim de uma pesquisa neurocientífica conduzida pelo Dr. Uri Hasson da Princeton University e veremos agora que estas coisas não são apenas possíveis, como fazemos isso ao contar histórias.

Se na primeira parte experimentamos na prática a conexão entre os cérebros e os seus hemisférios, na segunda parte deste artigo veremos o problema da desconexão, trechos de análises da pesquisa do Dr. Hasson feitas pelas revistas Scientific American e Psychology Today, a relevância da ligação entre o contador de histórias e os seus ouvintes e o poder da palavra.

O experimento da universidade de Princeton observou que, quando a falante (fluente em russo) começou a falar em língua soviética, todos os participantes (monitorados pelo aparelho de ressonância magnética - fMRI) ouviam as suas palavras mas cada um entendia uma coisa (claro, pois nenhum dos ouvintes falava essa língua), logo, a maioria teve uma atividade cerebral diversa.
Não houve espelhamento nas imagens gravadas pelo fMRI , não houve empatia e muito menos a presciência ou previsão do conteúdo da fala.

O engraçado é que às vezes parece mesmo que o professor (ou o aluno) fala grego, a esposa (ou marido) fala russo, o email do empregado (ou do chefe) está em japonês! Pois a metáfora condiz com a realidade: os espelhamentos de ideias e sentimentos estão tão distantes que parecem ser ditos em outra língua!

Quem já foi para outro país sem falar muito bem a língua estrangeira sabe da importância de “se virar” para se comunicar, usando não apenas palavras mas corpo, emoção, expressão fácil, gestos (etc) com certeza fazendo os cérebros (mais pacientes) se espelharem ao seu até conseguir ser entendido.

Um grande desafio, similar a viagem ao estrangeiro, é o do contador de histórias: como conseguir uma ligação com o ouvinte se para este, é como se falássemos em outra língua. Isto porque não é só possível contar histórias em língua estrangeira como narramos contos ora em linguagem poética, ora com a palavra provinda da língua escrita, línguas que nem todos estão habituados a usar ou sequer entendem ou querem entender.

Por outro lado, o instigante é que, quando conseguimos, o prazer de podermos nos conectar e criar com o outro é tão especial que chega a ser (cientificamente) indescritível! – Bem, isto até algum estudo investigar e descrever os níveis de serotonina (neurotransmissor relacionado ao humor) quando a comunicação e a cooperação entre os cérebros ocorre.

Mulher conta histórias a outra representando o estudo “Speaker-listener neural coupling underlies successful communication” em artigo da revista Scientifc American.
  
Por enquanto, a prova desta conexão cerebral registrada na pesquisa da Universidade de Princeton já nos parece bem estimulante:
“Quando a falante falou inglês, os voluntários entenderam a sua história, e os cérebros sincronizaram-se. Quando ela apresentou atividade em sua insula, região no cérebro correspondente à emoção, os ouvintes também apresentaram [atividade nesta mesma região]. Quando o seu córtex frontal acendeu, os dos ouvintes assim também o fizeram.” (tradução de Fabio Lisboa para trecho de “Why Sharing Stories Brings People Together” by Joshua Gowin, Ph.D. | June 6, 2011| – Psychology Today)

“Curiosamente, em parte do cortex pré-frontal do cérebro da ouvinte, os pesquisadores descobriram que a atividade neural desta precedeu a atividade que estava prestes a ocorrer no cérebro da falante. Isto só ocorreu quando o ouvinte estava compreendendo a história plenamente e assim antecipando o que a falante iria dizer.” (tradução de Fabio Lisboa para trecho de “Of two minds: Listener brain patterns mirror those of the speaker” bR. Douglas Fields | July 27, 2010 | Scientific American)

“Ao contar histórias, a falante pôde plantar ideias, pensamentos e emoções nos ouvintes.” (tradução de Fabio Lisboa para trecho de “Why Sharing Stories Brings People Together” by Joshua Gowin, Ph.D. | June 6, 2011| – Psychology Today)

Logo, a palavra do contador de histórias é semente e as ideias, pensamentos e emoções podem criar raízes nos ouvintes.

Este é o poder das histórias. Este é o poder da palavra e da comunicação humana. Que os ouvintes atentos concedam este poder aos que narram histórias. Que os contadores de história sejam iluminados para usar este poder com sabedoria!

Referências:

Pesquisa original:
Stephens GJ, Silbert LJ, Hasson U. Speaker-listener neural coupling underlies successful communication. Proc Natl Acad Sci U S A. 2010 Aug 10;107(32):14425-30. http://www.pnas.org/content/early/2010/07/13/1008662107.full.pdf

Artigo (em inglês) Scientific American:
By R. Douglas Fields | July 27, 2010 | Scientific American

Artigo (em inglês) Psychology Today:
Why Sharing Stories Brings People Together
Our brains sync up when we tell stories.
by Joshua Gowin, Ph.D. | June 6, 2011| You, Illuminated – Psychology Today

Tabela sobre os Hemisférios Direito e Esquerdo do Cérebro

Imagens
Sincronização neural  - Uri Hasson study: http://www.pnas.org/content/early/2010/07/13/1008662107.full.pdf

Mulheres conversando representando o estudo “Speaker-listener neural coupling underlies successful communication”: iStockphoto em http://blogs.scientificamerican.com/guest-blog/2010/07/27/of-two-minds-listener-brain-patterns-mirror-those-of-the-speaker/

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1 comentários:

Anônimo disse...

muito bom FABIO!!!!!

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