Aqui você encontra a arte de contar histórias (storytelling)
entrelaçada à empatia, mediação de leitura, educação, brincar, sustentabilidade e cultura de paz.
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História: A Verdade

 Por Luís Fernando Verísssimo


Uma donzela estava um dia sentada à beira de um riacho, deixando a água do riacho passar por entre os seus dedos muito brancos, quando sentiu o seu anel de diamante ser levado pelas águas. Temendo o castigo do pai, a donzela contou em casa que fora assaltada por um homem no bosque e que ele arrancara o anel de diamante do seu dedo e a deixara desfalecida sobre um canteiro de margarida. O pai e os irmãos da donzela foram atrás do assaltante e encontraram um homem dormindo no bosque, e o mataram, mas não encontraram o anel de diamante. E a donzela disse: 

- Agora me lembro, não era um homem, eram dois.

Nasce o Natal


"Não sabemos quem baterá à porta em busca de compaixão, amor e bondade. Mas se nossa mente for controlada pelo ego e pelo egoísmo, fecharemos a porta e negaremos até mesmo ao filho de Deus um lugar para nascer. Quem sabe a quem estamos fechando a porta da compaixão? Talvez aquela pessoa esteja destinada a ser nosso salvador no futuro. Por outro lado, sempre que nos tornamos humildes, sempre que encontramos um lugar em nosso coração para os outros, lá Jesus Cristo nasce."

Amma

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Rubem Alves: Andar de manhã


Por Rubem Alves

Durante as duas últimas semanas tenho começado os meus dias cometendo um furto. Não sei como evitar esse pecado e, para dizer a verdade, não quero evitá-lo. A culpa é de uma amoeira que, desobedecendo as ordens do muro que a cerca, lançou seus galhos sobre a calçada. Não satisfeita, encheu-os de gordas amoras pretas, apetitosas, tentadoras, ao alcance de minha mão. Parece que os frutos são, por vocação, convites a furtos: basta mudar a ordem de uma única letra… Penso que o caso da amoreira comprova esta tese linguística: tudo tem a ver com o nome. Pois amora é a palavra que, se repetida muitas vezes, amoramoramoramora, vira amor. Pois não é isso que é o amor? Um desejo de comer, um desejo de ser comido… O muro, tal como o mandamento, diz que é proibido. Mas o amor não se contém e, travestido de amora, salta por cima da proibição. Foi assim no Paraíso… Os poucos transeuntes que passam por ali àquela hora da manhã talvez se espantem ao ver um homem de cabelos brancos colhendo amoras proibidas. Mas, se prestarem bem atenção, verão que quem está ali não é um homem com cerca de 70 anos, é um menino. E como o próprio filho de Deus que disse que é preciso voltar a ser menino para entrar no Reino dos Céus, colho e como as amoras com convicção redobrada. E para que não pairem dúvidas sobre a inspiração teologal do meu ato, enquanto mastigo e o caldo roxo me suja dedos e boca, vou repetindo as palavras sagradas: “Tomai e bebei, este é o meu sangue…”. Ah! A divina amora, graciosa dádiva sacramental! Começo assim meu dia, furtando o fruto mágico que opera o milagre por todos sonhado de voltar a ser criança.

Rubem Alves – Empatia: É assim que acontece a bondade



Por Fabio Lisboa

A experiência da leitura de Rubem Alves pode nos despertar para experiências cotidianas tanto menos indiferentes, desérticas, embotadas e solitárias, quanto mais enriquecedoras, cheias de vida, emotivas e solidárias. O autor nos convida a olhar o mundo com os olhos do outro. A sermos mais empáticos. Menos frios. A enxergar a história do outro, mesmo que seja triste.

Se o contador de histórias é a história que conta, e o outro também se conta (e se encontra) aí nesta mesma narrativa, podemos ser então, ao narrar, ao mesmo tempo, nós e o outro. E assim, neste espaço comum, com nossas emoções compartilhadas e nossa capacidade de buscar finais felizes, talvez possamos tornar a nossa história – e a do outro - menos triste.

Vistas por este prisma, narrativas podem mesmo iluminar quem está na escuridão? Podem ensinar algo a quem não quer nem saber? Acredito, como Rubem Alves, que as palavras podem, sim, ser capazes de alegrar e trazer a primavera até para as areias e gelo... E quando isso acontece...

É assim que acontece a bondade
Por Rubem Alves

Rubem Alves: Homenagem à Amizade


Por Rubem Alves

Lembrei-me dele e senti saudades... Tanto tempo que a gente não se vê! Dei-me conta, com uma intensidade incomum, da coisa rara que é a amizade. E, no entanto, é a coisa mais alegre que a vida nos dá. A beleza da poesia, da música, da natureza, as delícias da boa comida e da bebida perdem o gosto e ficam meio tristes quando não temos um amigo com quem compartilhá-las. Acho mesmo que tudo o que fazemos na vida pode se resumir nisto: a busca de um amigo, uma luta contra a solidão...

Importância dos Pés, da Boca e das Histórias - e da nossa torcida pelo Brasil - em tempos de copa


Por Fabio Lisboa

A importância dos Pés

Esta o escritor e teólogo Leonardo Boff nos conta muito bem:

"Sem os pés não teríamos o futebol para o qual os pés são tudo. É o esporte mais criativo, diverso e mobilizador que existe. É uma metáfora do que melhor podemos apresentar: a combinação feliz do desempenho do indivíduo com a cooperação do grupo. Pode ser uma verdadeira escola de virtudes: autodomínio, tranquilidade, gentileza e capacidade de perdão ao não retrucar ponta-pé com ponta-pé. Porque somos humanos, às vezes tal coisa pode acontecer. Mas não é permitida. O jogador é advertido, punido com cartão amarelo ou vermelho e até pode ser expulso.

Estrelas cadentes podem realizar desejos

Eta Aquarídeos registrados em 2013 na Austrália pelo astrofotógrafo Colin Legg
Estrelas cadentes podem, sim, realizar desejos. Principalmente se o seu desejo é ver estrelas cadentes e você não mora numa cidade encoberta pela poluição, pela luminosidade excessiva e está lendo isto no tempo certo (duplamente) - ou seja, em noites com o céu aberto e na primeira semana de maio de 2014. Neste período,  rastros do cometa Halley, 28 anos depois de sua passagem 56 milhões de quilômetros rente ao nosso planeta, voltam a cair na Terra criando um chuva de meteoritos, mais poeticamente conhecidos como estrelas cadentes.
  
Mas se não estiver lendo este post no “tempo certo” e nem na cidade certa saiba que você também pode enxergar estrelas cadentes, realizar desejos e até desanuviar um céu nublado. E tudo começa com uma história.

Por que contar histórias antes de dormir? (2ª parte)


Uma resposta simples e quatro ensinamentos

A resposta aparentemente simples está na 1ª parte desta postagem, cujo clima pode ser retomado quando...

(...) o estrado parava de ranger, o quarto de subir e descer, o colchão deixava de cumprir a função de pula-pula e enfim, a cama voltava a ser cama. Elástica, começava a ficar a nossa mente. Com a nossa imaginação pegando carona em camelos atravessando desertos, com crianças desbravando florestas e em foguetes indo para o espaço conseguíamos esticar pra longe o nosso olhar e ao mesmo tempo nos ver mais de perto. Ao enxergar quem éramos, a nos sentir parte de algo maior e maravilhoso, aos poucos, calmamente, dormíamos. Sim, contar histórias serve para fazer as crianças dormirem.

Mas o leitor atento já reparou que, a partir desta resposta pessoal um pouco mais elaborada, contar histórias serve, no mínimo, para ensinar mais quatro coisas:

Por que contar histórias antes de dormir?


Uma resposta aparentemente simples...

A resposta simples seria: contar histórias serve para fazer a criança dormir, ora! Quando criança, ao ouvir o fatídico chamado “hora de dormir”, eu obedecia na hora pois adorava pular para a cama. Bem, o mais correto seria dizer que eu adorava pular na cama. Na vertical! E a alegria de se imaginar um atleta olímpico na “cama elástica” e desafiar os pais não tem hora.
Bem, acredito que a infância desafiadora e saltitante não tenha mudado muito nestas poucas dezenas de anos (talvez com exceção dos “duplo twist carpados em 3D” e outros saltos “kinécticos” que não existiam até então).

Mas os pais continuam tendo o poder de impedir que as camas desmontem antes da criança completar 6 anos. Uns impõe sua autoridade pela lei do mais forte, pelo corte de algum prazer sensorial como ficar sem sobremesa (ou TV) ou então pela recompensa. No quesito recompensas sensoriais, alguns pais oferecem chocolates e doces (infalíveis, claro, mas obviamente nada educativos nem tampouco saudáveis) como moeda de barganha. Todavia, este tipo de escambo é inegociável quando se tem uma mãe nutricionista, então, por mais que eu e meu irmão tentássemos, a mínima cota diária de doce raramente era ampliada ­- e nunca para impedir nossos saltos quase-mortais.

No entanto, a recompensa que minha mãe oferecia era insuperável. Tinha mil formas, mil sabores, em mil mundos diferentes com mil sóis brilhantes. Podia ser na forma simples de uma casinha no meio da floresta, um abrigo que acolhe meninos e meninas perdidos na mata. E essa casinha, podia ser muito mais doce do que uma barrinha de chocolate porque a casa inteira era feita de doces... afinal, podia ser a casa da bruxa de João e Maria!

História real: Herói da Floresta

Castanheira-do-Brasil por Clovis Miranda-WWF-Brasil
O castanheiro que não pode ser silenciado

Tentaram enterrar as suas palavras. O que podemos fazer para não silenciar o herói? De uma cobertura vegetal de 85% de floresta nativa (1997), resta pouco mais do que 20% (2011) na área em que José Carlos Ribeiro viveu e plantou vida, a vida toda.

“É um desastre para quem vive do extrativismo como eu, que sou castanheiro desde os 7 anos de idade, vivo da floresta, protejo ela de todo o jeito. Por isso eu vivo com a bala na cabeça (...).”

Árvore e ofício de vida: Castanheiro. O homem gostava de ser chamado pelo mesmo nome de suas “irmãs”: castanheiras-do-Brasil. E se às vezes esquecemos que somos todos parte da família da Terra, se estamos surdos para ouvir os suplícios da vida vegetal do planeta, ele não. Se as vidas ancestrais da Amazônia (e das cidades), destroçadas pela nossa ganância pelo novo, não podem gritar por socorro, ele falava por todos e todas.