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entrelaçada à empatia, mediação de leitura, educação, brincar, sustentabilidade e cultura de paz.
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Contar Histórias e Cultura de Paz

Foto: Bianca Tozato
 

Contar histórias e a paz: juntos, a gente faz! com Fabio Lisboa

 

Data e horário: 17/12/23 - 11h

Local: Biblioteca do Sesc Jundiaí

Entrada Grátis. Classificação: Livre para qualquer idade

 

Era uma vez um homem muito poderoso da Pérsia, um Xá que, carrancudo e severo com o povo, queria encontrar uma pessoa realmente feliz em seu reinado. Disfarçado, encontra o Sapateiro Feliz. No entanto, o põe à prova, tentando fazer com que não se sinta mais feliz tirando-lhe o que lhe faz assim, enquanto o humilde - e sábio - sapateiro procura apenas ser criativo para continuar vivendo a sua vida “um dia depois do outro, na paz.”

 

Ao recontar um de seus contos favoritos, o autor e contador de histórias Fabio Lisboa mescla recursos simples da oralidade com sutilezas da literatura para abordar temas como tradição oral, cultura de paz, mudança de paradigma, perseverança e o poder das palavras. Ao escolher as histórias dessa sessão, o contador oferece aos ouvintes “histórias que nos transportam para outro tempo e espaço e, mesmo de lá, talvez nos transformem, no aqui-agora e daqui em diante, até percebermos que, juntos, a gente faz a paz”.

História zen: O templo sem portas

Foto: Omar Sherif


Reconto por Fabio Lisboa

Numa região distante, num tempo em que as portas, se existissem, ficavam abertas, o monge foi interrogado por um forasteiro:

- Por que este templo não tem portas?

- Pra que todos possam entrar e o templo esteja sempre aberto - explicou, calmamento, o monge.

- Mas pessoas indesejadas podem entrar, ladrões, por exemplo - insistiu o recém-chegado curioso viajante.

- Não há nada o que roubar. Muito menos a nossa paz de espírito. Tudo o que ganhamos de valor material doamos imediatamente aos necessitados.

- E se vierem bagunceiros, arruaceiros, alguém que grite, lhes insulte, fale insistentemente durante a leitura ou meditação, alguém que roube a paciência de vocês, o que farão?!

- Neste caso nós simplesmente ignoramos e a pessoa vai embora.

O forasteiro pareceu não compreender as palavras, levantou o tom de voz e continuou indagando.

O monge se limitou a ignora-lo e sorrir. O viajante, enfim, se cansou e saiu do templo.

O monge o chamou de volta e disse:

- Viu, funciona!

História da tradição oral recontada por Fabio Lisboa

Temas: Contação de Histórias, Tradição Oral, Mediação de Leitura, Cultura de Paz, CNV - Comunicação Não-Violenta, Storytelling, Ahimsa.

Foto: Bali, Indonesia, por Omar Sherif - licença free use by Unsplash


História: Nasrudin e o valioso papagaio

Foto: unsplash (copyrights free): Zdnek Machacek 

 

Conto da Tradição oral recontado por Fabio Lisboa

 

Além de contar histórias, Nasrudin amava pássaros. Em sua época, um pouco depois do “tempo em que os animais falavam”, as pessoas iam ao souq, ao mercado livre, para vender aves engaioladas.

 

O Mulá Nasrudin não gostava disso. Mas de vender, ele gostava! Então juntava suas duas paixões: vendia aves livres. Eram as mais caras do mercado. Mas isso não importava para ele - e nem para os seus clientes: o mulá era o que mais vendia pois as pessoas ficavam encantadas com os pássaros e também com o entusiasmado discurso de Nasrudin.

 

No entanto, um dia, o vizinho de Nasrudin apareceu com um pássaro tão maravilhoso quanto seu discurso:

- Vejam todos, este pássaro sabe voar livremente, como os de Nasrudin! Tem as penas lindamente coloridas de verde brilhante. Mas sua beleza não é só exterior. Ele é inteligente. E sabe falar! E não é só isso. Sabe contar historias! E quando voa livremente, ao retornar, conta de suas lindas viagens pelo céu e encanta a quem o escuta. Ele custa apenas 1.000 dinares.

História Real: Malala Yousafzal

Por Fabio Lisboa

Tentaram silenciar Malala de uma vez por todas. Em 2012, com 15 anos, a menina seguia em um ônibus escolar quando foi baleada na cabeça. Falharam. Ela ficou em coma por 3 dias mas se recuperou totalmente e continua defendendo o direito às meninas paquistanesas de estudar.

"Extremistas mostraram o que mais os amedronta: uma menina com um livro." Malala Yousafzai

Fazer os humanos mais humanos


Uma história real e reflexões sobre contar histórias, aproveitar o tempo e nutrir os filhos de afeto enquanto ainda é tempo

"Siga sua lenda, não perca tempo."
Geofrey Chaucer

"Contar histórias desperta a confiança da criança - bem no fundo de cada um de nós vive uma matriz nutridora de segurança e calor. No reino das histórias podemos explorar e afirmar as mais altas e melhores qualidades que sentimos com os cuidados maternos e recriar esse ideal impecavelmente sábio, belo e generoso."
Nancy Mellow

Por outro lado, em oposição à descrição de "Boa Mãe" de Nancy Mellow, ao abdicar de contar histórias, ao não ser generosos a ponto de doar uma boa porção de nosso tempo integralmente aos filhos, deixamos de lhes apresentar ideais de beleza, sabedoria, e de lhes prover de coragem para enfrentar os momentos de solidão. Não compartilhar momentos de entrega total ao seu mundo lúdico como fazemos ao contar histórias e brincar, é como deixá-los em meio à desertos afetivos, sem provê-los de elementos essenciais à sobrevivência humana em ambientes amorosamente isolados ou emocionalmente inóspitos.

História: Um bom lugar para construir um templo

  
Tradição oral - Reconto: Fabio Lisboa

 Deus estava à procura de um local sagrado para que ali se construísse um templo. Em Jerusalém, observou dois irmãos que colhiam trigo. Nesses dias, há mais de 4 mil anos, esses dois homens simples do campo presenciariam um milagre.

História: O Anel do Rei e a Justiça

História da tradição oral – reconto: Fabio Lisboa

Era uma vez, há muito tempo na África, no reino Monomotapa, um rei que era conhecido por buscar sempre a justiça e a verdade. Esse rei possuía um anel poderoso. Diziam que com o anel o rei podia enxergar a verdade até mesmo por trás de palavras falsas. E com a ajuda do poder do anel, a justiça sempre saia triunfante.

O anel havia sido forjado por artesãos de outros tempos e acompanhava os reis desde então. Era feito de ouro do rio Nilo, incrustrado com adornos de prata do rio Congo e cravejado de diamantes do rio Zambezi. O anel, assim como rei, representava a união de várias tribos da África, em especial das regiões que hoje conhecemos como Zimbábue e Moçambique.

Os chefes espirituais das várias tribos, que eram os responsáveis pela escolha do rei Monomotapa, viviam em certa harmonia, com exceção de Roswi, que não havia escolhido aquele rei, que questionava o seu poder e cobiçava o seu anel.

História: Dois irmãos e um muro


História recontada por Fabio Lisboa

José e João eram dois vizinhos que viraram amigos muito próximos. Tão próximos que se consideravam irmãos. Tão próximos que pegavam emprestado as ferramentas da roça um do outro. Mas se um pegava uma foice, devolvia-a amolada. Se o outro pegava o rastelo com o cabo frouxo, devolvia-o com um cabo novo. Sempre trocando palavras e gestos de gentilezas e sabendo oferecer, quando preciso, não só uma mãozinha, mas perdão. Infelizmente, não no episódio da cabra sem dono.

História: Saber ouvir


Era fim de tarde e o avô passeava com o neto por uma das movimentadas praças da barulhenta cidade em que viviam.

Havia o barulho de pessoas, celulares, carros, ônibus, buzinas, sirenes, construções.

- Está ouvindo as cigarras cantando?

- Não, vô.

- Chegue mais perto, elas estão ali.

- Eu nunca vi uma cigarra por aqui! Será que elas ainda existem na cidade, Vô?

O avô se abaixou próximo ao banco da praça.

- As cigarras se mimetizam, se disfarçam na folhagem e é difícil ver as danadinhas mas sei que estão por perto. Ainda moram por aqui, sim! Se formos de encontro ao som que emitem, talvez possamos ver a vibração de suas membranas, que é como cantam.

O neto se abaixou e conseguiu enfim ouvir a cigarra. Esta, com medo, parou de “cantar”. Mas os três continuaram lá, se observando, e quando a cigarra percebeu que o avô e neto não lhe representavam perigo, recomeçou a melódica. Os dois conseguiram vê-la e ouvi-la direitinho desta vez.

- Vô, como você consegue ouvir tão bem?

- Na verdade, eu não ouço mais tão bem, mas aprendi a prestar atenção ao que vale a pena ser escutado.

E naquele momento a criança e o velho ouviam muito bem a natureza da cidade.

- Veja que muitos passam e poucos escutam o som das cigarras. Agora veja o que acontece, se alguém irá ouvir este som baixíssimo...

O avô tira do bolso e deixa cair delicadamente uma moeda na calçada.

Na mesma hora, mesmo com a poluição sonora ao redor, várias pessoas olham para o chão bem na direção do dinheiro.

- Viu, não se trata de ouvir, mas de saber ouvir. Saber o que ouvir e escutar melhor.
  
Conto traduzido e recriado por Fabio Lisboa
a partir da versão de Rona Leventhal, The Cricket Story

Referências
Livro: Spinning Tales, Weaving Hope: Stories, storytelling, and activities for peace, justice and the environment, 2002, New Society Publishers, Canada, p. 201.

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História: A faca do rei



Conto da tradição oral recontado por  Fabio Lisboa

No tempo em que caçadores usavam facas para caçar e reis usavam facas para colecionar, houve uma grande festa reunindo diversas vilas do reinado. O caçador do vilarejo mais distante também foi à festa.

Os convidados deste local periférico levaram dois dias para chegar e graças ao caçador puderam se alimentar de carne fresca durante a viagem. Ele era um homem quieto, saía cedo para caçar e voltava tarde, quase sempre trazendo algo de bom que dividia com todos, obviamente ficando com uma generosa parte da caça para ele mesmo. E os conterrâneos do caçador o queriam bem por ele ser assim.

Durante as festividades houve um farto banquete e todos cantaram e dançaram – com exceção do caçador da vila distante que preferiu ficar apreciando a coleção de facas do rei. O homem gostou muito de uma das facas - justo a preferida do rei - que era muito afiada e toda ornamentada, com o cabo esculpido em madeira e cravejado de garras e dentes de predadores selvagens. Acontece que quando todos foram embora da festa a faca preferida do rei sumiu.

História: Os Gravetos da Discussão

Foto: Donald Vish – Iroquois Woods



Conto Iroquês recontado por Fabio Lisboa

Os antigos indígenas iroqueses tinham o costume de usar os gravetos da discussão para resolver conflitos.

Um dia, há muito tempo, dois garotos iroqueses discutiram tanto que quase chegaram a se estapear por causa da sua acalorada argumentação.

Cada pai de cada garoto tomou o partido de seu filho e uma antiga amizade entre as famílias estava prestes a se esfacelar. Os adultos que se envolveram na discussão estavam quase pegando em armas para decidir quem estava com a razão.

As avós dos garotos se lembraram que a disputa deveria ser decidida pelos gravetos da discussão. Na montanha.

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Foto: shutterbug_iconium

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História: Dois bodes cooperativos e uma ponte estreita


por Fabio Lisboa

De um lado da ponte um cooperativo. Um bode. Com patas fortes e flexíveis o suficiente para subir montanhas, desviar de pedras e não cair de pontes sinuosas. Do outro lado da ponte, outro cooperativo. Outro bode. Com outras patas fortes e flexíveis.

Os dois queriam conhecer um novo horizonte do outro lado da ponte. Só que a ponte era estreita, escorregadia e sinuosa. Mas os dois bodes gostavam de ajudar os outros. E naquele dia os bodes acordaram com o nascer do sol e tentaram a sorte. Como o sol nasce pra todos daquele lugar na mesma hora, os dois cooperativos chegaram bem na mesma hora. Sorte a deles!

História: Dois bodes cabeça-dura e uma ponte estreita



Recontada por Fabio Lisboa

De um lado da ponte um cabeça-dura. Um bode. Com aqueles chifres bem duros grudados na cabeça. Do outro lado da ponte, outro cabeça-dura. Outro bode. Com outros chifres inflexíveis que não saiam da sua cabeça.

Os dois queriam conhecer o horizonte do outro lado da ponte. Mas a ponte era estreita e escorregadia. E os dois birrentos. E briguentos. E todos os dias os bodes acordam com o nascer do sol e tentam a sorte. O problema é que, como o sol nasce pra todos daquele lugar na mesma hora, os dois teimosos chegam sempre na mesma hora. Azar, neste dia, como em muitos outros:

Um cabeça-dura começa a dura travessia pela estreitíssima ponte.

Do outro lado, ao mesmo tempo, o outro cabeça-dura começa a dura travessia no estreitíssimo sentido oposto.

Contação de histórias: encontro intergeracional e intercultural pela paz



Para viver a paz e descobrir as coisas mais importantes da vida não basta contar histórias, é preciso ouvir as crianças 
Começo a escrever este post no dia 11 de setembro de 2001 querendo fazer os sentimentos de medo, impotência e incompreensão que há 10 anos me paralisaram e continuam assombrando o planeta neste período, virarem coragem, poder de ação, tolerância e entendimento.

Para operar esta mudança de pensamento, a experiência mais marcante que me lembro nos últimos tempos foi a da confraternização entre crianças, jovens e adultos, entre judeus, muçulmanos e cristãos que aconteceu na Livraria da Vila, dia 28-08-11, no lançamento de dois livros de Mônica Guttmann.

O trabalho de arte-terapia e os livros da Mônica vem com um calorzinho gostoso no peito como um abraço. Talvez por isso o seu personagem Armando, que tenta entender e se livrar do sentimento de rejeição abrace as palavras de seu próprio livro.

Mãos procuram mãos

Meu sangue está nas suas mãos. Eu não mato vocês. Vocês me mataram. Vocês me mataram quando eu tinha 5 meses antes de nascer. Quando eu chorava sem lágrimas, vida indesejada. Quando eu tinha um ano e só sabia chorar. Quando eu tinha 5 anos aprendi a chorar bem alto. Quando eu tinha 15 anos aprendi a chorar quieto, enquanto por dentro, vivia em prantos.

Você me matou desde o dia em que, da única vez que falei e perguntei seu nome, você riu de mim. Vocês, meninas, me mataram quando riram de mim porque eu era quem eu era. Mas quem eu era? Não sei.

Eu achava que você riam de mim porque eu vim de onde eu vim... Mas de onde eu vim? Não sei... talvez de uma mãe que não me quis... Eu vim de um lugar que não me queria dentro do seu corpo. Nenhuma mulher me quis dentro do seu corpo, quando dentro do coração bastava.

Quando encontrei uma mãe que me queria eu não sabia como querer, eu não sabia como amar. Para os meus irmãos era tão fácil amar. Tão fácil me acharem estranho. Em qualquer lugar era fácil me acharem estranho, principalmente na escola.

Por que não inventaram uma escola de amar?