Aqui você encontra a arte de contar histórias (storytelling)
entrelaçada à empatia, mediação de leitura, educação, brincar, sustentabilidade e cultura de paz.

Feira de Livros da USP


Começa hoje (24/11/10) a tão esperada Feira de livros da USP da FFLCH (Fefeletchi) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Livros com descontos de 50%!
QUANDO: de quarta a sexta-feira, dias 24, 25 e 26 de novembro, das 9h às 21h.

ONDE: Prédio da Faculdade de Geografia e História da USP - Av. Professor Lineu Prestes, 338 – Cidade Universitária – São Paulo.

QUEM: Algumas boas editoras como Cia das Letras, Moderna, Salamandra, Scipione, Ática, Melhoramentos e WMF Martins Fontes não participam. Mas não vão faltar boas editoras como Cosac Naify, Martins (Martins Fontes), Peirópolis, Brinque-Book, Global, Nova Fronteira, Paulinas, Palas Athena, Conrad e as universitárias como Edusp!

Vale a pena visitar a Feira com uma pré-seleção e uma listinha no bolso antes de sair comprando leituras que não cabem numa vida (rs)... Algumas dicas bacanas de livros infantis você encontra no link do Instituto IAB na seguinte postagem 600 livros antes de entrar para a escola: as crianças dão conta?

Veja abaixo quais as editoras participantes da 11ª Festa do Livro da USP:

7 LETRAS
AEROPLANO EDITORA E CONSULTORIA LTDA
ALAMEDA CASA EDITORIAL
ALEPH
ALFA/ÔMEGA
ANNABLUME
ANPOCS - SUMARÉ
ASSOCIAÇÃO EDITORIAL HUMANITAS
ASSOCIAÇÃO SCIENTIAE STUDIA
ATELIÊ EDITORIAL
ÁTOMO E ALÍNEA
AUTÊNTICA EDITORA
AUTORES ASSOCIADOS
AZOUGUE
BARCAROLLA
BARRACUDA
BERLENDIS & VERTECCHIA EDITORES
BIRUTA
BOITEMPO EDITORIAL
BRASILIENSE
BRINQUE-BOOK
CALLIS
CAPIVARA
CASA DA PALAVRA EDITORA
CIRANDA CULTURAL
CONRAD
CONTRAPONTO
COSAC NAIFY
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA DA USP
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DA USP
DEPARTAMENTO DE LITERATURA COMPARADA DA USP
DISCURSO EDITORIAL
EDIÇÕES PINAKOTHEKE
EDIFIEO - EDITORA DA FUND. INSTITUTO DE ENSINO OSASCO
EDITORA 34
EDITORA ANGRA
EDITORA BECA
EDITORA BEM-TE-VI
EDITORA BOSSA NOVA
EDITORA COM-ARTE
EDITORA DA UFJF
EDITORA DA UFPR
EDITORA DA UFSCAR
EDITORA DA UNESP
EDITORA DA UNICAMP
EDITORA FIOCRUZ
EDITORA FRANCIS/LANDSCAPE
EDITORA GIORDANO
EDITORA GIRASSOL
EDITORA GLOBO
EDITORA HORIZONTE
EDITORA HUCITEC
EDITORA ÍBIS
EDITORA LAZULI
EDITORA LEXOR
EDITORA MEMORIAL
EDITORA NOVA AGUILAR
EDITORA NOVA FRONTEIRA
EDITORA OURO SOBRE AZUL
EDITORA PAPAGAIO
EDITORA PUBLIFOLHA
EDITORA UEL - EDUEL
EDITORA UEPG
EDITORA UFF
EDITORA UFMG
EDITORA UFRJ
EDITORA UFSC
EDITORA UNB
EDITORA VIA LETTERA
EDUC - EDITORA DA PUC/SP
EDUERJ
EDUSC
EDUSP
EDUSP - SALDÃO
ESCRITURAS
ESTAÇÃO LIBERDADE
FONDO DE CULTURA ECONÔMICA
FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO
GARAMOND
GIRAFA
GLOBAL E GAIA EDITORA
HEDRA/CARRENHO
HUMANITAS-FFLCH/USP
IEA - USP
IEB
ILUMINURAS
IMAGINÁRIO
IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO
INSTITUTO MOREIRA SALLES
INSTITUTO PIAGET
LANDY
LEITURA MÉDICA
LÍNGUA GERAL LIVROS
LIVRARIA DUAS CIDADES
LIVRARIA EDUEM
MARTINS EDITORA
MUSA COMERCIAL
MUSEU PAULISTA
NANQUIM EDITORIAL
NOVA ALEXANDRIA
ODYSSEUS
OFICINA DE TEXTOS
PALAS ATHENA
PALLAS
PANDA BOOKS
PAPIRUS
PAULINAS EDITORA
PAULUS
PAZ E TERRA
PEIRÓPOLIS
PERSPECTIVA
PRÊMIO EDITORIAL
REVISTA USP
ROSARI
SÁ EDITORA
SUNDERMANN
TERCEIRO NOME
TERRA VIRGEM
VEREDAS
VIEIRA & LENT
XAMÃ
ZOUK
 

História: O Céu e o inferno - O monge e o samurai

Dedicação ao ensino, coragem e compaixão

A vida do samurai andava um inferno.

Dúvidas sobre o Bushido lhe atormentavam. Para ter paz, precisaria aprender mais sobre um dos princípios deste código dos samurais.

O guerreiro precisava aprender sobre compaixão. Ele nunca teria paz se vivesse apenas pela coragem e disciplina. A compaixão era um dos valores que norteavam o caminho do cavaleiro, o Bushido[1].

Aquele samurai se perguntava se não teria desviado do caminho ao cortar cabeças indefesas e não ajudar inimigos em dificuldades. Teria ele perdido o poder da compaixão? Teria ele perdido a honra? Por que sua vida estava um inferno e como seria alcançar o céu?

As dúvidas levaram o guerreiro em busca de um local sagrado – na esperança de encontrar um mestre que o tirasse de seu inferno e lhe ensinasse o que era o céu. Enquanto ia se aproximando do templo zen budista os lavradores se afastavam daquele homem.  Chegando lá, o samurai exigiu ser levado à presença do monge chefe. Este ensinava na cozinha. O homem armado de espada ouviu os ensinamentos do outro, armado de uma colher. O mestre[2] ensinava os aprendizes sobre a importância de transformarem em prática o pensamento zen. A importância de praticarem de fato o que quer que fossem ensinar. O mestre zen parou de falar e com sua colher remexeu cuidadosamente o cozido de legumes na panela. Voltou a falar do aspecto sagrado de cada ação cotidiana, que a prática da preparação diária do alimento é a mesma prática do caminho da iluminação.

“Pense que as panelas são você mesmo... Veja que a água é a sua própria vida...”[3]

E voltou a mexer o cozido, borrifando temperos que ao caírem na panela exalaram vapores aromáticos...

Só que o samurai não queria saber de prática de “mestre cuca” coisa nenhuma! Ele não queria perder tempo da sua “busca espiritual” com futilidades diárias como culinária. Rompeu o silêncio dos vapores:

- Mestre: quero que me ensine sobre a compaixão. Quero que me ensine sobre o céu e o inferno.

O monge olhou longamente para o samurai. Reparou em seu calçado enlameado, em sua espada embainhada, em sua mente inquieta.

- Você não vai encontrar o que busca. Como posso ensinar a pureza e a beleza da compaixão a um homem com a bota, a espada e a mente completamente sujas? Sua presença deixa este templo feio e sujo. Seria melhor que saísse daqui agora!

O sangue do samurai se aqueceu mais rápido do que as panelas e em dois movimentos ele desembainhou a espada e preparou o ataque certeiro que faria rolar a cabeça daquele monge que desrespeitava a honra de um cavaleiro que, por sua vez, se afundaria ainda mais em seu inferno.

O monge permaneceu parado e quieto, mirando o outro com profundidade. Com a espada viajando pelo ar a poucos centímetros do seu pescoço, disse:

- Espere. Agora você já sabe o que é o inferno. Isto é o inferno!

O astuto espadachim fez parar sua katana[4] antes dela atravessar a pele. Ficou espantado com a coragem e dedicação do mestre ao ensinar. O monge colocava suas palavras e sua própria vida à serviço do outro. Entendeu que a sua maior desonra não seria receber um insulto e sim praticar um ato violento.

O desejo de paz invadiu o guerreiro. Uma onda de compaixão o arrebatou.

O monge, enfim, enxergou o olhar iluminado e compassivo do samurai:

- Agora você já sabe o que é compaixão. Isto é o céu.

Recontada por Fabio Lisboa



Referências

Ilustrações: Paulinho Ramos e Pintura tradicional japonesa sem identificação (a não ser para quem sabe ler ideogramas) Fonte: http://www.painandpower.blogger.com.br/2003_10_19_archive.html.

Leituras sugeridas:
MARTINELLI, Marilu – Aulas de transformação: o programa de educação em valores humanos - São Paulo, Ed Peirópolis, 1996
NITOBE, Inazo – Bushido:  Alma de samurai – Ed. Tahyu, 2005
RÔSHI, Shundo Aoyama – Para uma pessoa bonita – contos de uma mestra zen – trad. Tomoko Ueno -São Paulo: Palas Athena, 2002, p. 28.

História selecionada para o Projeto ABC: Aprender, Brincar, Cuidar

Consulte:
Postagem introdutória sobre o projeto
Histórias selecionadas e relacionadas ao projeto.

Mais informações sobre os parceiros idealizadores e realizadores do projeto ABC: Aprender, Brincar, Cuidar:



[1] Bushido – Código de conduta (não escrito, passado de pai para filho) dos samurais. Segundo Inazo Nitobe, Bu – shi – do significa literalmente: militar-cavaleiro-caminhos. Descrição oral dos caminhos (princípios morais) que o cavaleiro (nobre soldado) deve observar em sua vida diária. Os preceitos do cavaleiro.
[2] Esta parte da história é recontada aqui po r Fabio Lisboa com base nos ensinamentos do Mestre Dôgen (1200 -1253), fundador da escola Soto- Zen do Japão.
[3] RÔSHI, Shundo Aoyama – Para uma pessoa bonita – contos de uma mestra zen – trad. Tomoko Ueno -São Paulo: Palas Athena, 2002, p. 28.
[4] Katana (em japonês pronuncia-se kataná): Nome mais conhecido da espada samurai (longa, cuja lâmina é côncava e mede aproximadamente 60cm).

Limites na educação: sem limites para o amor


Caminhando juntos para os aprendizes andarem por si sós

- Como meus filhos vão aprender a ter limites? Como meus alunos vão aprender a respeitar uns aos outros? O quanto eu devo interferir, pedir, impor, andar junto, amar...?

O professor era aprendiz.  O aprendiz pedia aconselhamento a seu mestre - e pai. Pai e filho andavam descalços à beira do mar. O filho, formado há poucos anos,  já andava com a mente cansada e o corpo debilitado ao fim de seu quinto ano no corpo docente.

Os sinais de estresse já atingiam todo o corpo: no coração hipertensão de raiva profundamente acumulada, na pele já protuberava coceira do vício da indiferença, pressão generalizada dos prazos escassos e conteúdos extensos oprimiam todos os órgãos, as pernas trêmulas mal sustentavam o peso das ameaças, os olhos inchados eram prova de insônia, os sonhos perderam o nexo e com isso os pés andavam embaralhados sem rumo.

Os pés do mestre andavam firmes. Pararam. Os do aprendiz o acompanharam. O filho sabia que logo teria que voltar a caminhar sozinho e queria aproveitar estes momentos de proximidade com o seu pai.

O pai estava preocupado com o estado físico e psíquico do filho mas feliz por estarem de férias (ele para sempre, professor aposentado), andando ao lado do mar, tentando deixar os medos para trás, compartilhando angústias e sonhos...

O filho precisava mesmo de férias. Mas também de foco. De exemplo. De força. De passos compassados lado-a-lado. E de afeto.

Primeiro um abraço. - Eu também já me senti assim, filho - mesmo lecionando numa época em que a palavra estresse ainda não habitava os dicionários. Os dois sentem que a angústia dividida fica menos angustiada. E a esperança dividida fica mais esperançosa. Agora as esperançosas ideias do pai chegam ao filho com a mente calma, calmamente, relembrando ações e buscando palavras de mestre:

- O professor deve ser sempre o exemplo de suas próprias palavras...

Eu sempre tentei ser para os meus alunos o que eu fui para você, filho:
Eu sempre te amei nos tempos de notas altas ou baixas, e assim eu te ensinei a amar.
Eu sempre te ouvi nos tempos de riso ou choro, e assim eu te ensinei a ouvir.
Eu sempre te mostrava e respeitava os seus limites, e assim eu te ensinei a respeitar os limites dos outros.
Em qualquer tempo, com você, eu sempre ensinei e sempre aprendi.

E vejo que com suas perguntas aqui no meio das areias de nossas férias, que isso você aprendeu: o professor deve ser sempre aprendiz.

- Aprendi e vou continuar aprendendo sempre com você, pai, mas não sei se sei mesmo ensinar...Pai, não sei ensinar nem meus alunos a terem limites e eles estão me deixando louco...

- Quer saber como seus alunos vão aprender a ter limites?

O mestre abaixou e pegou um punhado de areia nas mãos. Começou a apertar a própria mão cheia de areia. Muitos grãos foram escorrendo, fugindo de sua mão e caindo...

Os grãos que ficaram estavam comprimidos num pequeno montinho. O pai falou:

- Limites muito estreitos, muito rígidos, poucos aguentam, muito escapam e os que ficam não sabem o que fazer sem esta mão autoritária.

O pai voltou a agachar, afundou a mão na areia e desta vez levantou-a com a palma aberta. Muita areia escorreu entre os seus dedos e muitos grãos voaram com o vento...
- Sem limites, sem regras, poucos aguentam, muitos escapam e os que ficam a qualquer momento voam sem destino com o vento nesta mão indiferente.

Pela terceira vez o sábio professor abaixou, pegou um punhado de areia nas mãos formando, então, uma concha aberta:

- Limite equlibrado. Sua mão em concha protege as areias do vento, não comprime os grãos uns contra os outros. E deixando a concha aberta você mostra que o mundo é maior do que a sua concha, que no momento certo eles vão poder ir além dos seus limites, vão poder caminhar sozinhos e quem sabe até chegar ao mar...

Naquele instante uma onda mais forte chegou até pai e filho. O pai jogou a areia que segurava e elas sumiram nas águas.

O filho abaixou e ficou brincando com os grãos nas mãos até fazer uma concha aberta. Levantou com os olhos, mãos e com o corpo todo. Os pés alinharam-se em direção ao horizonte marinho. Esperou a onda voltar a seus pés e jogou a areia que se juntou às águas.

- Pai, o quanto eu devo amar os meus alunos?

- O mesmo tanto que deve amar os seus pais, os seus futuros filhos, os seus falecidos avós, a sua casa, os seus vizinhos, o seu planeta e os seus infinitos irmãos.

Os dois mestres olharam para o mar sorrindo e continuaram caminhando lado-a-lado por mais algum tempo.


História selecionada para o Projeto ABC: Aprender, Brincar, Cuidar, recontada por Fabio Lisboa.

Consulte:
Postagem introdutória sobre o projeto
Histórias selecionadas e relacionadas ao projeto.

Foto: Tina

Mais informações sobre os parceiros idealizadores e realizadores do projeto ABC: Aprender, Brincar, Cuidar: