Aqui você encontra a arte de contar histórias (storytelling)
entrelaçada à empatia, mediação de leitura, educação, brincar, sustentabilidade e cultura de paz.

História: O Filósofo e o Elefante Acorrentado

recontada por Fabio Lisboa http://www.contarhistorias.com.br/

Essa história se passa no tempo em que os animais eram comercializados pelo seu irmão, o homem. No tempo em que os seres (não humanos) eram também presos em jaulas e viravam atrações de circo.


Essa história se passa com aquele filósofo que (como o filósofo da história que conterei em seguida) gostava de se perguntar (e fazer as pessoas pensarem) sobre os porquês da vida.

Ao assistir o espetáculo no circo, o filósofo não parou de pensar no destino dos artistas (bichos humanos e bichos não humanos). Com “destino” o filósofo queria dizer: de onde vem, pra onde vão, por que estão aqui?

O que mais o intrigou foi o destino do elefante, que levantou o domador com a tromba e empurrou um caminhão. Terminado o show, o filósofo quis saber que tipo de jaula conseguiria deter tamanho poder.

Quando encontrou o domador, ficou surpreso ao ver o elefante preso a uma corrente, que por sua vez ficava amarrada numa estaca presa ao chão.

É claro que seria muito fácil para o elefante se livrar daquela situação arrebentando a corrente ou arrancando a estaca do chão. Mas por que ele ficava lá?

Pensou se seria pela amizade com o bicho-homem que doma a dor do bicho-elefante. Pensou se seria pela comida garantida. Por algum familiar elefante. Pela casa-jaula garantida. Por viajar e conhecer muitos lugares novos. Ou por não lembrar mais o caminho de volta à África. Ou seria por não acreditar que a sua força poderia libertá-lo...

Decidiu perguntar ao especialista, o domador de elefantes:

- Como essa corrente e essa estaca pequena conseguem prender este elefante tão poderoso?

- Isto é um truque. Que só funciona quando o domador faz desde que o elefante é filhote.

- E qual o truque?

- É prender o pé do filhote com essa mesma corrente e com essa mesma estaca. Daí que o elefante filhote tenta que tenta se livrar mas não consegue. Chega uma hora, ele desiste e acha que dessa corrente e dessa estaca ele nunca mais vai conseguir escapar.



O filósofo pensou nas correntes ainda amarradas em seu pé desde a sua infância e nas que ele amarrou em filhotes humanos (ou não). O filósofo saiu de lá pensando que talvez um dia o homem liberte os animais dos circos, dos zoológicos, dos aquários, das jaulas, dos abatedouros, das redes, das correntes, e talvez, um dia, liberte também o seu próprio pé...



História recebida nas aprisionantes (embora ora libertadoras) correntes de e-mails de autoria “anônima”. Se alguém conhecer o “anônimo”, avise!

História selecionada para o Projeto ABC; Aprender, Brincar, Cuidar - Eixo 2: Entender e responder para a criança.

Recontada por Fabio Lisboa http://www.contarhistorias.com.br/

Conheça mais histórias.

Cultura de paz nasce antes do nascimento

Projeto ABC - Aprender, Brincar, Cuidar
Eixo 2: Entender e responder para a criança

Mãe, pai, cuidadores e bebês:
Comunicação, Conexão e Sedução
para o desenvolvimento de um futuro de paz

Edição para o blog: Fabio Lisboa
Baseado em texto da Dra Iole da Cunha
Editado por: Marilena Flores Martins

Descobertas sobre os processos mentais do início da vida e a importância da comunicação, conexão e sedução

Nos últimos 60 anos, a comunidade científica passou por grandes avanços no conhecimento sobre o bebê-não nascido, o recém-nascido e o período de zero a três anos trazendo, com estes avanços, perspectivas de melhorar a qualidade de vida e interferir de forma positiva no desenvolvimento humano.

A neonatologia é uma jovem disciplina prestes a completar seu cinquentenário. Foi graças à convivência dos profissionais de saúde pré e perinatal com recém-nascidos doentes nas UTIN (Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal), aos “cuidadores” de instituições albergues de bebês abandonados e a técnica de observação de bebês que se começou a aprender quem é o bebê e acessar o seu saber. Foram bem descritos os reflexos arcaicos e capacidades motoras; percepção visual, auditiva, olfativa, gustativa e tátil; interocepção e exterocepção; proprioceptividade, irritabilidade, consolo e autoconsolo, domínio vegetativo, os estados de consciência, os ritmos comportamentais, a memória e percepção multimodal. Mas só nos últimos quinze anos pontes construídas com a neurociência, a psicanálise com bebês e a psicanálise da gestação, a neuropsicanálise, a neuroantropologia, a linguística, e o estruturalismo, possibilitaram traçar um perfil mais preciso do indivíduo no início da vida e buscar um modo de comunicação que lhe garanta segurança (excitação) enquanto limite seus desejos (inibição), permitindo o crescimento adequado do cérebro em desenvolvimento e sua mente.

A ciência consiliente, integrada, e a neurociência comprovam como as experiências e emoções vivenciadas pelo bebê em interação, neste período inicial da vida, esculpem os mágicos caminhos do cérebro em desenvolvimento e a forma com que irá interpretar o mundo no futuro. A busca em criar nossos filhos sob os princípios de uma cultura de paz começa por nossa interação presente (ou ausente).

Veremos que estar com o corpo presente não basta, é preciso que os adultos próximos ao bebê estejam atentos a ele, comuniquem-se e respondam aos seus apelos. O que não quer dizer que o adulto tem que fazer tudo o que a criança quer. O que não se deve fazer é ignorar os apelos por comunicação pois o bebê humano quer ser ouvido, visto e desejado.


O bebê e seu potencial inato para a comunicação e sedução

O que garante a satisfação do bebê, não é a mera presença da mãe, mas a percepção de que ela o deseja. Deste modo passa a desejar o desejo da mãe e não apenas a mãe em si.

Para ser desejado e sobreviver, o bebê desenvolveu uma elaborada habilidade de comunicação: o olhar, sorriso, choro, o ato de mamar são formas de seduzir a mãe para que esta o deseje. Assim, proteção, alimentação, atenção e carinho, estão garantidos, logo, a sobrevivência e o prazer sensorial também.

O cuidador deve aprender a fortificar este comportamento materno vital, sendo estimulado (e estimulando a mãe) a se comunicar com o bebê e deixar-se seduzir por ele.

Sedução

É impressionante observar a insistência com que o recém-nascido busca a face e os olhos da mãe. E quando consegue estabelecer uma conexão direta, seu olhar sorri e é como se olhassem através da “janela da alma” materna. Entretanto, nem sempre o bebê consegue que a mãe o olhe com desejo, o que lhe permitiria sentir-se em segurança. A mãe pode estar imersa na crise da gestação, olhando ainda apenas para o “seu bebê interno” (bebê fantasmático) e precisa ser ajudada a olhar para o bebê real. Ao ver o seu bebê, olhando para ele de verdade, tem início um processo muito interessante de comunicação e empatia entre mãe e bebê.

O olhar e a empatia

Quando o olhar da mãe e do bebê se encontram e se fixam, um milagre de comunicação ocorre. O bebê adquire a percepção de que será cuidado em segurança e a mãe entende do que seu bebê necessita. Um sente empatia pelo outro. Ou seja, um consegue se colocar no lugar do outro, sentir o prazer e a dor do outro. O cuidador, de forma menos intensa, mas não menos importante, deve também conectar-se através do olhar e deixar suas emoções positivas (e as do bebê) fluírem de forma empática. A empatia é um dos processos mentais que neutraliza a violência. Facilitar e fortalecer os processos empáticos na infância é uma das chaves para a construção de uma cultura de paz.

Imitação – A imitação denota os primeiros passos do desenvolvimento humano. E o divertido “treinamento” começa bem antes das primeiras palavras, por exemplo, com a conexão através das expressões faciais. Quem consegue ficar sério diante de um bebê rindo? E qual o bebê resiste à expressão facial da mãe e do pai sorrindo, fazendo caretas e rindo? As tentativas de imitação, o efeito de espelho se traduz para o bebê num alto grau de controle que induz a uma excitação positiva. A imitação explicita para o bebê que ele está conectado a outro ser humano que o deseja, em especial, a mãe.

A aquisição das habilidades cognitivas da função executiva, da autoestima, da regulação afetiva, da aquisição da língua e do desenvolvimento da fala são grandemente influenciadas pela percepção da presença psíquica da mãe, ou seja (e é bom repetir) o desenvolvimento saudável do bebê depende da presença de uma mãe presente. E de cuidadores presentes.

A ausência, por sua vez, gera problemas no desenvolvimento infantil. A ciência confirma que o bebê em interação continuada com uma mãe psiquicamente ausente, ficará exposto a patologias do desenvolvimento, desde a microdepressão, a falhas de sintonia fina, cólicas, distúrbios do sono e alimentares (incapacidade de sugar o seio materno, refluxo), hiperatividade e vulnerabilidade, apenas para citar algumas já bem estudadas.

A linguagem e o contar histórias dirigidos ao bebê
Por que contar histórias a bebês se eles não entendem as palavras dirigidas a eles? Bebês não entendem de palavras, mas de prosódia: ritmo, cadência e entonação.

Além disso, a palavra dirigida aos recém-nascidos traz a tão necessária conexão com o outro. Estudos de observação do comportamento no período pré-verbal, que analisam o ritmo de sucção, os batimentos cardíacos, a expressão facial, o tônus muscular, os níveis salivares de cortisol e principalmente o choro evidenciam uma resposta positiva do bebê, que se sente consolado quando da intervenção da mãe, do pai ou do cuidador com a linguagem empática, cadenciada, cantada ou até mesmo sussurrada.

Estudos de comportamento fetal evidenciam que a partir da 24ª semana de gestação a comunicação verbal da mãe influencia o bebê não nascido. Bebês acostumados a prosódia das histórias terão mais facilidade em ouvir o outro e em desenvolver a fala e a escrita.

A linguagem do bebê é a das emoções

A neurociência comprova que o ser humano até os três anos de idade percebe e atua no mundo usando, essencialmente, o córtex frontal direito, grosso modo, o “cérebro das emoções”. Somente após os três anos, o controle principal é exercido pelo córtex esquerdo, especializado na função executiva, na consciência e razão, e na linguagem articulada.

Então o bebê reage ao mundo usando o seu filtro de emoções. Percebe o outro e suas atitudes de forma sensível, aproximando-se ou afastando-se conforme a sua percepção do que é adequado ou não para a sua sobrevivência.

Conclusões para um futuro de paz

O bebê não existe sozinho, ele sabe disso e procura a conexão com outro ser humano para a sua sobrevivência. As necessidades e o saber do bebê precisam ser entendidos por todos os que se propõem a cuidar de crianças de zero a três anos. A mãe, o pai e os cuidadores não devem subestimar a importância de responder sempre para a criança. Adultos presentes conseguem comunicar-se, conectar-se, seduzir e deixar-se seduzir pelos bebês que assim, terão mais chances de se desenvolverem saudáveis, autoconfiantes, empáticos, afetivos e inteligentes, racional e emocionalmente. Uma sociedade pacífica se faz com indivíduos educados (e preparados fisiologicamente) para a paz.


http://www.unitedwaybrasil.org.br/
http://www.ipadireitodebrincar.org.br/
http://www.contarhistorias.com.br/

Este projeto é uma iniciativa da United Way Brasil (UWB) contando com a parceria no desenvolvimento técnico-pedagógico da IPA-Brasil (Associação Brasileira pelo Direito de Brincar).

O Projeto é estruturado em 5 eixos e o resumo teórico de cada eixo, bem como histórias relacionadas a cada tema, serão postados aqui. A iniciativa prevê cinco encontros formativos, que incluem jogo de simulação baseado em casos reais, dinâmicas lúdicas e integrativas, atividades teóricas e práticas e histórias que aprofundam (e ampliam) a significação dos temas. Leia o texto introdutório.


Sugestão de músicas “massageantes”: UAKTI – CD Águas da Amazônia: http://www.uakti.com.br/



Música de Valter Pini: Te ofereço paz - http://valterpini.sites.uol.com.br/


História: Onde encontrar a felicidade?

recontada por Fabio Lisboa http://www.contarhistorias.com.br/

No início dos tempos (ainda que o tempo já existisse), o Deus Brahma que era (e ainda é) tudo e está em tudo, estava sentado em sua flor de lótus cósmica. Após alguns ciclos de universos nascendo e morrendo, o Deus, pleno em sua felicidade e paz infinitas, sentiu a flor de lótus desabrochar e teve vontade de criar uma vida plena de felicidade na Terra.

Criou a primeira alma humana, mas a dividiu em duas e deu corpo a um homem e a uma mulher (as primeiras almas-gêmeas do mundo). Homem e mulher perceberam que quando se encontrassem passariam momentos de plenitude juntos como se fossem de novo um. Mas, como bem sabem os casais até hoje, esse momento de felicidade e paz um dia acabava. Quanto à felicidade e paz infinitas o Deus Brahma decidiu escondê-las dentro de um lago.

Muitos homens e mulheres começaram a habitar a Terra e só conseguiam ver a superfície turbulenta do lago e não encontravam a felicidade. No máximo, tinham momentos de felicidade extrema ao encontrarem, apaixonados, sua alma gêmea.

Até que um casal amoroso conseguiu enxergar que a verdadeira felicidade plena estava na paz da profundeza do lago e não na superfície ondulante. O casal mergulhou no lago e na mesma hora encontrou a felicidade, transcendeu, e voltou a se unir à totalidade do mundo, à alma do mundo (Brahman), homem e mulher voltaram a ser parte do Deus Brahma.

E atrás do primeiro casal, foi o restante dos habitantes da Terra, um a um, descobrindo onde estava a felicidade e paz infinitas e se juntando à serenidade de Brahma. Até que novamente o planeta ficou vazio de seres humanos.

O Deus então pensou em esconder a felicidade na profundeza mais profunda do oceano mais profundo da Terra. Mas pensou melhor e previu que os homens no futuro encontrariam um jeito de mergulhar até nestas profundezas e descobrir a felicidade.

A segunda ideia do Deus Brahma foi esconder a felicidade no pico mais alto da cordilheira mais alta da Terra. Mas também previu que o homem um dia chegaria lá e encontraria a felicidade. Pensou em outros esconderijos no planeta, nas mais densas florestas, nas cavernas mais escuras mas não importava onde imaginasse, logo previa que o homem alcançaria também estes lugares.

Até que, como todo Deus criador, teve uma ideia divina! Esconderia a felicidade num lugar em que o homem nunca pensaria em procurar! Um lugar em que a maioria dos seres humanos não saberia alcançar...

Mesmo prevendo que algum dia homens e mulheres descobririam onde procurar a felicidade e se sentiriam novamente plenos e parte de uma paz maior do que eles próprios, por muito tempo a felicidade ainda estaria bem guardada... Num lugar mais perto do que muitos imaginam...

Dentro de cada um dos seres humanos. Num lugar que alguns chamam de coração, outros de consciência, outros de alma. Um lugar ao mesmo tempo distante e perto, de difícil acesso e acessível a todos. Um lugar onde sempre será possível encontrar a felicidade.

Recontada por Fabio Lisboa http://www.contarhistorias.com.br/

A busca pelo entendimento desta “felicidade” passa pela reflexão sobre o ditado indiano:

“Que as gotas residem no oceano, todos sabem. Mas que o oceano reside na gota, poucos sabem.” *

* Citado por Prem Rawat na palestra “Brilhe com o entendimento” (http://www.palavrasdepaz.org.br/).

É possível encontrar esta e outras histórias recontada pelo Ilan Brenman no premiado livro "14 Pérolas da Índia" (editora brinque book) http://www.ilan.com.br/

Base para o pano de fundo da história:


CAMPBELL, Joseph - Mitos de Luz [editor David Kudler; tradução Lindbergh Caldas de Oliveira]– São Paulo: Madras, 2006

História selecionada para o eixo 1 do projeto ABC: Aprender, Brincar, Cuidar - Cuidar de si para poder cuidar do outro

História: Nasrudin - O segredo da felicidade

Recontada por Fabio Lisboa http://www.contarhistorias.com.br/


- Nasrudin, Mestre, qual o segredo da felicidade?

- Escolhas boas.

- E como podemos fazer escolhas boas?

- Experiência.

- E como podemos adquirir, de fato, experiência?

- Escolhas ruins.


História que ouvi do experiente contador (e “discípulo” de Nasrudin) Dan Yashinsky em visita ao Brasil por ocasião do Encontro Internacional de Contadores de História Boca do Céu) no Centro de Cultura Judaica (maio/2010).

História selecionada para o eixo 1 do projeto ABC: Aprender, Brincar, Cuidar - Cuidar de si para poder cuidar do outro. Conheça mais histórias.

Cuidar de si para poder cuidar do outro

Eixo 1: Projeto ABC – Aprender, Brincar e Cuidar

Autora: Luzia Torres Gerosa Laffite

O que é cuidar

Cuidar é um ato de preservação, aprendido por meio das experiências vividas e dos saberes desenvolvidos pela cultura da qual fazemos parte. Este ato se traduz em atitudes e comportamentos relacionados à atenção, ao zelo, ao respeito aos limites, à cautela, tanto frente a si próprio e como frente ao outro. O perfil de cuidador é próprio e individual, cujos conhecimentos e habilidades se refletem nas atitudes de cuidar de si, do outro e na própria disponibilidade interna em se deixar cuidar pelo outro.

O cuidar dá-se em três vertentes: consigo próprio - o autocuidado; cuidado para com o outro - o cuidar de; e cuidado do outro para mim - o ser cuidado. As três vertentes sempre precedem uma relação de apego e afeto. Não se cuida se não há estima a si próprio e ao outro.


Cuide-se!

Cuidar de si próprio é uma pré-condição para poder cuidar do outro.

O significado de cuidar de si próprio é amplo, e não cabem fórmulas especificas e reducionistas a esta capacidade que o ser humano tem. Não há receitas em como cuidar-se, mas sim reflexões que instigam a novos pensamentos, conhecimentos e comportamentos, ajudando a diminuir o stress, a ansiedade e os conflitos, ou a repetir as situações que trazem conforto e prazer.

A primeira reflexão relaciona-se ao reconhecimento do cuidador em relação aos seus próprios desejos e sentimentos. As emoções são imprevisíveis, elas ocorrem espontaneamente e não necessariamente são as mesmas para todas as experiências iguais. Negar os sentimentos cria uma falsa satisfação, acarretando mais frustração e ansiedade.

O cuidado sensível consigo próprio permite ao cuidador identificar os tipos de sentimentos – de alegria, tristeza, otimismo, desalento, amor, raiva, culpa, conforto, etc., frente às diversas situações do dia a dia, (prazerosas ou não), facilitando-o a discriminar suas preferências - o que gosta do que não gosta; o que realmente pode e quer fazer, como e quando fazer; quais as melhores condições para seu próprio bem estar. Esta capacidade de reagir ante as necessidades afetivas, físicas, sociais, de autoconhecimento e do outro, ajuda a aceitação de seus próprios limites, suavizando o sentimento de obrigação do ter que cuidar incondicionalmente e indefinidamente. Reconhecer que os sentimentos são verdadeiros, torna as próprias experiências mais valiosas, importantes e a capacidade em solicitar ajuda passa a ser mais um bem estar na vida do cuidador.

A segunda reflexão para se autocuidar refere-se ao tempo e momentos dedicados a este autocuidado. O domínio do tempo é dado pelas necessidades de quem está sendo cuidado, ou seja, quanto maior a necessidade de acolhimento e atenção, maior é o tempo de dedicação do cuidador. No caso da criança pequena o tempo normalmente tende a ser menor na proporção de seu crescimento, desde que lhe ofereça condições para que a criança se torne autônoma.

Importante se faz observar que, quanto mais conhecimento o cuidador tem das potencialidades do outro para a resolução das pequenas dificuldades, mais fácil para administrar o tempo de dedicação e consequentemente o de a si próprio. A ênfase do cuidado ao outro deve ser na qualidade da atenção, presteza e não no tempo cronológico do mesmo. Não é sempre que a criança tem condições de assinalar que os cuidados prestados já são suficientes, cabe, no entanto ao cuidador, perceber estes momentos e transferir para si o próprio cuidar.

A terceira reflexão remete ao ser cuidado por alguém. Normalmente, as pessoas mais próximas, família, amigos, são as que podem suprir alguma atenção de imediato. Compartilhar os cuidados cotidianos da criança com distintos cuidadores (pais, familiares, amigos, profissionais) na hora da alimentação, repouso, banho, brincar, formas disciplinares, etc., melhora a qualidade de atenção, diminui o “tempo vazio” do cuidado (participação inadequada do cuidar), possibilita um bom nível de confiança mutua para resolução de problemas e aumenta significativamente a disponibilidade para cuidar-se de si mesmo.

Porém, para que o outro possa ajudar, necessário se faz explicitar com clareza a necessidade real de ajuda: quais são as minhas dificuldades? Muitas vezes, não as temos com muita clareza, somente sentimos a tristeza, o desalento e a inquietude de que algo não esta bem. Falar, conversar sobre as necessidades e dificuldades presentes, torna mais fácil identificar as suas causas, aumentando a possibilidade de resolução. Muitas vezes, senão em sua maioria, o suficiente é ter alguém presente para aquela escuta, basta este ouvir...

É interessante observar que, algumas vezes, esta ajuda não necessariamente precisa vir de alguém da família ou amigo, mas sim de uma rede social presente na própria comunidade, ou no ambiente mais próximo que cerca o cuidador. Este ambiente cuidador - físico e social - fornece segurança e proteção. Por exemplo: associações de bairro, grupos sociais, clubes de serviço, redes de proteção à mulher, criança e família, serviços de saúde municipal (Núcleo de Apoio a Saúde da Família - NASF), serviços de apoio social (Centro de Referência Especializada de Assistência Social - CREAS), grupos religiosos, ONGs, propõem programas específicos de proteção e prevenção na área da saúde, educação não formal e outras atividades. Uma nova atividade social, de lazer-recreação, esportiva, ou mesmo hobby contribui para diminuir a tensão do dia a dia, e emana uma maior sensação de bem estar.

Independente da fonte provedora de ajuda, o mais importante é a disponibilidade interna da pessoa em se deixar cuidar. Ninguém cuida de quem não quer ser cuidado. Ajudar, cuidar são atos recíprocos e complementares. Para que isto possa acontecer, é importante que o cuidador tenha a percepção que o cuidar não é somente prover o outro quase como um sacerdócio, mas sim, que estas relações de cuidado para com o outro, no caso à criança pequena, de atenção, zelo e carinho, podem se dar, também em contextos semelhantes a si próprio, basta deixar! Um melhor cuidado para com a criança pequena, está também na qualidade de vida do cuidador.

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Este projeto é uma iniciativa da United Way Brasil (UWB) contando com a parceria no desenvolvimento técnico-pedagógico da IPA-Brasil (Associação Brasileira pelo Direito de Brincar).



O Projeto é estruturado em 5 eixos e o resumo teórico de cada eixo, bem como histórias relacionadas a cada tema, serão postados aqui. A iniciativa prevê cinco encontros formativos, que incluem jogo de simulação baseado em casos reais, dinâmicas lúdicas e integrativas, atividades teóricas e práticas e histórias que aprofundam (e ampliam) a significação dos temas. Leia o texto introdutório.

Projeto ABC: Aprender, Brincar e Cuidar

Influências positivas para as nossas crianças
e para o nosso futuro


Do nascimento aos primeiros seis anos as crianças estruturam capacidades físicas e psicológicas que vão influenciá-las pelo resto de suas vidas. E todos os adultos presentes no início da vida dessas crianças exercerão grande influência no desenvolvimento de suas capacidades humanas.



Ao se desenvolver, a criança tenta incansavelmente ser aceita, amada e cuidada, para isso se comunica como pode, logo tenta imitar a fala, tenta se locomover e brincar, logo aprende a andar, tenta satisfazer necessidades físicas e emocionais e, conforme vai se desenvolvendo, vai tentando imitar as demais habilidades dos adultos ao seu redor. Assim, o nosso comportamento diante das crianças e as atividades que proporcionamos a elas terão forte influência para o futuro da criança, que é também o futuro de nossa própria sociedade.

Se hoje buscamos o desenvolver de uma sociedade socialmente justa, interconectada e pacífica, que exemplo temos dado aos nossos filhos? E o exemplo aos filhos “dos outros”, é também um ensinamento? E qual a importância do exemplo-ensinamento dos professores e cuidadores de crianças (familiares ou profissionais)? Qual a importância de atendermos prontamente um bebê que chora? Como podemos nos comunicar com sucesso quem ainda não fala? O que a linguagem do brincar e das histórias tem a dizer aos pequenos?

Recentes avanços da ciência (em especial da neurociência) nos permitiram mapear o impacto de atividades como o brincar, cantar, conversar e compartilhar histórias e entender melhor a importância dos adultos e de seu exemplo positivo ou negativo no desenvolvimento da criança rumo ao futuro que gostaríamos de traçar para o mundo.

Considerando a importância de conscientizar o mundo adulto sobre o desenvolvimento do mundo infantil e o possível aprimoramento do relacionamento entre esses dois mundos, nasce o Projeto ABC: Aprender, Brincar e Cuidar.

Este projeto é uma iniciativa da United Way Brasil (UWB) contando com a parceria no desenvolvimento técnico-pedagógico da IPA-Brasil (Associação Brasileira pelo Direito de Brincar).

O Projeto é estruturado em 5 eixos e o resumo teórico de cada eixo, bem como histórias relacionadas a cada tema, serão postados aqui. A iniciativa prevê cinco encontros formativos, sendo que a turma piloto é formada por 40 professoras e coordenadoras pedagógicas de CEIs (Centros de Educação Infantil) e Escolas Públicas de Educação Infantil da DRE (Diretoria Regional de Ensino) da Capela do Socorro (São Paulo – SP). Nos encontros realizamos um jogo de simulação que permite a análise de casos reais, dinâmicas lúdicas e integrativas, atividades teóricas e práticas e contamos histórias que aprofundam (e ampliam) a significação dos temas.

Os temas-eixo dos encontros são:

1. Cuidar de si para poder cuidar do outro.

2. Entender e responder para a criança.

3. Conversar, brincar, ler e cantar.

4. Criar um mundo previsível para a criança.

5. Propiciar um ambiente amoroso, aconchegante e seguro.

Esperamos que os textos e histórias postados incentivem a discussão sobre os temas entre os participantes do curso e os leitores do blog.

Abraços,
Fabio Lisboa

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Ficha técnica:



Projeto ABC – Aprender, Brincar e Cuidar




Coordenação pedagógica geral:
Marilena Flores Martins (IPA-Brasil)
Fernanda Rezende Vidigal (UWB)

Coordenação pedagógica executiva:
Fernanda Rezende Vidigal (UWB)
Fabio Lisboa (IPA-Brasil)
Sandra (UWB)

Edição de Textos:
Marilena Flores Martins (IPA-Brasil)
Fabio Lisboa (IPA-Brasil)
Eliana Pougy (IPA-Brasil)

Autores:
Andrew Swan
Eliana Pougy
Edilene Modesto de Souza
Fabio Lisboa
Iole da Cunha
Luzia Torres Gerosa Laffite
Marilena Flores Martins
Tecka Mattoso

Palestrantes convidados:
Andrew Swan
Claudia R. Bhurkna
Eliana Pougy
Edilene Modesto de Souza
Fabio Lisboa
Marilena Flores Martins

Seleção das histórias:
Fernanda Rezende Vidigal (UWB)
Fabio Lisboa (IPA-Brasil)

Histórias recontadas por:

Este projeto é uma das ações do Programa Crescer Aprendendo desenvolvido pela United Way Brasil (UWB) com o objetivo de promover o desenvolvimento integral da criança de 0 a 6 anos de idade. O projeto ABC – Aprender, Brincar e Cuidar contou com a parceria técnico-pedagógica da IPA-Brasil (Associação Brasileira pelo Direito de Brincar) que por sua vez também tem outros projetos relacionados ao brincar e a formação de jovens, pais e educadores.
Saiba mais sobre essas instituições em:
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http://www.ipabrasil.org/