Projeto ABC - Aprender, Brincar, Cuidar
Eixo 2: Entender e responder para a criança
Mãe, pai, cuidadores e bebês:
Eixo 2: Entender e responder para a criança
Mãe, pai, cuidadores e bebês:
Comunicação, Conexão e Sedução
para o desenvolvimento de um futuro de paz
para o desenvolvimento de um futuro de paz
Edição para o blog: Fabio Lisboa
Baseado em texto da Dra Iole da Cunha
Editado por: Marilena Flores Martins
Descobertas sobre os processos mentais do início da vida e a importância da comunicação, conexão e sedução
Nos últimos 60 anos, a comunidade científica passou por grandes avanços no conhecimento sobre o bebê-não nascido, o recém-nascido e o período de zero a três anos trazendo, com estes avanços, perspectivas de melhorar a qualidade de vida e interferir de forma positiva no desenvolvimento humano.
A neonatologia é uma jovem disciplina prestes a completar seu cinquentenário. Foi graças à convivência dos profissionais de saúde pré e perinatal com recém-nascidos doentes nas UTIN (Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal), aos “cuidadores” de instituições albergues de bebês abandonados e a técnica de observação de bebês que se começou a aprender quem é o bebê e acessar o seu saber. Foram bem descritos os reflexos arcaicos e capacidades motoras; percepção visual, auditiva, olfativa, gustativa e tátil; interocepção e exterocepção; proprioceptividade, irritabilidade, consolo e autoconsolo, domínio vegetativo, os estados de consciência, os ritmos comportamentais, a memória e percepção multimodal. Mas só nos últimos quinze anos pontes construídas com a neurociência, a psicanálise com bebês e a psicanálise da gestação, a neuropsicanálise, a neuroantropologia, a linguística, e o estruturalismo, possibilitaram traçar um perfil mais preciso do indivíduo no início da vida e buscar um modo de comunicação que lhe garanta segurança (excitação) enquanto limite seus desejos (inibição), permitindo o crescimento adequado do cérebro em desenvolvimento e sua mente.
A ciência consiliente, integrada, e a neurociência comprovam como as experiências e emoções vivenciadas pelo bebê em interação, neste período inicial da vida, esculpem os mágicos caminhos do cérebro em desenvolvimento e a forma com que irá interpretar o mundo no futuro. A busca em criar nossos filhos sob os princípios de uma cultura de paz começa por nossa interação presente (ou ausente).
Veremos que estar com o corpo presente não basta, é preciso que os adultos próximos ao bebê estejam atentos a ele, comuniquem-se e respondam aos seus apelos. O que não quer dizer que o adulto tem que fazer tudo o que a criança quer. O que não se deve fazer é ignorar os apelos por comunicação pois o bebê humano quer ser ouvido, visto e desejado.
O bebê e seu potencial inato para a comunicação e sedução
O que garante a satisfação do bebê, não é a mera presença da mãe, mas a percepção de que ela o deseja. Deste modo passa a desejar o desejo da mãe e não apenas a mãe em si.
Para ser desejado e sobreviver, o bebê desenvolveu uma elaborada habilidade de comunicação: o olhar, sorriso, choro, o ato de mamar são formas de seduzir a mãe para que esta o deseje. Assim, proteção, alimentação, atenção e carinho, estão garantidos, logo, a sobrevivência e o prazer sensorial também.
O cuidador deve aprender a fortificar este comportamento materno vital, sendo estimulado (e estimulando a mãe) a se comunicar com o bebê e deixar-se seduzir por ele.
Sedução
É impressionante observar a insistência com que o recém-nascido busca a face e os olhos da mãe. E quando consegue estabelecer uma conexão direta, seu olhar sorri e é como se olhassem através da “janela da alma” materna. Entretanto, nem sempre o bebê consegue que a mãe o olhe com desejo, o que lhe permitiria sentir-se em segurança. A mãe pode estar imersa na crise da gestação, olhando ainda apenas para o “seu bebê interno” (bebê fantasmático) e precisa ser ajudada a olhar para o bebê real. Ao ver o seu bebê, olhando para ele de verdade, tem início um processo muito interessante de comunicação e empatia entre mãe e bebê.
O olhar e a empatia
Quando o olhar da mãe e do bebê se encontram e se fixam, um milagre de comunicação ocorre. O bebê adquire a percepção de que será cuidado em segurança e a mãe entende do que seu bebê necessita. Um sente empatia pelo outro. Ou seja, um consegue se colocar no lugar do outro, sentir o prazer e a dor do outro. O cuidador, de forma menos intensa, mas não menos importante, deve também conectar-se através do olhar e deixar suas emoções positivas (e as do bebê) fluírem de forma empática. A empatia é um dos processos mentais que neutraliza a violência. Facilitar e fortalecer os processos empáticos na infância é uma das chaves para a construção de uma cultura de paz.
Imitação – A imitação denota os primeiros passos do desenvolvimento humano. E o divertido “treinamento” começa bem antes das primeiras palavras, por exemplo, com a conexão através das expressões faciais. Quem consegue ficar sério diante de um bebê rindo? E qual o bebê resiste à expressão facial da mãe e do pai sorrindo, fazendo caretas e rindo? As tentativas de imitação, o efeito de espelho se traduz para o bebê num alto grau de controle que induz a uma excitação positiva. A imitação explicita para o bebê que ele está conectado a outro ser humano que o deseja, em especial, a mãe.
A aquisição das habilidades cognitivas da função executiva, da autoestima, da regulação afetiva, da aquisição da língua e do desenvolvimento da fala são grandemente influenciadas pela percepção da presença psíquica da mãe, ou seja (e é bom repetir) o desenvolvimento saudável do bebê depende da presença de uma mãe presente. E de cuidadores presentes.
A ausência, por sua vez, gera problemas no desenvolvimento infantil. A ciência confirma que o bebê em interação continuada com uma mãe psiquicamente ausente, ficará exposto a patologias do desenvolvimento, desde a microdepressão, a falhas de sintonia fina, cólicas, distúrbios do sono e alimentares (incapacidade de sugar o seio materno, refluxo), hiperatividade e vulnerabilidade, apenas para citar algumas já bem estudadas.
A linguagem e o contar histórias dirigidos ao bebê
Por que contar histórias a bebês se eles não entendem as palavras dirigidas a eles? Bebês não entendem de palavras, mas de prosódia: ritmo, cadência e entonação.
Além disso, a palavra dirigida aos recém-nascidos traz a tão necessária conexão com o outro. Estudos de observação do comportamento no período pré-verbal, que analisam o ritmo de sucção, os batimentos cardíacos, a expressão facial, o tônus muscular, os níveis salivares de cortisol e principalmente o choro evidenciam uma resposta positiva do bebê, que se sente consolado quando da intervenção da mãe, do pai ou do cuidador com a linguagem empática, cadenciada, cantada ou até mesmo sussurrada.
Estudos de comportamento fetal evidenciam que a partir da 24ª semana de gestação a comunicação verbal da mãe influencia o bebê não nascido. Bebês acostumados a prosódia das histórias terão mais facilidade em ouvir o outro e em desenvolver a fala e a escrita.
A linguagem do bebê é a das emoções
A neurociência comprova que o ser humano até os três anos de idade percebe e atua no mundo usando, essencialmente, o córtex frontal direito, grosso modo, o “cérebro das emoções”. Somente após os três anos, o controle principal é exercido pelo córtex esquerdo, especializado na função executiva, na consciência e razão, e na linguagem articulada.
Então o bebê reage ao mundo usando o seu filtro de emoções. Percebe o outro e suas atitudes de forma sensível, aproximando-se ou afastando-se conforme a sua percepção do que é adequado ou não para a sua sobrevivência.
Conclusões para um futuro de paz
O bebê não existe sozinho, ele sabe disso e procura a conexão com outro ser humano para a sua sobrevivência. As necessidades e o saber do bebê precisam ser entendidos por todos os que se propõem a cuidar de crianças de zero a três anos. A mãe, o pai e os cuidadores não devem subestimar a importância de responder sempre para a criança. Adultos presentes conseguem comunicar-se, conectar-se, seduzir e deixar-se seduzir pelos bebês que assim, terão mais chances de se desenvolverem saudáveis, autoconfiantes, empáticos, afetivos e inteligentes, racional e emocionalmente. Uma sociedade pacífica se faz com indivíduos educados (e preparados fisiologicamente) para a paz.
http://www.unitedwaybrasil.org.br/
http://www.ipadireitodebrincar.org.br/
http://www.contarhistorias.com.br/
Este projeto é uma iniciativa da United Way Brasil (UWB) contando com a parceria no desenvolvimento técnico-pedagógico da IPA-Brasil (Associação Brasileira pelo Direito de Brincar).
O Projeto é estruturado em 5 eixos e o resumo teórico de cada eixo, bem como histórias relacionadas a cada tema, serão postados aqui. A iniciativa prevê cinco encontros formativos, que incluem jogo de simulação baseado em casos reais, dinâmicas lúdicas e integrativas, atividades teóricas e práticas e histórias que aprofundam (e ampliam) a significação dos temas. Leia o texto introdutório.
Sugestão de músicas “massageantes”: UAKTI – CD Águas da Amazônia: http://www.uakti.com.br/
Música de Valter Pini: Te ofereço paz - http://valterpini.sites.uol.com.br/
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