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Cuidar de si para poder cuidar do outro

Eixo 1: Projeto ABC – Aprender, Brincar e Cuidar

Autora: Luzia Torres Gerosa Laffite

O que é cuidar

Cuidar é um ato de preservação, aprendido por meio das experiências vividas e dos saberes desenvolvidos pela cultura da qual fazemos parte. Este ato se traduz em atitudes e comportamentos relacionados à atenção, ao zelo, ao respeito aos limites, à cautela, tanto frente a si próprio e como frente ao outro. O perfil de cuidador é próprio e individual, cujos conhecimentos e habilidades se refletem nas atitudes de cuidar de si, do outro e na própria disponibilidade interna em se deixar cuidar pelo outro.

O cuidar dá-se em três vertentes: consigo próprio - o autocuidado; cuidado para com o outro - o cuidar de; e cuidado do outro para mim - o ser cuidado. As três vertentes sempre precedem uma relação de apego e afeto. Não se cuida se não há estima a si próprio e ao outro.


Cuide-se!

Cuidar de si próprio é uma pré-condição para poder cuidar do outro.

O significado de cuidar de si próprio é amplo, e não cabem fórmulas especificas e reducionistas a esta capacidade que o ser humano tem. Não há receitas em como cuidar-se, mas sim reflexões que instigam a novos pensamentos, conhecimentos e comportamentos, ajudando a diminuir o stress, a ansiedade e os conflitos, ou a repetir as situações que trazem conforto e prazer.

A primeira reflexão relaciona-se ao reconhecimento do cuidador em relação aos seus próprios desejos e sentimentos. As emoções são imprevisíveis, elas ocorrem espontaneamente e não necessariamente são as mesmas para todas as experiências iguais. Negar os sentimentos cria uma falsa satisfação, acarretando mais frustração e ansiedade.

O cuidado sensível consigo próprio permite ao cuidador identificar os tipos de sentimentos – de alegria, tristeza, otimismo, desalento, amor, raiva, culpa, conforto, etc., frente às diversas situações do dia a dia, (prazerosas ou não), facilitando-o a discriminar suas preferências - o que gosta do que não gosta; o que realmente pode e quer fazer, como e quando fazer; quais as melhores condições para seu próprio bem estar. Esta capacidade de reagir ante as necessidades afetivas, físicas, sociais, de autoconhecimento e do outro, ajuda a aceitação de seus próprios limites, suavizando o sentimento de obrigação do ter que cuidar incondicionalmente e indefinidamente. Reconhecer que os sentimentos são verdadeiros, torna as próprias experiências mais valiosas, importantes e a capacidade em solicitar ajuda passa a ser mais um bem estar na vida do cuidador.

A segunda reflexão para se autocuidar refere-se ao tempo e momentos dedicados a este autocuidado. O domínio do tempo é dado pelas necessidades de quem está sendo cuidado, ou seja, quanto maior a necessidade de acolhimento e atenção, maior é o tempo de dedicação do cuidador. No caso da criança pequena o tempo normalmente tende a ser menor na proporção de seu crescimento, desde que lhe ofereça condições para que a criança se torne autônoma.

Importante se faz observar que, quanto mais conhecimento o cuidador tem das potencialidades do outro para a resolução das pequenas dificuldades, mais fácil para administrar o tempo de dedicação e consequentemente o de a si próprio. A ênfase do cuidado ao outro deve ser na qualidade da atenção, presteza e não no tempo cronológico do mesmo. Não é sempre que a criança tem condições de assinalar que os cuidados prestados já são suficientes, cabe, no entanto ao cuidador, perceber estes momentos e transferir para si o próprio cuidar.

A terceira reflexão remete ao ser cuidado por alguém. Normalmente, as pessoas mais próximas, família, amigos, são as que podem suprir alguma atenção de imediato. Compartilhar os cuidados cotidianos da criança com distintos cuidadores (pais, familiares, amigos, profissionais) na hora da alimentação, repouso, banho, brincar, formas disciplinares, etc., melhora a qualidade de atenção, diminui o “tempo vazio” do cuidado (participação inadequada do cuidar), possibilita um bom nível de confiança mutua para resolução de problemas e aumenta significativamente a disponibilidade para cuidar-se de si mesmo.

Porém, para que o outro possa ajudar, necessário se faz explicitar com clareza a necessidade real de ajuda: quais são as minhas dificuldades? Muitas vezes, não as temos com muita clareza, somente sentimos a tristeza, o desalento e a inquietude de que algo não esta bem. Falar, conversar sobre as necessidades e dificuldades presentes, torna mais fácil identificar as suas causas, aumentando a possibilidade de resolução. Muitas vezes, senão em sua maioria, o suficiente é ter alguém presente para aquela escuta, basta este ouvir...

É interessante observar que, algumas vezes, esta ajuda não necessariamente precisa vir de alguém da família ou amigo, mas sim de uma rede social presente na própria comunidade, ou no ambiente mais próximo que cerca o cuidador. Este ambiente cuidador - físico e social - fornece segurança e proteção. Por exemplo: associações de bairro, grupos sociais, clubes de serviço, redes de proteção à mulher, criança e família, serviços de saúde municipal (Núcleo de Apoio a Saúde da Família - NASF), serviços de apoio social (Centro de Referência Especializada de Assistência Social - CREAS), grupos religiosos, ONGs, propõem programas específicos de proteção e prevenção na área da saúde, educação não formal e outras atividades. Uma nova atividade social, de lazer-recreação, esportiva, ou mesmo hobby contribui para diminuir a tensão do dia a dia, e emana uma maior sensação de bem estar.

Independente da fonte provedora de ajuda, o mais importante é a disponibilidade interna da pessoa em se deixar cuidar. Ninguém cuida de quem não quer ser cuidado. Ajudar, cuidar são atos recíprocos e complementares. Para que isto possa acontecer, é importante que o cuidador tenha a percepção que o cuidar não é somente prover o outro quase como um sacerdócio, mas sim, que estas relações de cuidado para com o outro, no caso à criança pequena, de atenção, zelo e carinho, podem se dar, também em contextos semelhantes a si próprio, basta deixar! Um melhor cuidado para com a criança pequena, está também na qualidade de vida do cuidador.

http://www.unitedwaybrasil.org.br/

http://www.ipadireitodebrincar.org.br/

http://www.contarhistorias.com.br/


Este projeto é uma iniciativa da United Way Brasil (UWB) contando com a parceria no desenvolvimento técnico-pedagógico da IPA-Brasil (Associação Brasileira pelo Direito de Brincar).



O Projeto é estruturado em 5 eixos e o resumo teórico de cada eixo, bem como histórias relacionadas a cada tema, serão postados aqui. A iniciativa prevê cinco encontros formativos, que incluem jogo de simulação baseado em casos reais, dinâmicas lúdicas e integrativas, atividades teóricas e práticas e histórias que aprofundam (e ampliam) a significação dos temas. Leia o texto introdutório.

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