Por que ler é importante?
Por que entrar num mundo fantasioso nos ajuda a estarmos melhor no mundo real?
Em que nos ajudam a organizar internamente? Como ler auxilia a suportar
situações difíceis?
Muitas vezes
partimos de um pressuposto que acabou virando um lugar comum: a leitura é
importante. Nem nos questionamos profundamente sobre o que representam essas
palavras.
Afinal, o
que, no universo das letras, é capaz de nos tocar e por quê?
A pesquisadora
francesa, Michèle Petit investigou diversas experiências com a leitura
ao redor do mundo e relata de maneira poética e instigante – em seu livro “A arte de ler ou como resistir à
adversidade” –
possíveis respostas para essas perguntas.
A partir de
sua pesquisa, Michèle aponta que a leitura não é apenas o decifrar das letras,
mas uma vivência emocional, corporal e intelectual. E para que possa ser
experimentada desta maneira, ela precisa vir acompanhada de contato humano,
hospitalidade e acolhimento. Introduzir uma criança ao universo da leitura
significa apresentar recursos da cultura. É mostrar algo que foi criado coletivamente,
transmitido ao longo do tempo, do espaço e que é capaz de ajudar a criança a
organizar seu mundo interno.
Mas como a
leitura nos ajuda a cuidar de nossa interioridade? Quando ouvimos histórias, há
uma voz ritmada e melodiosa que nos narra experiências, desafios, obstáculos,
tristezas, conquistas e alegrias. Essa voz, aos poucos, vai se modificando
dentro de nós até que criamos uma voz própria. Quando lemos sozinhos, acessando
este som interno, entramos num estado de disponibilidade e tranquilidade
semelhante àquele que possuíamos ao escutar histórias na infância. É uma forma
de recuperar, a partir de recursos próprios, uma vivência intersubjetiva
positiva.
Além disso,
os textos possuem uma sequência, uma forma específica de contar. Essa amarração
e ordem próprias permitem reorganizar criativamente nossos próprios fragmentos
internos de história: os ordenamos, os reconstruímos e, assim, damos novos
significados às nossas vidas. Quando uma criança ou um adulto vive uma situação
muito difícil e sente sua vida despedaçada, a leitura pode ajudar a encontrar
uma forma diferente de contar sua história. Não de maneira fantasiosa, irreal.
Mas sim com novo sentido e abertura de possibilidades, proporcionados por um
deslocamento de um lugar já conhecido e repetitivo.
Outro aspecto
importante que a leitura permite é que se enfrente os “monstros internos”, tão
assustadores, de forma mais segura. Assim, ao invés de confrontar diretamente o
que está dentro, os vilões são encontrados nas histórias e enfrentados também
dentro delas. Recriamos participativamente a batalha que acontece dentro de
nós, encontrando novas formas de perceber e de usar nossos recursos. Não nos
sentimos sozinhos nesta empreitada, pois temos a companhia do autor e dos
personagens, que dividem conosco sentimentos e pensamentos. Percebemos novas
formas de expressar aquilo que antes nos escapava. Damos concretude ao que
vivemos e isso permite que a fantasia gigantesca e assustadora se torne menos
ameaçadora.
Mas não é
restritamente por meio da ficção que vivemos todo esse processo de
reorganização interna. A verdade é que qualquer texto pode nos ajudar a
encontrar novos sentidos. Por vezes uma única palavra desperta devaneios –
momentos de interrupção e distanciamento da leitura – que podem nos levar a
novos caminhos e significados.
O assunto
deste post pode ter criado novas dúvidas, questionamentos e devaneios. E
esperamos que de fato isso tenha acontecido. Para saber mais, vale procurar o
livro de Michèle Petit, que trata de forma profunda estes e outros aspectos
sobre a leitura! Também adoraríamos que você nos contasse o que pensa sobre
esses temas e quais as suas experiências com a leitura.
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