Informações Interessantes
Quantos índios vivem no Brasil? Onde moram e estudam? Quantos
idiomas falam? Como brincam? Por que 19 de abril é considerado seu dia? O
Planeta Sustentável reuniu várias reportagens sobre o universo indígena
http://planetasustentavel.abril.com.br/planetinha/fique-ligado/tudo-sobre-indios-brasil-738798.shtml
A seguir uma seleção de lendas e mitos feitas pelo Blog Mar de
Histórias
Pode-se conhecer parte da
cultura de uma comunidade através da história vivida ou de suas lendas contadas
de geração em geração. Algumas lendas indígenas mostram a transformação de um
ser em algo que não existia na época em que vivem, assim como a interpretação
de mundo, ou surgimento de elementos fundamentais que compõem a sua natureza. Conheça
abaixo algumas populares:
Lendas de tribos indígenas:
Yara - a rainha das águas
Yara, a jovem Tupi, era a mais formosa mulher das
tribos que habitavam ao longo do rio Amazonas. Por sua doçura, todos os animais
e as plantas a amavam. Mantinha-se, entretanto, indiferente aos muitos
admiradores da tribo. Numa tarde de verão, mesmo após o Sol se pôr, Yara
permanecia no banho, quando foi surpreendida por um grupo de homens estranhos.
Sem condições de fugir, a jovem foi agarrada e amordaçada. Acabou por desmaiar,
sendo, mesmo assim, violentada e atirada ao rio. O espírito das águas
transformou o corpo de Yara num ser duplo. Continuaria humana da cintura para
cima, tornando-se peixe no restante. Yara passou a ser uma sereia, cujo canto
atrai os homens de maneira irresistível. Ao verem a linda criatura, eles se
aproximam dela, que os abraça e os arrasta às profundezas, de onde nunca mais
voltarão.
Mandioca - o pão indígena
Mara era uma jovem índia, filha de um cacique, que
vivia sonhando com o amor e um casamento feliz. Certa noite, Mara adormeceu na
rede e teve um sonho estranho. Um jovem loiro e belo descia da Lua e dizia que
a amava. O jovem, depois de lhe haver conquistado o coração, desapareceu de
seus sonhos como por encanto. Passado algum tempo, a filha do cacique, embora
virgem, percebeu que esperava um filho. Para surpresa de todos, Mara deu à luz
uma linda menina, de pele muito alva e cabelos tão loiros quanto a luz do luar.
Deram-lhe o nome de Mandi e na tribo ela era adorada
como uma divindade. Pouco tempo depois, a menina adoeceu e acabou falecendo,
deixando todos amargurados. Mara sepultou a filha em sua oca, por não querer
separar-se dela. Desconsolada, chorava todos os dias, de joelhos diante do
local, deixando cair leite de seus seios na sepultura. Talvez assim a filhinha
voltasse à vida, pensava. Até que um dia surgiu uma fenda na terra de onde
brotou um arbusto.
A mãe surpreendeu- se; talvez o corpo da filha
desejasse dali sair. Resolveu então remover a terra, encontrando apenas raízes
muito brancas, como Mandi, que, ao serem raspadas, exalavam um aroma agradável.
Todos entenderam que criança havia vindo à Terra para ter seu corpo transformado
no principal alimento indígena. O novo alimento recebeu o nome de Mandioca,
pois Mandi fora sepultada na oca.
Mumuru – a estrela dos lagos
Maraí, uma jovem e bela índia, muito amava a
natureza. À noite, ficava a contemplar a chegada da Lua e das estrelas.
Nasceu-lhe, então, um forte desejo de tornar-se uma estrela. Perguntou ao pai
como surgiam aqueles pontinhos brilhantes no céu e, com grande alegria, veio a
saber que Jacy, a Lua, ouvia os desejos das moças e, ao se esconder atrás das
montanhas, transformava-as em estrelas. Muitos dias se passaram sem que a jovem
realizasse seu sonho. Resolveu então aguardar a chegada da Lua junto aos peixes
do lago. Assim que esta apareceu, Maraí encantou-se com sua imagem refletida na
água, sendo atraída para dentro do lago, de onde não mais voltou. A pedido dos
peixes, pássaros e outros animais, Maraí não foi levada para o céu. Jacy
transformou-a numa bela planta, ganhando o nome de Mumuru, a vitória-régia.
Guaraná – a essência dos frutos
Aguiry
era um alegre indiozinho, que alimentava-se somente de frutas. Todos os dias
saía pela floresta à procura delas, trazendo-as num cesto para distribuí-Ias
entre seus amigos. Certo dia, Aguiry perdeu-se na mata por afastar-se demais da
aldeia. Jurupari, o demônio das trevas, vagava pela floresta. Tinha corpo de
morcego, bico de coruja e também alimentava-se de frutas. Ao encontrar o índio
ao lado do cesto, não hesitou em atacá-lo. Os índios encontram-no morto ao lado
do cesto vazio. Tupã, o Deus do Bem, ordenou que retirassem os olhos da criança
e os plantassem sob uma grande árvore seca. Seus amigos deveriam regar o local
com lágrimas, até que ali brotasse uma nova planta, da qual nasceria o fruto
que conteria a essência de todos os outros, deixando mais fortes e mais felizes
aqueles que dele comessem. A planta que brotou dos olhos de Aguiry possui as
sementes em forma de olhos, recebendo o nome de guaraná.
Mavutsin - o primeiro homem
O primeiro homem (kamaiurá). No começo só havia
Mavutsinim. Ninguém vivia com ele. Não tinha mulher. Não tinha filho, nenhum
parente ele tinha. Era só. Um dia ele fez uma concha virar mulher e casou com
ela. Quando o filho nasceu, perguntou para a esposa: É homem ou mulher? é
homem. Vou levar ele comigo. E foi embora. A mãe do menino chorou e voltou para
a aldeia dela, a lagoa, onde virou concha outra vez. - Nós - dizem os índios -
somos netos do filho de Mavutsinim.
O primeiro Kuarup – a festa dos mortos
O primeiro Kuarup, a festa dos mortos (Kamaiurá)
Mavultsinim queria que os seus mortos voltassem à vida. Foi para o mato, cortou
três toros da madeira de kuarup, levou para a aldeia e os pintou. Depois de
pintar, adornou os paus com penachos, colares, fios de algodão e braçadeiras de
penas de arara. Feito isso, mavutsinim mandou que fincassem os paus na praça da
aldeia, chamando em seguida o sapo cururu e a cutia (dois de cada), para cantar
junto dos Kuarup. Na mesma ocasião levou para o meio da aldeia, peixes e beijus
para serem distribuídos entre o seu pessoal. Os maracá-êp (cantadores),
sacudindo os chocalhos na mão direita, cantavam sem cessar em frente dos
kuarup, chamando-os à vida. Os homens da aldeia perguntavam a Mavutsinim se os
paus iam mesmo se transformar em gente, ou se continuariam sempre de madeira
com eram. Mavutsinim respondia que não, que os paus de kuarup iam se
transformar em gente, andar como gente e viver como gente vive.
Depois de comer os peixes, o pessoal começou a se
pintar, e a dar gritos enquanto fazia isso. Todos gritavam,. Só os maracá-êp é
que cantavam. No meio do dia terminaram os cantos. O pessoal, então, quis
chorar os kuarup, que representavam os seus mortos, mas Mavutsinim não permitiu,
dizendo que eles, os kuarup, iam virar gente, e por isso não podiam ser
chorados. Na manhã do segundo dia Mavutsinim não deixou que o pessoal visse os
kuarup. "Ninguém pode ver" - dizia ele. A todo momento Mavutsinim
repetia isso. O pessoal tinha que esperar. No meio da noite desse segundo dia
os toros de pau começaram a se mexer um pouco. Os cintos de fios de algodão e
as braçadeiras de penas tremiam também. As penas mexiam como se tivessem sendo
sacudidas pelo vento.
Os paus estavam querendo transformar-se em gente.
Mavutsinim continuava recomendando ao pessoal para que não olhasse. Era preciso
esperar. Os cantadores - os cururus e as cutias - quando os kuarup começaram, a
dar sinal de vida cantaram para que se fossem banhar logo que vivessem. Os
troncos se mexiam para sair dos buracos onde estavam plantados, queriam sair
para fora. Quando o dia principiou a clarear, os kuarup do meio para cima já
estavam tomando forma de gente, aparecendo os braços, o peito e a cabeça. A
metade de baixo continuava pau ainda. Mavutsinim continuava pedindo que
esperassem, que não fossem ver. "Espera... espera... espera" - dizia
sem parar.
O sol começava a nascer. Os cantadores não paravam
de cantar,. Os braços dos kuarup estavam crescendo. Uma das pernas já tinha
criado carne. A outra continuava pau ainda. No meio do dia os paus começavam a
virar gente de verdade. Todos se mexiam dentro dos buracos, já mais gente do
que madeira. Mavutsinim mandou fechar todas as portas., só ele ficou de fora,
junto dos kuarup. Só ele podia vê-los, ninguém mais. Quando estava quase
completa a transformação de pau para gente, Mavutsinim mandou que o pessoal
saisse das casas para gritar, fazer barulho, promover alegria, rir alto junto
dos kuarup. O pessoal, então, começou a sair de dentro das casas. Mavutsinim
recomendava que não saíssem aqueles que durante a noite tiveram relação sexual
com as mulheres.
Um, apenas, tinha tido relações. Este ficou dentro
da casa. Mas não aguentando a curiosidade, saiu depois. NO mesmo instante, os
kuarup pararam de se mexer e voltaram a ser pau outra vez. Mavutsinim ficou
bravo com o moço que não atendeu à sua ordem. Zangou muito, dizendo: - O que eu
queria era fazer os mortos viverem de novo. Se o que deitou com mulher não
tivesse saído de casa, os kuarup teriam virado gente, os mortos voltariam a
viver toda vez que se fizesse kuarup. Mavutsinim, depois de zagar, sentenciou:
- Está bem. Agora vai ser sempre assim. Os mortos não reviverão mais quando se
fizer kuarup. Agora vai ser só festa. Mavutsinim depois mandou que retirassem
dos buracos os toros de kuarup. O pessoal quis tirar os enfeites, mas
Mavutsinim não deixou. "Tem que ficar assim mesmo", disse. E em
seguida mandou que os lançassem na água ou no interior da mata. Não se sabe
onde foram largados, mas estão até hoje lá, no Morená.
Kuadê – Jurun mata o sol
Jurun mata o Sol Kuadê, o Sol, era gente também.
Morava longe e falava outra língua. Os Juruna costumavam passear na casa dele.
Perto de onde morava o Sol tinha um buraco na pedra que estava sempre cheio de
água. Era uma armadilha para pegar bicho. Bicho que enfiava a cabeça no buraco
para beber água ficava preso. Todos os dias o Sol ia ver se havia caça presa.
Quando encontrava, matava e levava pra casa para comer. A pesca, ele só fazia à
noite, clareando a água com uma luz que ele tinha no traseiro. Ele zangava e
matava quem dizia ter visto a sua luz. Havia um moço Juruna que não sabia da
armadilha do Sol, o buraco na pedra.
Passando perto um dia, com sede, foi beber e ficou
preso pela mão. Quando no outro dia viu o Sol que se vinha aproximando na sua
visita diária, o moço fingiu de morto. Deitou e ficou imóvel, com o coração
parado também, de tanto medo. O Sol chegou e começou a examiná-lo. Abriu a
boca, os olhos, apalpou o peito e verificou que estava tudo parado como gente
morta. Aí o Sol desprendeu o moço Juruna do buraco e o colocou dentro de um
cesto para ser transportado. Mas antes de pôr o cesto nas costas, para ver se o
moço estava bem morto mesmo, jogou formiga em cima dele. O Juruna aguentou as
formigas, sem se mexer, mas quando elas morderam nos olhos, ele se mexeu um
pouquinho.
A borduna do Sol, que estava perto, percebendo o
movimento, quis logo bater, mas o dono não deixou, dizendo que o Juruna estava
bem morto. Em seguida, o Sol levou o cesto com o corpo para perto da casa dele,
pendurando-o no galho de uma árvore. No dia seguinte, pediu ao filho que
trouxesse o cesto para dentro de casa. O filho do Sol foi mas não encontrou
mais o Juruna. Ele tinha fugido de noite. O Sol sabendo disso, na mesma hora
jogou a sua borduna atrás dele. a borduna saiu voando e logo adiante bateu num
veado.
O Sol disse que não era aquilo que ele queria, e saiu em perseguição, até que encontrou o fugitivo escondido na raiz oca de um pau. A borduna chegou e começou logo a bater no tronco. Vendo que isso não dava resultado, cortou uma vara e passou a chuçar o buraco. O Juruna ficou todo machucado, mas continuou dentro da toca. Como já estava muito tarde, o Sol tapou a boca do buraco com uma pedra e disse para a borduna: "Amanhã nós voltamos para acabar de matar". De noite, na ausência do Sol, todo tipo de bicho - anta, porco, veado, macaco, paca, cutia - apareceu para ajudar o moço Juruna a sair de dentro da toca onde se tinha enfiado.
Lá dentro, ele pedia: "Cavem esse pau para eu
sair". Os bichos começaram a cavar. Quando os seus dentes quebravam, iam à
procura de outros bichos para continuar a escavação. a anta conseguiu abrir uma
pequena saída. O moço Juruna pôs a cabeça para fora e pediu que cavassem mais
um pouco. Com o alargamento que a cutia e a paca, por último, fizeram, ele pôde
sair de uma vez para fora. Quando o sol chegou, não o encontrou mais. O moço a
essa hora já estava chegando em casa. Lá, contou para os parentes o que havia
acontecido com ele, dizendo que quase tinha sido morto pelo Sol.
Três dias depois foi dizer à mãe que ia sair
novamente para colher coco. A mãe, chorando, pediu a ele que não fosse.
"Não vá, meu filho, que o Sol vai matar você". O moço, depois de
cortar todo o cabelo e se pintar de jenipapo, foi dizer à mãe que assim como
estava não ia ser reconhecido pelo Sol. "Não tenha medo, que o Sol não me
vai conhecer. Agora estou diferente". Falou isso e entrou mata adentro.
Subiu no primeiro inajá que encontrou e ficou lá em cima colhendo coco.
Certo jovem, não muito belo, era admirado e desejado
por todas as moças de sua tribo por tocar flauta maravilhosamente bem.
Deram-lhe então o nome de Catuboré, (flauta encantada). Entre elas, a bela
Mainá conseguiu o seu amor; casar-se-iam durante a primavera. Certo dia, já
próximo do grande dia, Catuboré foi à pesca e de lá não mais voltou. Saindo a
tribo inteira à sua procura, encontraram-no sem vida à sombra de uma árvore,
mordido por uma cobra venenosa. Sepultaram-no no próprio local. Mainá,
desconsolada, passava várias horas a chorar sua grande perda. A alma de
Catuboré, sentindo o sofrimento de sua noiva, lamentava-se profundamente pelo
seu infortúnio. Não podendo encontrar paz pediu ajuda ao Deus Tupã. Este então
transformou a alma do jovem no pássaro Irapuru, que mesmo com escassa beleza
possui um canto maravilhoso, semelhante ao som da flauta, para alegrar a alma
de Mainá. O cantar do Irapuru ainda hoje contagia com seu amor os outros
pássaros e todos os seres da Natureza.
Irapuru = pássaro
Catuboré = nome índio - masculino
Mainá = nome índio - feminino
Catuboré = nome índio - masculino
Mainá = nome índio - feminino
Fonte: Escola Vésper (Estudo Orientado)
O Sol, que passava por perto, pensou que era macaco
que estava no alto da palmeira. Quando viu que era gente e reconheceu o Juruna,
disse assim: -Quase matei você naquele dia, mas agora você vai morrer. -Eu não
sou quem você está pensando. Sou outro - disse o moço lá do alto. Mas o Sol
sabia, e replicou: - É você mesmo. Desça daí que você vai morrer agora mesmo. O
Juruna, então, lá da copa da palmeira, pediu ao sol que parasse primeiro um
cacho de coco que ele ia jogar. -Pega primeiro este cacho que eu vou jogar.
-Joga - disse o Sol. O moço jogou o cacho e o Sol pegou. Era um cacho pequeno,
esse primeiro jogado.
O moço lá de cima tornou a pedir: Pega mais este. E
lá de cima jogou um cacho pesado, muito grande. O Sol estava esperando com os
braços estendidos para o alto. O cacho caiu direito no peito dele e o matou na
hora. Ao morrer o Sol, tudo ficou escuro. A borduna, com a morte do dono, no
mesmo instante correu e se transformou em cobra, a salamanta (uandáre-borduna
do Sol).
O sangue que escorria do Sol ia-se transformando em
aranha, formiga, cobra, lacraia e outros bichos. Essas cobras e aranhas que
forravam o chão não deixavam o moço Juruna descer da palmeira. ele, então, como
os macacos, foi passando de árvore para árvore. Só desceu quando viu o chão limpo.
Uma vez em baixo, procurou o caminho e voltou para a aldeia. Lá chegando, disse
para a mãe: -Matei o Sol. -Por que você fêz isso? eu bem não queria que você
saísse. Agora está tudo escuro - a mãe, assustada, lamentou. As crianças todas
começaram a morrer com a escuridão, porque ninguém podia pescar, caçar, ou
trabalhar. Lá na aldeia do Sol, a mulher dele já sabia da sua morte.
Disse aos três filhos que já estavam passando fome:
- IO pai de vocês morreu porque gostava de matar gente. Qual de vocês quer
ficar no lugar dele? Experimentou primeiro o mais velho dos três. Este, logo
que pôs na cabeça o penacho do pai, achou-o muito quente. Foi subindo, subindo,
quando estava quase amanhecendo não aguentou mais o calor e voltou. Aí foi a
vez do outro, o do meio. Colocou o penacho na cabeça e começou a subir. Passou
um pouco da altura a que chegou o primeiro, mas não aguentou também e voltou
dizendo que o calor era demais. Restava o mais novo. A mãe perguntou se ele
queria ficar no lugar do pai. Ele disse que sim. Adornou-se com o penacho e
subiu, mas como o calor era muito grande, andou depressa e se escondeu logo do
outro lado.
De regresso à casa, a mãe lhe disse: -Você aguentou
um pouco,mas é preciso andar mais devagar da outra vez, para o pessoal poder
matar peixe, caçar e trabalhar. Não corre não. O filho mais moço do Sol voltou
a fazer a caminhada, e fez toda ela devagar, desta vez. A mãe havia recomendado
a ele que parasse um pouco quando estivesse bem no alto, no meio do caminho, e
que começasse a descer bem devagar depois, parando um pouquinho também, antes
de entrar duma vez do outro lado. Quando a mãe viu o filho fazer todo o
caminho, como devia ser feito, chorou dizendo: -Você agora está no lugar de seu
pai, e não vai voltar mais para mim. O filho lá do alto por sua vez falou:
-Agora não posso mais voltar para morar com você. Vou ficar sempre aqui em
cima. A mãe, ao ouvir isso, chorou outra vez.
Poronominaré - O Dono da Terra
O velho pajé Cauará saiu para pescar, demorando
muito a voltar. A filha preocupada resolveu procurá-lo perto das águas mansas
do rio. Após muito andar, sentou-se na relva para descansar. Anoitecia e a lua
surgiu atrás das montanhas, ficando a jovem a contemplá-la. Subitamente,
destacou-se do astro um vulto muito estranho que vinha em sua direção. A índia
parecia hipnotizada, sendo em seguida tomada de profunda sonolência. Neste
momento o pajé, que havia retornado a aldeia, preocupou-se com a ausência da
filha. Tomou então um pote com paricá, pó alucinógeno que, inalado, lhe despertava
os poderes de pajé, entrando assim em transe.
Muitas sombras desfilaram a sua frente e entre elas
surgiu a silhueta de um homem que subia aos céus em direção à lua. Aos poucos,
outras imagens foram tomando formas humanas com cabeça de pássaros, anunciando
ao pajé que sua filha estava numa ilha, não muito distante dali. Imediatamente
Cauará dirigiu-se ao local revelado, encontrando a moça enfraquecida e faminta.
Voltaram à aldeia. Passados alguns dias, a jovem, preocupada contou ao pai um
sonho impressionante: no alto da montanha ela dava à luz uma criança muito
clara, quase transparente. Não havia leite em seus seios, sendo o seu filhinho
alimentado por uma revoada de beija-flores e borboletas.
À sua volta, outros animais que também se encantaram
com o bebê, lambiam-no carinhosamente. lgum tempo depois, a filha de Cauará
notou que, embora virgem, esperava uma criança. O pajé, estranhando o fato,
entrou novamente em transe. As alucinações lhe mostraram ser o homem que ele
vira subir à lua, o pai de seu neto. Numa madrugada em que os animais, as aves
e os insetos pareciam agitados e felizes, nasceu na serra de Jacamin o neto do
pajé, Poronominaré, o dono da terra. Ao ser informado do feliz acontecimento,
Cauará seguiu para a montanha para conhecer o herdeiro. Surpreso, encontrou a
criança com uma barbatana nas mãos, indicando a cada animal o seu lugar na
Natureza. Ao cair da tarde, quando tudo já estava em pleno silêncio, ouviu-se
uma cantiga feliz. Era a mãe do dono da terra que subia aos céus, levada por pássaros
e borboletas.
Fonte: Escola Vesper (Estudo Orientado)
Sinaá - Inundação e Fim do Mundo
Sinaá, o mais poderoso pajé da tribo Juruna, era
filho de mãe índia e pai onça. Do felino herdara o poder de enxergar também
pelas costas, o que lhe permitia observar tudo o que se passava ao seu redor.
Caminhava com sua gente por toda a região, ensinando a seus companheiros serem
bons e bravos. Seu povo alimentava-se de farinha de mandioca, raspa de madeira,
jabutis e sucuris, cobras imensas que habitavam na água. Certa vez, uma enorme
sucuri foi capturada e queimada por haver devorado diversos índios.
Inesperadamente brotaram de suas cinzas diversas espécies de vegetais, como a
mandioca, o milho, o cará, a abóbora, a pimenta, e algumas plantas frutíferas,
até então desconhecidas para aquela tribo.
Foi um pássaro surgido do céu que os ensinou a
utilizar e preparar tais alimentos e também a fazê-los multiplicar-se. A partir
daquele dia, fartas roças se formaram. Para garantir o sustento de seu povo,
Sinaá, face às fortes chuvas e à ameaça de grande inundação, construiu uma
imensa canoa, onde plantou mudas de cada espécie. Em poucos dias o rio
transbordou e a enchente cobriu toda a região, mas o grande pajé livrou seu
povo da fome. Já mais velho, Sinaá casou-se com uma aranha, que lhe teceu novas
vestes pra melhor abrigá-lo. Chegando a atingir idade bastante avançada, já
ostentava longas barbas brancas. Seus poderes, porém, permitiam-lhe remoçar a
cada banho de cachoeira, para que pudesse viver até o fim de seu povo, como
tanto queria. Quando isso ocorresse, Sinaá derrubaria a forquilha de uma enorme
árvore que apontava para o céu, sustentando-o. O céu desabaria sobre todos os
povos e o mundo teria o seu fim.
Fonte: Escola Vesper (Estudo Orientado)
Begorotire - O Homem Chuva
Begorotire era um índio feliz. Certo dia, porém,
havendo sido injustiçado na divisão da caça, ficou furioso, decidindo que
sairia à procura de outro lugar para viver. Cortou os cabelos da esposa e da
filha, pintando toda a família com uma tintura preta que havia retirado do
fruto do jenipapo. Pegou um pedaço de madeira pesada e resistente, fazendo a
primeira borduna Caiapó, com o cabo trançado em preto e a ponta tingida com
sangue da caça. Chegou então ao alto de uma montanha, levando sua arma, e
começou a gritar. Seus gritos soaram como fortes trovões. Girou fortemente a
borduna no ar e de suas pontas saíram relâmpagos. Em meio ao barulho e às
luzes, Begorotire subiu aos céus. Os índios assustados atiraram suas flechas,
mas nada conseguiu impedir que o índio desaparecesse no firmamento.
As nuvens, também assustadas, derramaram chuva. Por
isso Begorotire tornou-se o homem chuva. Tempos depois, levou toda a família
para o céu, onde nada lhes faltava, e de lá muito fez para ajudar os que na
terra ficaram. Juntos sementes de suas fartas roças, secou-as sobre o girau,
entregando-as a uma filha para trazê-las. A índia desceu dentro de uma cabaça
enorme amarrada a uma longa corda, tecida com as próprias ramas do vegetal.
Caminhando pela floresta, um jovem encontrou a cabaça, amarrou-a com os cipós e
pedaços de madeira e, com ajuda dos amigos levou-a para a aldeia. A mãe,
abrindo a cabaça, encontrou a índia, a filha da chuva, que estava magra e com
longos cabelos, por lá haver permanecido muito tempo.
A jovem foi retirada e alimentada, e teve seus
cabelos aparados. Ao ser indagada, a filha da chuva explicou por que viera,
entregando-lhes as sementes enviadas por seu pai e deixando a todos muito
felizes. O jovem que encontrou a cabaça casou-se com a moça, passando esta a
morar novamente na terra. Com o tempo, resolveu visitar os pais. Pediu ao
esposo vergasse um pé de Pindaíba, trazendo a copa até o chão. Sentou-se sobre
ela e, ao soltarem a árvore, a índia foi lançada ao céu. Ao retornar, trouxe
consigo toda a família e cestos repletos de bananas e outros frutos silvestres.
Begorotire ensinou a todos como cultivar as sementes e cuidar das roças,
regressando depois ao seu novo lar. Ate hoje, quando as plantas necessitam de
água, o homem chuva provoca trovões, fazendo-a cair sobre as roças para
mantê-las sempre verdes e fartas.
Fonte: Escola Vesper (Estudo Orientado)
Kuát e Iaê - A Conquista do Dia
No principio só havia a noite. Os irmãos Kuát e Iaê
- o Sol e a Lua - já haviam sido criados, mas não sabiam como conquistar o dia.
Este pertencia a Urubutsim (Urubu-rei), o chefe dos pássaros. Certo dia os
irmãos elaboraram um plano para captura-lo. Construíram um boneco de palha em
forma de uma anta, onde depositaram detritos para a criação de algumas larvas.
Conforme seu pedido, as moscas voaram até as aves, anunciando o grande banquete
que havia por lá, levando também a elas um pouco daquelas larvas, seu alimento
preferido, para convencê-las. E tudo ocorreu conforme Kuát e Iaê haviam
previsto.
Ao notarem a chegada de Urubutsim, os irmãos
agarraram-no pelos pés e o prenderam, exigindo que este lhes entregasse o dia
em troca de sua liberdade. O prisioneiro resistiu por muito tempo, mas acabou
cedendo. Solicitou então ao amigo Jacu que este se enfeitasse com penas de
araras vermelhas, canitar e brincos, voasse à aldeia dos pássaros e trouxesse o
que os irmãos queriam. Pouco tempo depois, descia o Jacu com o dia, deixando
atrás de si um magnífico rastro de luz, que aos poucos tudo iluminou. O chefe
dos pássaros foi libertado e desde então, pela manhã, surge radiante o dia e à
tarde vai se esvaindo, até o anoitecer.
Fonte: Escola Vesper (Estudo Orientado)
Iamulumulu - A formação dos rios
Savuru era um espírito que possuía duas esposas. A
pedido dos irmãos Sol e Lua, que as cobiçavam, as ariranhas o mataram, ficando
sua esposa mais velha com o sol e a outra com a lua. Seguiram então os casais
em direção à aldeia de Kanutsipei. Durante o caminho, os irmãos encontraram
dificuldades e necessitaram da ajuda de outros espíritos: Iumulumulu lhes curou
a impotência, Ierêp fez com que neles nascesse o ciúme das esposas e, uma vez
cansados, pediram a Uiaó algo que os fizessem adormecer. No dia seguinte,
dispostos, retomaram a caminhada. Chegando ao local pretendido, estavam
sedentos e pediram água a Kanutsipei.
A água, porém, estava suja. O irmão Lua, tomando a
forma de um beija-flor, voou rapidamente à procura de boa água. Ao voltar
contou-lhes que o espírito os enganara, mantendo escondidos muitos potes com a
mais pura água. Contrariados, os casais retornaram a sua aldeia, contando a
todos o que ocorrera. O Sol e a Lua uniram-se a vários espíritos, Vanivani,
Iananá, Kanaratê, os zunidores Hori-hori, invocando também os espíritos das
águas que habitavam a copa do Jatobá. Chamaram ainda as máscaras Jakui-katu,
Mearatsim, Ivat, Jakuiaép e Tauari. Reunidos, dançaram e resolveram voltar à
aldeia de Kanutsipei para tomarem posse de sua água, quebrando todos os potes,
conduzindo-a a outras regiões. Mearatsim, o primeiro a chegar, cantou para
espantar o dono do local.
Chegaram então os outros espíritos, à medida que os
potes foram quebrados, formou-se ali uma grande lagoa, de onde cada um dos
espíritos criou um rio. Assim, o Sol criou o Rio Ronuro; Vani-vani formou o Rio
Maritsauá; Kanaratê, o Paranajuva; Tracajá, o Kuluene e Iananá, um afluente do
Ronuro. A formação dos rios não agradou ao Sol, pois todos corriam para o
Morena, a região sagrada dos espíritos. Iniciou-se ali uma grande confusão, em meio
à qual a Lua foi engolida por um grande peixe. O Sol, desesperado, saiu à
procura do irmão, no ventre dos peixes que encontrava. Chegou a capturar o
Tucunaré, o Matrinxã, o Pirarara e a Piranha. Mas havia sido o Jacunaum que a
engolira, informou o Acará. E ambos, unidos, partiram à caça do peixe.
Pediram a Tapera (andorinha do campo) que lhes
conseguisse um grande anzol, ocultando-o num charuto. O Acará nadou à procura
de Jacunaum, oferecendo-lhe fumo. Desta maneira, o Sol conseguiu fisgá-lo.
Entretanto, dentro do peixe, restavam apenas os ossos de seu irmão. Desejando
ardentemente que a Lua revivesse, o Sol arrumou no chão seu esqueleto,
cobrindo-o com as folhas perfumadas do Enemeóp. Aos poucos, como por encanto, a
carne foi surgindo, revestindo os ossos até formar um novo corpo. Faltava-lhe
ainda a vida. O Sol então introduziu um mosquitinho em sua narina,
provocando-lhe um espirro, que a fez finalmente despertar. Assim foram criados
os rios e, a partir daí, iniciou-se a prática da pajelança, tendo sido o Sol o
primeiro pajé.
Fonte: Escola Vesper (Estudo Orientado)
Iguaçu - As Cataratas que
surgiram do Amor
Distribuída em várias aldeias, às margens do sereno
Rio Iguaçu, a tribo dos Caiangangs formava uma poderosa Nação Indígena. Tinham
como deuses Tupã, O Deus do Bem e M'Boy, seu filho rebelde, o Deus do Mal. Era
este o causador das doenças, tempestades, das pagas nas plantações, além dos
ataques de animais ferozes e das demais tribos inimigas. A fim de se protegerem
do Deus do Mal, em todas as primaveras, os Caiangangs a ele ofereciam uma bela
jovem como esposa, ficando esta impedida para sempre de amar alguém. Apesar do
sacrifício, esta escolha era para ela um privilégio, motivo de honra e orgulho.
Naípi, filha de um grande cacique, conhecida em todos os cantos por sua beleza,
foi desta vez a eleita.
Feliz, aguardava com ansiedade o dia de tornar-se
esposa do temido Deus. Iniciaram-se assim os preparativos da grande festa.
Convidados chegavam de todas as aldeias para conhecê-la. Entre eles estava
Tarobá, valentes guerreiros, famosos e respeitados por suas vitórias. Ocorreu
que, talvez pela vontade do bom Deus Tupã, Tarobá e Naípi vieram a se
apaixonar, passando a manter encontros secretos às margens do rio. Sem ser
notado, M'Boy acompanhava os acontecimentos, aumentando a sua fúria a cada dia.
Na véspera da consagração, os jovens encontraram-se novamente às margens do
rio. Tarobá preparou uma canoa para fugirem no dia seguinte, enquanto todos
adormeciam, fatigados com as danças e festejos e sob efeito das bebidas
fermentadas.
Iniciaram a fuga e, já à boa distância do local
M'Boy concretizou sua vingança. Lançou seu poderoso corpo no espaço em forma de
uma enorme serpente, mergulhando violentamente nas tranqüilas águas e abrindo
uma cratera no fundo do rio Iguaçu. Formaram-se assim as cataratas, que
tragaram a frágil canoa. Tarobá foi transformado em uma palmeira no alto das
quedas e Naípi em uma pedra nas profundezas de suas águas. Do alto, o jovem
apaixonado contempla sua amada, sem poder tocá-la. Restando-lhe apenas murmurar
seu amor quando a brisa lhe sacode a fronde.
Em todas as primaveras lança suas flores para Naípi,
através das águas, como prova de seu amor. A jovem está sempre banhada por um
véu de águas claras e frescas, que lhe amenizam o calor de seus sentimentos.
Ainda hoje, M'Boy permanece escondido numa gruta escura, vigiando atentamente
os jovens apaixonados. Ouve-se dizer que, quando o arco-íris une a palmeira à
pedra, pode-se vislumbrar uma luz que dá forma aos dois amantes, podendo-se ouvir
murmúrios de amor e lamento.
Fonte: Escola Vesper (Estudo Orientado)
Mundo Novo - O paraíso terrestre
A nação indígena dos Caiapós habitava uma região
onde não havia o sol nem a lua, tampouco rios ou florestas,ou mesmo o azul do
céu. Alimentavam-se apenas de alguns animais e mandioca, pois não conheciam
peixes, pássaros ou frutas. Certo dia, estando um índio a perseguir um tatu
canastra, acabou por distanciar-se de sua aldeia. Inacreditavelmente, à medida
que este se afastava, sua caça crescia cada vez mais. Já próximo de alcançá-la,
o tatu rapidamente cavou a terra, desaparecendo dentro dela. Sendo uma imensa
cova, o indígena decidiu seguir o animal, ficando surpreso ao perceber que, ao
final da escuridão, brilhava uma faixa de luz. Chegando até ela, maravilhado,
viu que lá existia um outro mundo, com um céu muito azul e o sol a iluminar e a
aquecer as criaturas; na água muitos peixes coloridos e tartarugas.
Nos lindos campos floridos destacavam-se as frágeis
borboletas; florestas exuberantes abrigavam belíssimos animais e insetos
exóticos, contendo ainda diversas árvores carregadas de frutos. Os pássaros
embelezavam o espaço com suas lindas plumagens. Deslumbrado, o índio ficou a
admirar aquele paraíso, até o cair da noite. Entristecido ao acompanhar o pôr
do sol, pensou em retornar, mas já estava escuro...Novamente surge à sua frente
outro cenário maravilhoso: uma enorme lua nasce detrás das montanhas, clareando
com sua luz de prata toda a natureza. Acima dela multidões de estrelas faziam o
céu brilhar. Quanta beleza! E assim permaneceu, até que a lua se foi, surgindo
novamente o sol. Muito emocionado, o índio voltou à tribo e relatou as
maravilhas que viera a conhecer. O grande pajé Caiapó, diante do entusiasmo de
seu povo, consentiu que todos seguissem um outro tatu, descendo um a um pela
sua cova através de uma imensa corda, até o paraíso terrestre. Lá seria o
magnífico Mundo Novo, onde todos viveriam felizes.
Fonte: Escola Vesper (Estudo Orientado)
Muiraquitã
Muiraquitã é o nome que os índios davam a pequenos
objetos, geralmente representando uma rã, trabalhados em pedra de cor verde,
jadeíta ou nefrita, podendo existir em outros minerais e de outras cores.
Conhecidos desde os tempos da descoberta, foi entre os séculos XVII e XIX que
se tornaram mais procurados, sendo atribuídas qualidades de amuleto ou talismã
e ainda virtudes terapêuticas. O muiraquitã atraía sorte para os seus
possuidores e também curava quase todas as doenças. Conta a lenda que
antigamente havia uma tribo de mulheres guerreiras, as ICAMIABAS, que não
tinham marido e não deixavam ninguém se aproximar de sua taba. Manejavam o arco
e a flecha com uma perícia extraordinária. Parece que Iací , a lua, as
protegia. Uma vez por ano recebiam em sua taba os guerreiros Guacaris, como se
fossem seus maridos.
Se nascesse uma criança masculina era entregue aos
guerreiros para criá-los, se fosse uma menina ficavam com ela. Naquele dia
especial, pouco antes da meia - noite, quando a lua estava quase a pino,
dirigiam-se em procissão para o lago, levando nos ombros potes cheios de
perfumes que derramavam na água para o banho purificador. À meia- noite
mergulhavam no lago e traziam um barro verde, dando formas variadas: de sapo,
peixe, tartaruga e outros animais. Mas é a forma de sapo a mais representada
por ser a mais original. Elas davam aos Guacaris, que traziam pendurados em seu
pescoço, enfiados numa trança de cabelos das noivas, como um amuleto. Até hoje
acredita-se que o Muiraquitã traz felicidades a quem o possui, sendo, portanto,
considerado como um amuleto de sorte. O muiraquitã deu muito o que falar e
gerou muitas controvérsias. Foi contestada inclusive sua origem, que não seria
amazônica e sim asiática.
Icamiabas significa “mulheres sem maridos”.
Fonte: Escola Vesper (Estudo Orientado)
Iamuricumás - As Mulheres sem o
Seio Direito
Em meio a uma grande festa, os índios haviam
concluído a cerimônia de furar as orelhas de seus meninos, após a qual as
crianças permanecem de resguardo. Segundo o costume, os homens da tribo foram à
pesca para bem alimentá-las, enquanto as mulheres prosseguiram com o corte dos
cabelos. Percebendo que os pais demoravam a chegar, o filho pajé decidiu ir ao
rio, onde pôde observa-los batendo o timbó e pegando muitos peixes.
Repentinamente, como por encanto, os índios transformaram-se em animais
selvagens. Assustado o menino correu à tribo, relatando à sua mãe o que
sucedera. Esta avisou as outras mulheres e, reunidas, preparavam-se para fugir
dentro de poucos dias, pois os homens da pescaria agora representavam perigo! Pintaram-se
e ornamentaram o corpo como se fossem homens.
Em seguida a esposa do pajé, à frente do grupo,
entoou um canto, conduzindo-o até a floresta. Lá, untaram-se de veneno
transformando-se no espírito Mamaé. Após cantarem e dançarem dois dias sem
cessar, pediram a um velho que, pousando sobre as costas a casca de um tatu,
seguisse à sua frente, abrindo-lhes passagem. O homem passou a agir como se
fosse o próprio animal. As mulheres, indiferentes aos homens da pescaria,
seguiram o seu caminho, a cantar e a dançar, levando consigo mulheres de mais
duas aldeias. Suas crianças foram lançadas ao rio, tornando-se peixes. Ainda
hoje, as Iamuricumás viajam dia e noite, armadas de arco e flecha. Não possuem
o seio direito, para melhor manejá-los. E assim, cantando e dançando, continuam
a abrir caminhos pela floresta, seguindo eternamente o homem tatu.
Fonte: Escola Vesper (Estudo Orientado)
Uma lenda: o cupim
Obrigaram uma moça a se casar com um rapaz, contra a
sua vontade. Ela não gostava do marido de jeito nenhum. À noite, quando ele
vinha se deitar, tentando abraçá-la, ela descia da rede e ficava de costas.
Toda noite era assim. Para ver se aos poucos ela se acostumava, o pai convidou
o genro para caçarem no mato, levando-a junto. Mas ela continuava a não querer
dormir com o marido. O pai teve uma idéia. Pegou muitos vaga-lumes,
"bagapbagawa man" na nossa língua. Sem que a filha percebesse, pregou
grande quantidade de vaga-lumes no cupim, que chamamos "txapô". Fez
isso de dia. Atou a rede da filha bem pertinho do munduru, que é um ninho de
cupim, e a rede do marido do outro lado. Assim fez um tapiri, uma cabana.
Anoiteceu, jantaram, a moça deitou na própria rede. Dormiu. Quando foi no meio da
noite, acordou e viu aquele munduru alumiado. Assustou que só vendo e deitou
com o marido. Nunca mais largou o marido, e até hoje existe a luz no munduru.
Extraído do site: www.brasil.com.br
HISTÓRIA REAL: O GRANDE CHEFE
PENON
(Fernando Schiavini)
Morreu no dia 07 de fevereiro, na Aldeia Pedra
Branca, Terra Krahô, estado do Tocantins, o grande chefe PEDRO PENON. Melhor
seria dizer " o grande sábio PEDRO PENON". Na verdade, ele foi as
duas coisas: um grande chefe de seu povo até sua maturidade e um grande sábio
em sua longa velhice. Penon morreu com aproximadamente 95 anos, como morrem os
grandes sábios: apagando-se lentamente como a chama de uma vela, dando
conselhos para seu povo até seu último momento de lucidez.
O que sei de sua vida foi contado por ele mesmo, em
fragmentos de conversas, durante nossa convivência. Ele era ainda bastante
jovem, quando foi praticamente convocado pelo seu povo para assumir a chefia da
aldeia Pedra Branca, a maior da três aldeias Krahô existentes naquela época.
Ele estava então iniciando seus estudos na cidade de Carolina-MA.. Já sabia ler
e escrever razoavelmente e talvez por isso tenha sido chamado. O momento era de
extrema gravidade. O povo Krahô acabara de sofrer um grande massacre,
desfechado pelos criadores de gado, na região de Itacajá. O ano era 1940. O
governo havia mandado tropas para prender os responsáveis pela chacina e falava
em criar uma " Inspetoria do S.P.I." no território Krahô, que nem
demarcado era. O povo estava amedrontado e sem rumo Muitas coisas acontecendo
ao mesmo tempo: soldados do exército, sertanistas, indigenistas, jornalistas,
muitas propostas, o governo falando em demarcar um território fixo, que
precisava ser delimitado. O momento exigia um líder capaz de entender
minimamente toda aquela complicação, que soubesse conversar e negociar com
aquela gente. Foi aí que, provavelmente por ser o único Krahô que se arriscara
fora de seu povo para estudar, que convocaram o Penon e fizeram dele um "
Parrití" (chefe de aldeia), apesar de, na época, ser muito jovem para para
o cargo, segundo os padrões Krahô.
Penon se tornou então um grande chefe. Liderou a
delimitação do território Krahô, com 320.000 hectares, que representa hoje
talvez a maior área contínua de cerrados preservada de todo o Centro-Oeste
Brasileiro. Ao perceber que estava demorando muito os trabalhos de demarcação,
encetou uma longa viagem a pe´, de sua terra à cidade de Goiânia e daí, em
várias conduções ao Rio de Janeiro, onde conseguiu falar com o Presidente
Getúlio Vargas.
A terra Krahô só viria a ser demarcada
definitivamente em 1951. Penon liderou então a retirada dos inúmeros posseiros
que haviam ficado localizados no interior do território e cuidou sem cessar
para que eles não retornassem. Além de um grande líder, Penon era também um
diplomata. Intermediou durante anos a difíceis e complicadas relações, tanto
com os agentes do governo que, de fato, havia instalado uma " Inspetoria
" do SPI. na Terra Krahô, quanto com os regionais, apaziguando e
acomodando uma situação ainda bastante conflituosa com o seu povo. Assim,
angariou fama de homem sério, enérgico, honesto e cumpridor da palavra
empenhada, tanto com os funcionários do governo como em toda a região do
entorno da Terra Krahô.
Penon permaneceu como chefe da Pedra Branca até o
ano de 1985, quando passou a responsabilidade para seu filho mais velho. No dia
em que cumpriu esse ato, apoderou-se de um bastão, mais pela simbologia que por
necessidade e passou a ser o " mekoré" ( velho, sábio) da aldeia.
Mesmo assumindo o papel de ancião, empreendeu talvez
o seu maior feito guerreiro: liderou, no ano de 1987, uma comitiva de jovens
Krahô à cidade de São Paulo, em busca da KYIRÉ - a machadinha de pedra
semilunar, sagrada para os Krahô, que se encontrava no Museu Paulista. Para
isso, permaneceu em São Paulo durante três meses ininterruptos. Todos os seus
acompanhantes retornaram após alguns dias de permanência na capital, enviando
outros guerreiros em seus lugares. Penon se investira de tal forma da figura
guerreira em busca de seu tesouro cultural, que aparentemente nada sentia, as
despeito de poucas vêzes ter saído de sua aldeia. Por isso ganhou um apelido de
seus companheiros de aventura: " Ikran-ken" - cabeça de pedra. Levou
de volta a machadinha e iniciou um longo processo de retransmitir aos jovens as
histórias e os cantos a ela ligados.
Aos poucos foi ficando cego, por conta de uma
catarata que lhe cobria uma das vistas. A outra já havia perdido há tempos, por
causa de uma operação mal feita, realizada por estudantes universitários em
Goiânia. Por isso negava-se terminantemente a se operar novamente. O processo
de avanço da cegueira consolidou-se definitivamente há cerca de dez anos.
Passou então a se locomover pouco, puxado pelo seu velho bastão. Com o tempo,
seus membros se atrofiaram e ele não caminhava mais. Mas fazia questão absoluta
de participar de todas as reuniões importantes da aldeia, nem que para isso
tivessem que carregá-lo nas costas. Jamais se negava, a qualquer hora que
fosse, de contar as histórias antigas de seu povo, para quem o procurasse.
Nos últimos anos foi também ficando surdo.. Nenhum
tremor de mãos, nenhum gemido, imprecação ou reclamação, a não ser de que seu
povo não o procurava mais como antes e ele queria continuar ajudando "com
a garganta", como dizia.. Morreu quieto, sereno, como só os grandes sábios
sabem morrer .
Tive o grande privilégio de ser amigo e discípulo de
Penon por mais de vinte anos. Credito a ele grande parte da minha experiência
acumulada e de posturas diante da vida. Considero-o mesmo um grande mestre e
ele próprio me contou, há poucos anos, já cego e sem poder se locomover, que
tinha constantes visões espirituais e que conversava com PAPAM - DEUS.
Penon vai virar pássaro, quati, tatu, árvore,
estrêla ou qualquer outro ser, nas longas histórias orais de seu povo, em
sucessivas gerações, queira Deus, através dos novos milênios.
Fonte: Funai
Dicas de Livros de Literatura Infantil com foco Indígena
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