Ilustração de Rogerio Borges em Kindlin na Floresta Encantada |
"O livro te leva aonde você quiser!"
Em “Prazer em Ler: Um bate-papo sobre leitores em formação”, Bandeira abordou o contexto do local onde estávamos (o ex-presídio do Carandiru) transformado em Parque da Juventude e Biblioteca de São Paulo. O autor nos leva a crer que as casas de detenção onde os excluídos do convívio na sociedade são jogados só vão ser menos lotadas quando a educação os incluir. E para isso, a leitura é fundamental.
Mas não a leitura obrigatória, árida, distante da capacidade de compreensão dos leitores em formação. E sim a “leitura doce”, próxima, libertadora, transformadora.
Mas como a leitura pode ser próxima, livre e doce? Bem, cabe defender a importância dos pais, professores, contadores de histórias e tantos outros mediadores no apoio na transição da fala para a escuta, da escuta para a escrita, do real para o imaginário (e vice-versa).
O exemplo de uma das professoras presentes no evento também foi desafiador: ela deixou com que seus alunos escolhessem a leitura “obrigatória”. Um dos livros eleitos pelos jovens foi “A Marca de uma lágrima” (de Pedro Bandeira, claro). O trabalho final dos alunos resultou um áudio-book entregue ao escritor.
Ações como essa emocionam Bandeira e o fazem demonstrar o seu carinho pelos jovens e adultos leitores e incentivadores de leitura. Tanto que ele parou a sua fala no meio para uma foto com a professora e seus pupilos e depois do encontro ainda atendeu os fãs (como eu, rs) que queriam um autógrafo.
É perceptível que o grande escritor é, acima de tudo, ouvinte, contador de histórias, livre pensante. O seu jeito próximo e livre de se expressar (ao vivo ou nos livros) incentiva os jovens a terem suas próprias ideias, a perceber que podem sim, ser entendidos e se fazer entender.
Presos pela liberdade de comprar, viciados em abrir “a felicidade” numa garrafa de refrigerante, nossas mentes obedientes seguem um caminho de depressão pessoal, exclusão social e devastação ambiental... até que narrativas como “A droga da obediência” nos fazem ver que sempre haverá karas dispostos a achar um antídoto libertador para as mentes domesticadas.
Um destes antídotos é sem dúvida a descoberta do prazer em ler. Quem aprende a ler nunca mais se sente sozinho. Quem lê aprende a combater os imperativos do ter. Aprende a ser. Começa a ver o mundo com os olhos do outro, compreende a beleza da natureza, assim como a sua própria natureza bela. Sente-se livre, poderoso, independente, capaz. É capaz de escolher por si só e encontrar, em si, a possibilidade de ser feliz, de amar, de sonhar e, mesmo que o prendam, é capaz de viajar para onde quiser.
Quase no fim de papo sobre os espontâneos encantos da leitura, somos lembrados que alguns verbos não aceitam ser conjugados no imperativo, como amar e sonhar. “Não dá pra dizer: Sonhe! Ame!” Me ame! Tem que haver sedução, prazer, conquista.
Com o verbo ler também é assim: “Não dá pra dizer: LEIA!” Tem que haver sedução, prazer, conquista. Os professores, bibliotecários, mediadores de leitura e, principalmente, os pais, tem que tentar entender o que irá seduzir o jovem para a leitura. O que irá despertar paixões pela palavra escrita, pela narrativa imaginada?! Aos poucos, as obras literárias escolhidas por ele, jovem, e as recomendadas por nós, adultos, vão começar a se cruzar.
Ao descobrir que a leitura faz uma revolução interna no pensar, emocionar, comunicar-se, crescer e evoluir, o jovem irá querer sempre desfrutar dessas novas revoluções!
E falando em revoluções, quero terminar este “bate-papo” com Pedro Bandeira e os leitores do blog, com a seguinte indagação: a leitura pode ser mesmo revolucionária, transformadora? Veja o raciocínio de Bandeira para responder a esta pergunta: “Um livro não muda o mundo. O que muda o mundo são as pessoas. Mas um livro pode mudar uma pessoa”.
É Pedro, o que lemos, o que contamos, o que escolhemos ouvir, o que escrevemos e colocamos em prática nos levam aonde quisermos ir! Obrigado por nos ajudar, com sua literatura, a nos comunicar com os jovens (inclusive aqueles que fomos) e assim, a chegar mais próximos de onde queremos ir!
Fabio Lisboa (www.contarhistorias.com.br)
Confira a Programação Cultural Completa da BSPConfira a Agenda de Contação de Histórias com Fabio Lisboa na BSP
Assista abaixo a momentos marcantes do Segundas Intenções de 27/06/11 com Pedro Bandeira (Trailer)
Caso o vídeo não esteja aparecendo clique no link: degustação do bate-papo de Pedro Bandeira na Biblioteca de São Paulo
1 comentários:
Muito pontual a afirmação de que quando aprendemos a viajar, ninguém pode nos roubar essa experiência. É íntimo, é verdadeiramente seu. Gosto muito do exercício de pedir que cada criança desenhe um trecho que mais lhe tenha chamado a atenção durante a leitura de uma história. O resultado é a prova de que o livro garante a cada leitor sua própria viagem. Não existe itinerário definido, há talvez algumas margens, mas é cada um de nós que decide de qual lado vamos ficar, se alheios ou mergulhados. Ler, infinitivo, mas não imperativo. Bela abordagem...
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