Aqui você encontra a arte de contar histórias (storytelling)
entrelaçada à empatia, mediação de leitura, educação, brincar, sustentabilidade e cultura de paz.

Contos, simbologias e saúde mental

Ilustração: Eduardo Ferigato
Ao escrever sobre a saúde mental, o psicanalista-teólogo-escritor Rubem Alves constrói uma interessante metáfora dividindo o “eu” em dois:
“Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente "equipamento duro", e a outra denomina-se software, "equipamento macio". O hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. O software é constituído por entidades "espirituais" - símbolos que formam os programas e são gravados (...).
Nós também temos um hardware e um software. O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo "espirituais", sendo que o programa mais importante é a linguagem.
Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software. Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam. Não se conserta um programa com chave de fenda. Porque o software é feito de símbolos, somente símbolos podem entrar dentro dele. Assim, para se lidar com o software há que se fazer uso dos símbolos. Por isso, quem trata das perturbações do software humano nunca se vale de recursos físicos para tal. Suas ferramentas são palavras, e eles podem ser poetas [contadores de história], humoristas, palhaços, escritores, gurus, amigos e até mesmo psicanalistas.”

O homem não inventou nada mais simbólico do que a arte, em especial, a arte de contar histórias.

Desde os tempos do latim, arte (ars) é conexão: cada parte da história se liga a uma simbologia e cada simbologia atinge um local de nosso software mental. Todos se conectam aos personagens, mas cada um os interpreta usando os seus programas mentais, assim, a memória interna do sujeito associa as simbologias universais às suas vivências pessoais. Por isso, num grupo de crianças (ou adultos), uns sentem muito medo da bruxa, outros sentem ódio, outros compaixão.


A bruxa simbólica assume a forma de nossas experiências no mundo físico. Ou seja, não são os personagens dos contos que tiram o sono da criança. É a sensação de abandono porque o pai e a mãe ficaram presos no trânsito e a filha foi a última a sair da escola. Essa sensação pode virar um pesadelo sem sentido e sem solução ou ser apenas mais um desafio – se o sentimento for  reelaborado através da simbologia de um conto. A princesa não foi abandonada, ela só demorou para ser resgatada da torre porque o príncipe teve que matar um dragão muito poderoso. Mas o príncipe, o protetor, o pai, ama a princesa acima de tudo. E que bom se a menina pedir para que a história seja recontada várias vezes! E se o atraso dos pais na escola acontecer de novo, talvez ela comente: - Pai, você demorou hein! – Desculpe filha, você sabe, o trânsito....  – Você teve que matar muitos dragões, papai?

Sim, durante o resto de nossas vidas seguiremos matando dragões e ensinando nossos filhos a matarem (e também a salvarem, por que não?) dragões. Serão competitivos e devastadores “dragões hardware” duros de matar do mundo real, mas ainda assim, os mais difíceis mesmo, ironicamente, serão os “dragões software”, aqueles que vão se infiltrando aos poucos, viram bruxas, viram vírus, apagando nossa coragem e povoando de medos o nosso mundo interno.

E o pior, ressalta Rubem Alves, o nosso hardware, o nosso corpo, é sensível às interpretações de nosso software. Por isso, mesmo sem bactérias ficamos doentes de sentimentos ou de estresse; mesmo sem apanhar, choramos; mesmo acompanhados, nos sentimos sozinhos.

Então onde podemos encontrar espadas e escudos para nos proteger e manter nossa saúde mental mesmo convivendo com dragões e bruxas? Nos contos, claro! Claro que os caminhos até as armas protetoras nem sempre são fáceis de encontrar nos contos. E neles não basta, depois, teremos que achar também, em nosso software, essas armas!

Ora, para lembrar onde estão, é só gravar os caminhos das melhores histórias na memória! E caminhar por elas (aí sim, gravação protegida em hardware e software)! Bem, se a gente se perder, se “der pau”, se por acaso esquecermos como recontá-las aos outros (e a nós mesmos) que tal arranjar um tempo para (re)visitar os livros, sites, pais, filhos, mestres, amigos...

Referências
ALVES, Rubem - Sobre o tempo e a eternidade - Campinas: Speculum/Papirus


Saúde e Sustentabilidade

II Semana da Sustentabilidade
O Instituto Baraeté está realizando junto à Livraria Cultura a II Semana da Sustentabilidade, com mesas-redondas, palestra, oficinas e exposições.

Hoje, dia 2 de junho, das 19h30 às 21h30 no auditório da Livraria Cultura no Bourbon Shopping (Rua Turiassú, 2100 - Pompéia) teremos uma discussão sobre “Saúde e Sustentabilidade”, falando sobre os impactos que o estilo de vida que levamos causa para nossa saúde individual, coletiva e do meio ambiente, além de quais hábitos podemos inserir e repensar no dia-a-dia a fim de manter o equilíbrio de corpo e mente. 

Mediação:
Maluh Barciotte - Bióloga, Mestre em Biologia, Doutora em Saúde Pública e Ambiental pela USP, é palestrante e consultora – entre outros temas - em saúde e sustentabilidade, ética e cultura de paz.

Participantes:
Evangelina Vormittag: médica consultora na área de saúde e sustentabilidade, especializada em Patologia Clínica e Microbiologia, é diretora-presidente do Instituto Saúde e Sustentabilidade;
Lorene Soares: psicóloga, psicoterapeuta reichiana, doutoranda e mestre em Psicologia Clínica, analista bioenergética e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Análise Bioenergética;  
Christian Barbosa: Cientista de computação e o maior especialista no Brasil em administração de tempo e produtividade;
Monja Coen: missionária oficial da tradição Soto Shu - Zen Budismo com sede no Japão e primaz Fundadora da Comunidade Zen Budista, criada em 2001, com atual sede no Pacaembu.

Site do Instituto Baraeté: http://institutobaraete.org/blog/

Atividade Infantil
Domingo, 5 de junho às 15h
Tema: II Semana da Sustentabilidade - A Turma do Cocoricó: Sabendo Usar Não Vai Faltar
Local: Livraria Cultura
Unidade: Bourbon Shopping São Paulo
Endereço: R. Turiassu, 2100 - Perdizes - São Paulo/SP
Local: Setor Infantil e Térreo

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