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O que é Lusofonia?

Imagem: Rede CPLP Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

Reflexões acadêmicas sobre o conceito homenageado na Bienal do Livro 2010: o que une Brasil, Portugal e os países falantes da língua portuguesa


O autor Fernando Cristóvão[1] faz ampla pesquisa sobre o tema, começando pela etimologia da palavra Lusofonia: “fala dos lusos, dos portugueses”. O autor afirma, porém, que Lusofonia se remete a fala de todos os que utilizam a língua portuguesa, em especial, como língua oficial.



língua portuguesa é a língua oficial de AngolaBrasilCabo VerdeGuiné-BissauMoçambiquePortugal e São Tomé e Príncipe. É também uma das línguas oficiais da Guiné Equatorial (com o Espanhol e o Francês), Timor-Leste (com o tétum) e Macau (com o Chinês). A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) agrega Timor-Leste ao grupo dos 7 países que tem o Português como língua oficial única ou principal.

Fernando Cristóvão afirma que alguns autores rejeitam o conceito de Lusofonia, suspeitando que essa não passa de um projeto neocolonialista na área cultural – perde-se a colônia, conserva-se o domínio cultural e da língua.

Porém, a maioria dos estudiosos da língua portuguesa “reconhecem a existência da Lusofonia, e contribuem para a sua construção” [2] , afinal para todos os cidadãos dos países de língua portuguesa, esta língua é tão própria e tão sua, como para os próprios portugueses. Assim, deve-se pensar no idioma não como pertencente a nenhuma pátria de forma específica, não como sendo monopólio de uma ou outra das nações – deve-se pensar que todas as nações desse mundo lusófono, falam a mesma língua, porém cada um a seu modo. Assim,

“A Lusofonia não é pois uma operação neocolonialista. Resulta da vontade conjunta de Portugal, do Brasil e dos países africanos que foram colônias portuguesas. Antes de ser uma teoria ou um projecto, é um fato indesmentível, o da vontade dos oito países em utilizarem o português como sua língua, materna ou oficial,e que, por ela e por uma história comum se sentem ligados uns aos outros como grupo sociocultural que procura também organizar-se em grupo político”.[3]

Portanto, coloca em sua argumentação que a vontade de construir a Lusofonia é de fato antiga, partindo do sonho do pensador brasileiro, Sílvio Romero, que no início do século XX, constata que os países e colônias portuguesas, precisam se unir em prol de formar uma defensiva contra “concorrentes estranhos” – ou seja de outros países e comunidades imperialista e racistas, que se desenhavam no século em questão.

Assim, é colocado que a Lusofonia compõe-se de “três círculos concêntricos de interdependência e solidariedade”. Sendo eles:
O primeiro círculo: formado pelas oito nações lusófonas (Angola, Brasil, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, S. Tomé e Príncipe e Timor-Leste) que só teriam a ganhar ao com a Lusofonia, afinal unidos podem resistir melhor a iniciativa e a ambição de outros grupos lingüísticos que através da cultura e do comércio, se fazem cada vez mais presentes e podem até, transformar-se em projetos de dominação cultural, como o caso do Inglês e Chinês.

O segundo círculo: é composto pelas outras línguas e culturas de cada uma dessas oito nações. Ao estabelecer um diálogo entre a língua e cultura comum aos oito, com suas próprias línguas e culturas, é visado proteger e estimulá-las de maneira nacional e internacional.

O terceiro círculo: composto por indivíduos e instituições alheios aos países lusófonos, mas que mantém uma relação, seja por empatia, erudição, ou outro interesse, com a nossa língua em comum.

No Timor-Leste, por exemplo, parece haver um interesse em utilizar de fato o português (lá a língua mais falada é o tétum, uma língua austronésia bastante influenciada pelo português). Segundo o artigo Geografia da Língua Portuguesa (http://pt.wikipedia.org/wiki/Geografia_da_língua_portuguesa) “A reintrodução do português como língua oficial causou suspeição nalguns jovens timorenses, que foram educados no sistema indonésio e não o falam. O português em Timor-Leste é falado por menos de 20% da população (13,6% de acordo com o primeiro censo pós-independência, realizado em 2004), na sua maioria a geração mais velha, mas essa percentagem está a crescer visto que o português tem sido ensinado à geração mais nova e a adultos interessados. Timor-Leste pediu às outras nações da CPLP para ajudar na reintrodução do português como língua oficial. O português é usado como forma de se ligar a uma comunidade internacional maior, assim como para diferenciar-se da Indonésia.Xanana Gusmão, ex-presidente de Timor-Leste, acredita que o português será bastante falado, de novo, dentro de dez anos.”

A tentativa do Timor Leste em criar uma identidade cultural diferenciada da Indonésia passa pelo uso de uma língua diferenciada. É um exemplo do poder cultural que uma língua agrega a uma nação. Mas é bom lembrar que o fortalecimento do diálogo intercultural e lingüístico entre os países lusófonos não deve servir de pretexto para dificultar o diálogo com outras culturas e línguas.

Quanto ao futuro da lusofonia, se depender do autor Fernando Cristóvão, será promissor:

“Encaramos o futuro com optimismo e esperança, libertos de fantasmas e tabus do passado, porque depois de uma fase imperial Lusitana, se passou outra de política cultural luso-brasileira, e destas, nos nossos dias, para um diálogo e política concertada de democracia lusófona”.[4]


Histórias dos países lusófonos:
Fabio Lisboa conta histórias lusófonas na Bienal do Livro 2010 – Estande da PNLL (Plano Nacional do Livro e da Leitura – www.pnll.gov.br). Mais informações em www.contarhistorias.com.br

Programação Cultural em destaque na Bienal do Livro 2010



Texto
Referências:
Textos selecionados pelo professor Emerson de Estudos comparados de Língua portuguesa da Faculdade de Letras da USP (Universidade de São Paulo):
CRISTÓVÃO, Fernando. Cruzeiro do Sul, a Norte.  Lisboa: Imprensa Nacional , 2005
LOURENÇO, Eduardo. A Nau de Icaro seguido de Imagem e miragem da Lusofonia. Lisboa: Gradiva

Imagem:

Estatísticas sobre os países lusófonos:

Mais sobre lusofonia:
Lusofonia (Portal do Governo)
Portal da Lusofonia
Instituto Camões
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa

Entenda algumas razões apresentadas pela CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) para a criação do Acordo Ortográfico:


[1] CRISTÓVÃO, Fernando. Cruzeiro do Sul, a Norte.  Lisboa: Imprensa Nacional , 2005 p.374
[2] LOURENÇO, Eduardo. A Nau de Icaro seguido de Imagem e miragem da Lusofonia. Lisboa: Gradiva p. 377
[3] Idem, Ibidem p. 379
[4] Idem, Ibidem p. 389 - citação de Fernando Cristóvão.

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