No
tempo em que caçadores usavam facas para caçar e reis usavam facas para
colecionar, houve uma grande festa reunindo diversas vilas do reinado. O
caçador do vilarejo mais distante também foi à festa.
Os
convidados deste local periférico levaram dois dias para chegar e graças ao
caçador puderam se alimentar de carne fresca durante a viagem. Ele era um homem
quieto, saía cedo para caçar e voltava tarde, quase sempre trazendo algo de bom
que dividia com todos, obviamente ficando com uma generosa parte da caça para ele mesmo.
E os conterrâneos do caçador o queriam bem por ele ser assim.
Durante
as festividades houve um farto banquete e todos cantaram e dançaram – com exceção
do caçador da vila distante que preferiu ficar apreciando a coleção de facas do
rei. O homem gostou muito de uma das facas - justo a preferida do rei - que era
muito afiada e toda ornamentada, com o cabo esculpido em madeira e cravejado de
garras e dentes de predadores selvagens. Acontece que quando todos foram embora
da festa a faca preferida do rei sumiu.
Dois
dias depois, quando as pessoas chegaram de volta às suas moradas, junto com elas,
chegou a notícia do sumiço da faca do rei.
E
naquela pequena vila logo pensaram: Quem precisa de uma faca? Ora, o caçador! Bem,
havia muitos caçadores junto à realeza, não devemos culpar o nosso caçador!
Mas
na grande vila, junto ao rei, logo pensaram que os caçadores do rei tinham
muitas facas e eram amigos de todos. Lembraram que aquele caçador vindo da
periferia só tinha uma faca e não havia falado com ninguém. Era um homem muito
estranho:
-
Ficou olhando muito as facas do rei. Só pode ser ele o culpado!
Sem
demora, a notícia da culpa do caçador chegou ao seu vilarejo e assim, lá, todos
começaram a suspeitar dele também. Repararam em certas atitudes suspeitas:
-
O caçador sai cedo, fica vagabundeando na floresta e volta tarde...
-
Ele nunca fala com ninguém! Nunca é honesto na divisão da caça, deve ser culpado!
-
Por culpa deste ladrão miserável estamos sempre com medo e a nossa vila nunca
está em paz!
O
povo do vilarejo iria denunciar e entregar logo o culpado ao rei! Mas antes
disso, a faca do rei foi encontrada.
E
assim que a notícia chegou , todos repararam em certas atitudes nobres:
-
O caçador levanta cedo e volta tarde, vejam que trabalhador!
-
É um homem sério e não fica falando bobagens por aí, aliás, nunca o ouvi falar
mal de ninguém...
-
Nós sabíamos o tempo todo que a
faca do rei apareceria! É muito fácil perder as coisas. O nosso caçador nunca
faria mal a ninguém, divide com honestidade a sua caça e graças a ele temos
sossego na vila!
E é por isso que até hoje se diz: “Quando a faca do rei está perdida, o
caçador é um criminoso; quando a faca do rei é encontrada, o caçador é um
grande homem.”.
Conto da tradição oral africana. Reconto: Fabio
Lisboa
(inspirado na versão de Inno Sorsy)
Referência:
MATOS,
Gislayne Avelar; SORSY, Inno - O ofício do contador de histórias – WMF Martins
Fontes – (A faca do rei – reconto de Inno Sorsy, p. 47).
Foto:
Edição de imagem:
Fabio
Lisboa
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2 comentários:
Linda história! Amei! Bem recontada!
GOSTEI,MUITO LEGAL
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