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História: Caipira mineiro ou paulista? Canal Contar Histórias



Recontada por Fabio Lisboa

Daí eu ouvi o contador de histórias - e causos - Giba Pedrosa, dizer que vivia um caipira mineiro numa cidadezinha chamada Caconde. Caconde? Isso mesmo, bem na divisa de Minas com São Paulo, pra quem nunca foi lá. E pra quem já foi também, a cidade continua lá mas dizem que, hoje em dia, ela tá mais pros lados das Minas Gerais mesmo, assumiu o seu lado de cidade mineira, mas na época o caipira tava indeciso se ele era, na verdade, mineiro ou paulista.

Ainda mais que aqueles eram tempos da revolução, quando passavam muito soldados à cavalo pela estrada e, nessas horas, era melhor você estar do lado deles.

Então o caipira mineiro tava tranquilo, debaixo de uma árvore na estrada. Chegaram uns cinco soldados na cavalaria. Passando pela estrada de terra viram o caipira de Caconde debaixo da árvore. Desceram dos cavalos e um deles disse:

- Ei, rapaz, você é mineiro ou paulista?

E o caipira, pela direção que vinham os soldados, ficou achando que, se eles estavam indo pra Minas Gerais guerrear, portanto, só podiam ser soldados paulistas e foi dizendo:


- Pois eu sou paulista, desde pequeno vivo neste trem que se chama Caconde, que os senhores sabem que fica aqui na divisa, mas muito mais pro lado de Sum Paulo, uai... 

E os soldados, que na verdade eram mineiros, voltando pras suas terras, ouvindo aquilo, bateram no caipira até dizer chega.

Ele ficou mais um tempo na estrada, passaram mais soldados. Desta vez uns dez, montados à cavalo. Apearam dos cavalos e um deles perguntou:

- Ei, rapaz, você é mineiro ou paulista? 

O mineirinho pensou assim: bem, pros primeiros que vinham do mesmo lado eu disse que era paulista, apanhei, agora já sei:

- Pois eu sou mineiro, uai, desde pequeno vivo neste trem, chamado Caconde, que os senhores devem saber que fica aqui na divisa, mas muito mais pros lados de Minas, uai... 

E os soldados, que na verdade eram paulistas, indo pra Minas guerrear, ouvindo aquilo, bateram no caipira mineiro até uma horas, com mais vontade que os primeiros.

O caipira cacondense ficou lá, estatelado debaixo da árvore, até ouvir o trote de uma nova tropa passando, agora de mais de vinte, vindos do outro lado. Dai não teve dúvida do que fazer e de quem ser.

Os soldados chegaram debaixo de uma árvore à beira da estrada. Apearam, descansaram... olharam pro alto, viram um caipira na árvore, encolhido. Perguntaram a ele:

- Ei, rapaz, você é mineiro ou paulista:
- Sou nada não, meu senhor, sou só fruta. 

E os soldados, achando que ele estava é tirando um sarro da cara deles, puxaram ele pra baixo e bateram no caipira ainda mais que os outros e o caipira ficou tão tonto que já não sabia mais Caconde estava.

É, a guerra deixa as pessoas tontas, mas, felizmente, esta acabou e no fim das contas o caipira se achou. Até pra poder contar a história pro Giba e eu pra vocês. Ah, e a cidade, Caconde foi parar? Ora, continua lá, tranquila, perto da divisa entre Minas e São Paulo, Caconde fica perto também da suave divisa entre o conto e o causo, onde, cedo ou tarde, a gente também se encontra...


Recontada por Fabio Lisboa
Inspirada em versão ouvida de Giba Pedrosa

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Assista ao primeiro episódio (1min41seg) da Série:
Breves Infinitas Histórias
#1: Festas Juninas


Série Breves Infinitas Histórias
Desde o princípio, as estrelas, bem como as histórias, rompem a barreira do tempo. Se os cientistas não conseguiram (ainda) inventar uma máquina do tempo, os contadores de histórias e as crianças já o fizeram há muito: ao evocar "era uma vez", fazem o mundo brilhar girando mais veloz (ou bem devagarinho) rompendo as leis da física e entrando em sincronia com a melodia da imaginação. Até expressões soltas no espaço criam forma de narrativa no universo de ouvintes atentos. Tendo isto em mente, palavras - conhecidas ou misteriosas – se contadas e reavivadas de forma afetuosa ficam quase palpáveis em forma de brincadeiras e memórias. Daí duram para sempre porque, ao que parece, começar foi fácil, difícil vai ser terminar estas nossas Breves Infinitas Histórias...

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