Aqui você encontra a arte de contar histórias (storytelling)
entrelaçada à empatia, mediação de leitura, educação, brincar, sustentabilidade e cultura de paz.

Contos de Fadas: espelhos mágicos da alma (parte 2 de 3)

Capa e ilustração de Bruna Assis Brasil em Branca de Neve e as Sete Versões.

  por Fabio Lisboa

Em seu livro “Branca de Neve e as Sete Versões” o escritor José Roberto Torero conta que um dia a princesa acordou mais bela que a rainha madrasta. Neste dia, esta foi até o espelho mágico e perguntou:

“- Espelho, espelho meu, existe alguém no mundo mais bela do que eu?

E agora: O que você acha que acontece? Se você quer que o espelho minta vá para a página 08. Se você quer que o espelho diga a verdade, vá para a página 10.”[1]

Contos de Fadas: espelhos mágicos da alma (parte 1 de 3)

Ilustração de Bruna Assis Brasil em Branca de Neve e as Sete Versões. 


Os olhos humanos de uma sociedade que exageradamente se vê através de olhos eletrônicos coletivos são suficientes para nos enxergar como indivíduos? Neste contexto, os nossos sonhos são traçados por nós ou por outros para nós?

Os contos de fadas reforçam valores humanos ainda essenciais ou ideias antiquadas que não servem mais para nada nos dias de hoje? Será que estas histórias tão antigas podem mesmo refletir as profundezas da psique humana e por isso tornaram-se imprescindíveis na construção do nosso “eu” e na conexão com o outro?

História: A quem pertence a terra

Foto: Eduardo  Hanazaki

 História da tradição oral recontada pelo artista “anônimo” Fabio Lisboa
(continuação do post Contadores de Histórias: Artistas Rupestres das Palavras)

Era uma vez um humilde lavrador cujas terras sempre foram inférteis. Cansado de plantar muito e colher “pouco ou quase nada” decidiu tentar a sorte pelo mundo.

Contadores de Histórias: Artistas Rupestres das Palavras


 
 Artista aborígene Donny Woolagoodja fazendo a tarefa que herdou de seus antepassados: 
retocar a pintura na pedra de Wandjina em Kimberly, Austrália.

O aborígene passa em frente à rocha colorida e reconhece os desenhos que contam uma história de homens, mulheres, animais e a natureza em harmonia. O aborígene se emociona não só pela beleza e poder da arte na pedra mas porque os desenhos estão se desfazendo. Ele chora. É como se Wandjina, espírito da Nuvem e da Chuva, fosse embora da convivência com os humanos e não mais moldasse com beleza o meio ambiente. O homem começa a juntar barro, rocha ferrosa, carvão, calcário e o sumo de certas plantas para fazer tintas naturais. Depois de prontas e dos rituais apropriados, o artista contemporâneo começa a restaurar e refazer a obra de seus ancestrais que, aliás, acreditam ter sido pintada originalmente pelas próprias divindades no começo dos tempos, no Tempo dos Sonhos.

História: Nasrudin, o sábio juiz

Justitia em Florença, Itália. Foto: John Baltaks

 Recontada por Fabio Lisboa

Um dia, o juiz da cidade adoeceu. No outro dia, foram chamar o mulá Nasrudin para substituir o juiz.

- Nasrudin, o nosso juiz está de cama e não poderá julgar hoje. Querido mestre, poderia nos ajudar?

- Tenho minhas dúvidas se eu saberia me comportar num tribunal... – ponderou Nasrudin.

História Budista: A Semente de Mostarda



Recontada por Fabio Lisboa

Desde criança, Gotmai era a mais magra das crianças e por isso era chamada de Kisa Gomati (Gotami Magricela). Kisa Gotami era pobre, órfão e sofria com as humilhações, no entanto, mantinha o seu coração puro e livre de ódio.

Ela, inocentemente, sem saber, ajudou um rico e avarento mercador. E este a fez casar-se com o seu filho. Casada, Gotami achou que iria melhorar de vida mas aí é que as coisas pioraram. Apesar de não sofrer mais dificuldades financeiras, o marido a tratava como escrava e a humilhava ainda mais. Seu corpo magro até aguentava o sofrimento mas a sua alma se entristecia cada vez mais com a violência e injustiça do mundo.

Quando o seu filho veio ao mundo, finalmente, o mundo de Kisa Gotami mudou completamente.

História: O tesouro enterrado


  
História da tradição oral recontada por Fabio Lisboa

Há muito tempo, afastado das abastanças da cidade, vivia um viúvo fazendeiro de avançada idade. Além de uma horta e um pomar, o homem não tinha muitas posses mas sempre tinha ricos ensinamentos a passar para as futuras gerações de sua família.

Os ensinamentos eram passados para os cinco filhos, para as esposas dos filhos, para os muitos netos e netas em forma de histórias, conselhos e experiências – estas, quase sempre em forma de brincadeiras de faz-de-conta com os netos e afazeres da fazenda com os filhos e noras.

Só que os filhos do homem do campo só queriam saber das riquezas e da rapidez da cidade. Nada de perder tempo com bobagens caipiras! Eles e suas esposas não tinham mais tempo nem de tecer histórias e brincadeiras com os próprios filhos. Não tinham paciência para ouvir os conselhos e muito menos para aprender e fazer com prazer as tarefas cotidianas da roça. Queriam se mudar dali e prosperar! A única coisa que os fazia ficar eram rumores de que em algum lugar por perto havia um tesouro que só o velho fazendeiro sabia onde estava enterrado...