Há
muito tempo, afastado das abastanças da cidade, vivia um viúvo fazendeiro de
avançada idade. Além de uma horta e um pomar, o homem não tinha muitas posses mas
sempre tinha ricos ensinamentos a passar para as futuras gerações de sua
família.
Os
ensinamentos eram passados para os cinco filhos, para as esposas dos filhos, para
os muitos netos e netas em forma de histórias, conselhos e experiências –
estas, quase sempre em forma de brincadeiras de faz-de-conta com os netos e afazeres
da fazenda com os filhos e noras.
Só
que os filhos do homem do campo só queriam saber das riquezas e da rapidez da
cidade. Nada de perder tempo com bobagens caipiras! Eles e suas esposas não
tinham mais tempo nem de tecer histórias e brincadeiras com os próprios filhos.
Não tinham paciência para ouvir os conselhos e muito menos para aprender e
fazer com prazer as tarefas cotidianas da roça. Queriam se mudar dali e
prosperar! A única coisa que os fazia ficar eram rumores de que em algum lugar
por perto havia um tesouro que só o velho fazendeiro sabia onde estava
enterrado...
Muitas
vezes os jovens perguntaram ao velho se era verdade aquela história e ele
sempre dizia que um dia contaria onde encontrariam o tal tesouro, enquanto
isso, deveriam trabalhar para conquistar os seus próprios tesouros e ajuda-lo
mais no dia-a-dia pois sentia que a idade já lhe pesava nas costas. Evidentemente
não era isso que queriam ouvir, então ignoravam as palavras do fazendeiro.
A chácara
não era grande, mas a família nunca teve dinheiro para contratar empregados,
então, era o pai e os filhos e noras que cuidavam de toda a propriedade. Bem,
na verdade, era o velho pai quem fazia tudo, desde a preparação e aragem do
solo, a venda da pequena produção de frutas e verduras para os vizinhos e cuidava
até de doações para os que passavam necessidade. Enquanto o velho trabalhava noite
e dia, os jovens e moças pouco ajudavam nas ocupações e muito se ocupavam em
gastar o dinheiro, sempre com planos mirabolantes de ficar ricos da noite para
o dia.
Quando
o pai adoeceu ficando na cama durante um ano até os seus últimos dias, os
filhos e suas mulheres começaram a gastar todas as economias guardadas para o
futuro. Eles não viam mais motivos para continuar fazendo algo pela fazenda,
muito menos ajudar quem precisava pois achavam que eles próprios eram quem mais
precisava. Investiram as economias do pai em formas rápidas de ficar rico - que
obviamente só os fizeram ficar pobres mais rapidamente. O resultado daquele ano
foi a colheita de frutas e verduras baixíssima e nada de dinheiro para investir
na produção da temporada seguinte.
Percebendo
a situação em que a sua família se enterrava em vida, antes de morrer, o ancião
deu um último valioso conselho:
“Agora que pouco tempo me resta nesta
terra, conto a vocês o segredo de como enriqueci na vida. Meu pai me confiou
este segredo e agora eu o confio a vocês. Entre a nossa horta e o pomar existe
mesmo um tesouro enterrado! Ao desvendar este tesouro vocês descobrirão o
segredo da prosperidade. Mas lembrem-se: não derrubem árvores ou desperdicem
uma hortaliça sequer, senão nunca serão ricos de verdade. Respeitem a natureza,
trabalhem desde o alvorecer com esperança, assim, no fim da tarde, o tesouro
lhes será revelado.”
O
pai se foi, mas as suas palavras ficaram.
Durante
seis meses os cinco filhos e suas mulheres acordaram com o sol e trabalharam,
cavaram, escavaram, escarafuncharam a terra, esperando antes do anoitecer encontrar
algum tipo de arca cheia de ouro e só topando com barro, minhocas e dejetos de
animais.
Um
dos cinco irmãos foi derrubar as árvores para procurar embaixo delas. Na última
hora, os outros o impediram, respeitando o conselho do pai de não matar nenhuma
árvore e nem desperdiçar nada para serem ricos de verdade.
Bem,
para cavar em busca de ouro, os irmãos já estavam lá, desde o primeiro brilho do
sol, ao lado do pomar e da horta, então, aproveitavam e cuidavam destas. Aliás,
ao conhecer de perto o seu pedacinho de roça e o esplendor de vida que nascia dali,
começaram a cuidar do seu chão como nunca haviam cuidado antes.
Enfim,
depois de mais um ano, já eram amigos da terra e descobriram a fortuna a que o
pai se referira que há muitos anos vinha sendo passada de geração a geração.
O
tesouro da prosperidade não estava numa arca. Estava em arar e amar a terra,
cuidar das plantas, dos animais, da família e trabalhar com esperança. No fim
do dia, experimentavam a sensação da alegria de uma missão cumprida, dia após
dia.
Dois
anos depois de ouvirem o misterioso segredo do pai, os jovens finalmente
conseguiram entender as suas palavras e, mesmo sem encontrar ouro, começaram a
carregar com eles outros tesouros.
A
chácara prosperou e os filhos e noras do fazendeiro também um dia se tornaram
fazendeiros e fazendeiras de verdade, cultivando hortas verdejantes e pomares
coloridos de frutas. Deixaram alimentos e ricos ensinamentos para as futuras
gerações do mundo.
Referências:
Texto inspirado a partir de:
BENJAMIN, Walter - Magia e
Técnica, arte e política: Ensaios sobre literatura e história da cultura (Obras
Escolhidas I). Tradução: Sérgio Paulo Rouanet - São Paulo: Brasiliense,
1994, p. 114.
Imagem:
Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida:
Fome Zero
Pastoral da Criança
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