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O dom da história


recontado por Fabio Lisboa

Baal Shem Tov, o mestre do bom nome, ensinou as pessoas de sua região a sentirem a presença de Deus.

Naquele tempo, era como se não houvesse mais tempo de sentir, de sequer sentir a presença do outro, muito menos de sentir mistérios profundos além dos sentidos, como a presença divina.

Mas Baal Shem Tov ensinou as pessoas a criar um tempo de paz para si e de união com os outros. Um tempo de sentir a força sagrada que une todos à tudo, um tempo de ver o invisível, de agradecer à Deus e de ouvir o som do infinito.


O segredo do mestre era ir até um local especial, no meio de uma floresta milenar, reunir as pessoas em roda, fazer os rituais ensinados por seus antepassados, e dizer, na língua original, as orações ancestrais.

E naquele tempo, naquele lugar, ouvindo aquelas palavras, as pessoas sentiram a presença de Deus.

O tempo passou e Baal Shem Tov se foi. Todavia, as pessoas continuaram a fazer como o mestre havia ensinado e, assim, sentiam a presença divina entre eles.

Porém, no tempo dos netos de Baal Shem Tov os habitantes daquela região se esqueceram de como se fazia os rituais de seus antepassados. Mas lembraram-se de ir até o lugar especial no meio da floresta, sentaram-se em roda e, mesmo numa nova língua, disseram as orações ancestrais e, assim, sentiram, novamente, a presença de Deus.

No tempo dos filhos dos netos de Baal Shem Tov os moradores da cidade esqueceram-se da antiga floresta e de onde ficava o lugar especial. Já não sabiam mais como fazer os rituais. Mas sentaram-se em roda e lembram-se das antigas orações. E, assim, sentiram, mais uma vez, a presença de Deus.

No tempo dos netos dos netos de Baal Shem Tov, os viventes iam e vinham para aquela grande região, onde já não havia mais espaço para florestas - e muito menos alguém se lembrava de um local especial na floresta -, já não havia mais tempo para rituais – e muito menos alguém se lembrava de como eram feitos. Já não havia mais paciência para orações e ninguém se lembrava mais das palavras. A língua original silenciara.

No entanto, alguns sentaram-se em roda, compartilharam memórias e lembraram-se desta história. Ao recontá-la, mesmo de um tempo distante, vindos de locais longínquos e tendo línguas e crenças diversas, sentiram-se em paz e unidos entre si. E assim, voltaram a sentir a presença de Deus.

Referências:
Baal Shem Tov em hebraico significa Mestre do Bom Nome, aquele que usa o poder do Nome e da Palavra de Deus para curar, fazer o bem e até operar milagres. Baal Shem Tov tornou os conhecimentos sobre os escritos sagrados (Torá) de sua religião (judaísmo) acessíveis a um número maior de pessoas. Centenas de anos depois da morte do mestre, gente falante de diversas línguas (judeus ou não) reconta até hoje alguns de seus ensinamentos espirituais. Esta história, aqui adaptada por Fabio Lisboa (em 16/02/2012), faz parte do legado do Rabi Israel ben Eliezer (conhecido como Bal Shem Tov, 1698 - 1760), provém da tradição oral judaica e pode ser encontrada em livros como O Dom da História – uma fábula sobre o que e suficiente - de Clarisse Pinkola Estés, editora Rocco (obra recomendada pelo Blog Contar Histórias).

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