Aqui você encontra a arte de contar histórias (storytelling)
entrelaçada à empatia, mediação de leitura, educação, brincar, sustentabilidade e cultura de paz.

História: A faca do rei



Conto da tradição oral recontado por  Fabio Lisboa

No tempo em que caçadores usavam facas para caçar e reis usavam facas para colecionar, houve uma grande festa reunindo diversas vilas do reinado. O caçador do vilarejo mais distante também foi à festa.

Os convidados deste local periférico levaram dois dias para chegar e graças ao caçador puderam se alimentar de carne fresca durante a viagem. Ele era um homem quieto, saía cedo para caçar e voltava tarde, quase sempre trazendo algo de bom que dividia com todos, obviamente ficando com uma generosa parte da caça para ele mesmo. E os conterrâneos do caçador o queriam bem por ele ser assim.

Durante as festividades houve um farto banquete e todos cantaram e dançaram – com exceção do caçador da vila distante que preferiu ficar apreciando a coleção de facas do rei. O homem gostou muito de uma das facas - justo a preferida do rei - que era muito afiada e toda ornamentada, com o cabo esculpido em madeira e cravejado de garras e dentes de predadores selvagens. Acontece que quando todos foram embora da festa a faca preferida do rei sumiu.

Histórias em vídeo: “De criança para criança”

Foto: Bel Duarte Azambuja
Quem acha que criança nunca tem vez nem voz no nosso mundo – além de não saber desenhar e muito menos contar histórias direito - vai se surpreender com este projeto disponibilizado no youtube: “De criança para criança”.

A primeira animação traz ilustrações e vozes de meninos e meninas dando vida a uma destemida princesa que enfrenta um "bafo de Dragão” (do Príncipe!).

Uma aventura para desafiar os sentidos, inclusive os estéticos. Afinal, não são todos que valorizam uma voz e uma estética artística diferente de sua (a saber, de sua cultura dominante adulta que define o que é belo ou não). Falando nisso, além das ilustrações inspiradoras para a criação da narrativa, quem sabe, em breve, o projeto também abarca histórias e roteiros criados pelas próprias crianças... de um jeito ou de outro, elas adoraram fazer parte das invencionices de histórias “de criança para criança”!

(na caixa de vídeo abaixo, clique no ícone abaixo à direita "full screen" para ampliar a tela)

(caso o vídeo não esteja aparecendo clique no link abaixo)


Saiba mais sobre o projeto:

História: Os Gravetos da Discussão

Foto: Donald Vish – Iroquois Woods



Conto Iroquês recontado por Fabio Lisboa

Os antigos indígenas iroqueses tinham o costume de usar os gravetos da discussão para resolver conflitos.

Um dia, há muito tempo, dois garotos iroqueses discutiram tanto que quase chegaram a se estapear por causa da sua acalorada argumentação.

Cada pai de cada garoto tomou o partido de seu filho e uma antiga amizade entre as famílias estava prestes a se esfacelar. Os adultos que se envolveram na discussão estavam quase pegando em armas para decidir quem estava com a razão.

As avós dos garotos se lembraram que a disputa deveria ser decidida pelos gravetos da discussão. Na montanha.

História: O discurso silencioso

Fairy Wren - Foto: Duade Paton

História da tradição zen recriada por Fabio Lisboa

A alvorada no templo chegou com alvoroço. Todos haviam madrugado e já esperavam o mestre chegar trazendo com ele derradeiras palavras de iluminação. O velho sábio iria retirar-se do templo e meditar por 10 anos nas montanhas. Então esta seria uma oportunidade rara, senão a última, de ouvir o que o ancião tinha a dizer.

Contos de fadas e a palavra do contador de histórias: Silhuetas no clarão dos tempos (parte 2 de 2)

Imagem do filme Príncipes e Princesas (1989-2000) de Michel Ocelot

por Fabio Lisboa

Se a silhueta é metáfora útil para o narrador oral, a animação “Príncipes e Princesas” (série de TV francesa de 1989 – relançada em 2000 em formato filme), de Michel Ocelot, ilustra bem o poder imaginativo que o uso desta suscita.

Contos de fadas e a palavra do contador de histórias: Silhuetas no clarão dos tempos (parte 1 de 2)

Imagens do filme Príncipes e Princesas (1989-2000), de Michel Ocelot
por Fabio Lisboa
 
Em tempos de luzes que iluminam a noite, de meios de comunicação e conexão on-line que nos fazem passar noites em claro, e de holofotes voltados para banalidades e tragédias da vida real, será possível enxergarmos sutilezas e belezas na penumbra da imaginação?

O deserto intransponível e os cantis secos



História real por Fabio Lisboa

Eu e meu irmão menor fazíamos os preparativos para a travessia de um deserto quase intransponível. Este deserto começava no quarto de costura de minha avó e se estendia pelo corredor até a sala de estar.

Era 1983, eu tinha 8 anos e o Gu, meu irmão Augusto, 5. O nosso deserto tinha uns 10 metros no total. Todavia, na época, esses 10m adquiriam proporções colossais pois circulávamos inúmeras vezes pelo trajeto. Além disso, criávamos obstáculos e íamos vencendo a travessia, escalando morros de almofadas amontoadas no corredor, adentrando uma caverna debaixo da mesa da sala e atravessando a ponte do sofá de molas por cima de um caldaloso tapete escorregadio, perigosíssimo, infestado de jacarés e areia movediça - não me pergunte como os jacarés conseguiam nadar na areia movediça, só sei que ambos conseguiam estar lá, juntos, na nossa imaginação e, sem dúvida, no tapete da sala da minha avó.

Algumas brincadeiras e viagens fantásticas só são mesmo permitidas na casa dos avós. E para uma brincadeira ser mesmo fantástica, além da permissão é preciso concentração, imaginação, cooperação e, antes de tudo, preparação.