Francis Pharcellus Church, 1897, The New York Sun
E o poder das histórias existe?
Por Fabio Lisboa
Este
texto acima é o editorial de jornal mais republicado no mundo em todos os
tempos na língua inglesa. Até hoje, em 2016, ao completar 119 anos desde a sua
criação, suas palavras continuam atuais. Palavras ressaltando as qualidades de
acreditar em Papai Noel para uma menina de 8 anos, não invalidam a fé cristã ou
de qualquer outro credo, religião ou filosofia. Acreditar em Papai Noel talvez
seja creditar poder nas histórias.
Quem
já não se emocionou e sentiu a força mágica de receber o presente que tanto
queria de forma misteriosa, envolto no espírito natalino. Meus pais mesmo,
sempre arranjavam um jeito de facilitar a visita do Papai Noel – que na minha
época, não morava nos shoppings - e só se via na imaginação ou nos livros ou
filmes da TV... E o presente tão esperado (isso mesmo, os pais ainda conseguiam
ensinar as crianças a esperarem um ano por um brinquedo) que ele trazia,
encantava e era usado indefinidamente, sendo que, se não quebrasse, passava de
irmão para irmão e até de geração a geração. Bem, os tempos são outros, de
ostentação e escassez; de consumismo e obsolescência programada da felicidade.Mas também de economia criativa, sustentabilidade, cultura de paz, esperança.
Quem já não se sentiu transformado e inundado de alegria
ao receber ou visitar uma instituição que cuida de menores visualizando uma
roupa vermelha brilhante no corpo, presentes na mão, sentindo corações
aquecidos e esperançosos... Quem nunca sentiu isso, recomendo que o faça,
sempre é tempo, nem que seja acompanhando os filhos, netos ou amiguinhos, os
nossos olhos não veem o outro da mesma forma depois de uma experiência dessas.
E
quem já não se emocionou e sentiu a força movente que tem com os incontáveis
recontos de Natal, desde as histórias sagradas do nascimento de Cristo e da
festa das Luzes judaica, assim como a dos fantasmas dos Natais passado,
presente e futuro fazendo a vida do velho sovina Scrooge mudar, a conhecer a
verdadeira história de Papai Noel e de Rodolfo, a rena do nariz vermelho, até os
especiais de fim de ano de Snoopy com todos torcendo pra Charlie Brow ganhar um
presente, nem que fosse imaterial, com o amor da garotinha Ruiva e a amizade de
seus colegas ou, ao menos, o companheirismo de seu cão. Apoiados nas palavras
do apóstolo João, de Baal Shem Tov, Dickens, Shulz, May ou Church, somos capazes
de enxergar um mundo melhor e caminhar rumo a este.
Para
nos fazer ver lindas estrelas cadentes no céu e nos incentivar a por as mãos na
terra para plantar majestosas árvores (inclusive, as de Natal), é relevante o
trabalho do escritor ao escolher bem as histórias que escreve, o trabalho do
contador de histórias ao escolher os contos que conta, é importante o dia a dia
dos pais, avós e educadores ao escolherem o que expõe aos filhos e educandos, e
o dia a dia dos ouvintes, leitores e telespectadores ao escolherem o que ouvem
e veem e, no fim das contas, fazem.
Vejam
só o poder da palavra: “Sim, Virgínia, existe....”[1]
tornou-se uma expressão conhecida na língua inglesa para denotar que algo
aparentemente difícil de acreditar exista mesmo, de fato. E qual o poder das
histórias? Ora, desde o princípio da humanidade, está provado que existe esse
poder das narrativas de nomear, de mesmo materializar o idealizado, utópico, fantástico,
poder que, portanto, pode criar a beleza. Este poder, se bem usado, torna-se
palpável e duradouro.
Para
abrir as primeiras décadas de um novo - realmente novo - milênio, precisamos de
crianças perguntadeiras, de Virginias que, como a Virginia O´Hanlon real
(1889-1971), continuem pelo resto da vida em busca de fé, esperança, poesia,
amor e imaginação no mundo. Precisamos de adultos de ouvidos abertos e atentos que
respondam à crianças perguntadeiras - como fez o editor Francis P. Church, do
the Sun - com o coração puro e a mente livre e esperançosa.
Muitos
anos depois de sua pergunta inquietante ter recebido uma resposta delicada, a
menina curiosa se tornou uma excelente professora, diversas vezes homenageada. Ao
longo da vida, recebeu cartas de crianças e adultos e sempre fez questão de
responder uma a uma, incluindo também uma cópia da resposta do jornal à sua
pergunta de quando tinha 8 anos.
Sim, o poder
das histórias existe.
“Ah, Virginia, em todo esse mundo não há nada mais real
e permanente”, nada mais real e permanente do que uma história bem contada - e
vívida - como a sua. E uma história bem contada puxa outra. E uma bonita
história, ao ser contada e imaginada, logo torna-se real. Então, se queremos um
mundo real mais belo, Virgínia, continuemos contando histórias, pondo fé em seu
poder transformador e acreditando, sim, que Papai Noel existe.
Por Fabio Lisboa
Fontes principais (em inglês) e imagens
Wikipédia:
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