Recontada por Fabio Lisboa
De um lado da ponte um cabeça-dura. Um bode. Com aqueles chifres bem duros grudados na cabeça. Do outro lado da ponte, outro cabeça-dura. Outro bode. Com outros chifres inflexíveis que não saiam da sua cabeça.
Os dois queriam conhecer o horizonte do outro lado da ponte. Mas a ponte era estreita e escorregadia. E os dois birrentos. E briguentos. E todos os dias os bodes acordam com o nascer do sol e tentam a sorte. O problema é que, como o sol nasce pra todos daquele lugar na mesma hora, os dois teimosos chegam sempre na mesma hora. Azar, neste dia, como em muitos outros:
Um cabeça-dura começa a dura travessia pela estreitíssima ponte.
Do outro lado, ao mesmo tempo, o outro cabeça-dura começa a dura travessia no estreitíssimo sentido oposto.
No meio da ponte, os dois se encontram, se olham com aspereza e começam um duro bate-boca sem pé nem cabeça.
- Ei bode, você não viu que eu comecei a atravessar esta ponte primeiro?
- Ei bode, foi você quem não viu que EU comecei a atravessar esta ponte primeiro!
- Sai da frente, bode!
- Bode, sai da frente você!
- Não pode ser, bode! Me respeite!
- Assim não pode, bode, isso é falta de respeito!
- No duro, seu bode de cabeça-dura, ou você sai da minha frente ou te chifro pro outro lado.
- No duro, seu cabeça-dura de bode, ou você sai pro outro lado ou te chifro da minha frente!
- Me chifra?
-É!
- Ah, é? Eu que te chifro!
- Te chifro?
- É?
- Ah, é? Então eu que te chifro!
- Ah, é? Me chifra?
- É!
- Então eu que me chifro!
- Me chifra?
-É!
- Pois é! Então eu que me chifro!
- Ah é?
-É! Pois é!
- E é?
- Então seu bode cabeça-dura...
- Então seu bode cabeça-dura...
E os dois disseram ao mesmo tempo:
...você que se chifre!
E foi assim, uma “chifração” dos diabos e o birrento chifrou de fato o briguento (e vice-versa) e a pancada foi tão potente que os dois caíram da ponte e, nadando tortos e tontos, voltaram de onde vieram. E voltaram sem saber como seria o horizonte do outro lado da ponte. E um deles disse:
- Deu bode! E tudo culpa deste bode cabeça-dura!
E adivinhe o que disse o outro:
- Deu bode! E tudo culpa deste bode cabeça-dura!
Recontada por Fabio Lisboa (www.contarhistorias.com.br)
Foto:
Blog Asas da Vida
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