Aqui você encontra a arte de contar histórias (storytelling) entrelaçada à empatia, mediação de leitura, educação, brincar, sustentabilidade e cultura de paz.
História da tradição oral recontada pelo artista
“anônimo” Fabio Lisboa
(continuação do post Contadores de Histórias:
Artistas Rupestres das Palavras)
Era
uma vez um humilde lavrador cujas terras sempre foram inférteis. Cansado de
plantar muito e colher “pouco ou quase nada” decidiu tentar a sorte pelo mundo.
O
aborígene passa em frente à rocha colorida e reconhece os desenhos que contam
uma história de homens, mulheres, animais e a natureza em harmonia. O aborígene
se emociona não só pela beleza e poder da arte na pedra mas porque os desenhos
estão se desfazendo. Ele chora. É como se Wandjina, espírito da Nuvem e da
Chuva, fosse embora da convivência com os humanos e não mais moldasse com
beleza o meio ambiente. O homem começa a juntar barro, rocha ferrosa, carvão,
calcário e o sumo de certas plantas para fazer tintas naturais. Depois de prontas e dos rituais
apropriados, o artista contemporâneo começa a restaurar e refazer a obra de
seus ancestrais que, aliás, acreditam ter sido pintada originalmente pelas próprias
divindades no começo dos tempos, no Tempo dos Sonhos.
Desde
criança, Gotmai era a mais magra das crianças e por isso era chamada de Kisa
Gomati (Gotami Magricela). Kisa Gotami era pobre, órfão e sofria com as
humilhações, no entanto, mantinha o seu coração puro e livre de ódio.
Ela,
inocentemente, sem saber, ajudou um rico e avarento mercador. E este a fez
casar-se com o seu filho. Casada, Gotami achou que iria melhorar de vida mas aí
é que as coisas pioraram. Apesar de não sofrer mais dificuldades financeiras, o
marido a tratava como escrava e a humilhava ainda mais. Seu corpo magro até
aguentava o sofrimento mas a sua alma se entristecia cada vez mais com a
violência e injustiça do mundo.
Quando
o seu filho veio ao mundo, finalmente, o mundo de Kisa Gotami mudou
completamente.
História da tradição oral recontada por Fabio Lisboa
Há
muito tempo, afastado das abastanças da cidade, vivia um viúvo fazendeiro de
avançada idade. Além de uma horta e um pomar, o homem não tinha muitas posses mas
sempre tinha ricos ensinamentos a passar para as futuras gerações de sua
família.
Os
ensinamentos eram passados para os cinco filhos, para as esposas dos filhos, para
os muitos netos e netas em forma de histórias, conselhos e experiências –
estas, quase sempre em forma de brincadeiras de faz-de-conta com os netos e afazeres
da fazenda com os filhos e noras.
Só
que os filhos do homem do campo só queriam saber das riquezas e da rapidez da
cidade. Nada de perder tempo com bobagens caipiras! Eles e suas esposas não
tinham mais tempo nem de tecer histórias e brincadeiras com os próprios filhos.
Não tinham paciência para ouvir os conselhos e muito menos para aprender e
fazer com prazer as tarefas cotidianas da roça. Queriam se mudar dali e
prosperar! A única coisa que os fazia ficar eram rumores de que em algum lugar
por perto havia um tesouro que só o velho fazendeiro sabia onde estava
enterrado...
“Assim como o sol
derrete o gelo, a gentileza evapora mal entendidos, desconfianças e
hostilidade.” Albert
Schweitzer
Palavras Mágicas
Ao contar histórias, peço que os ouvintes me digam se
seriam capazes de inventar ou se lembrar de uma “palavra mágica” para abrir um
portal de tesouros (seja de Ali Babá, seja de reis, dragões, cavaleiros guardiões...).
E cada vez que, em vez de “abre-te Sésamo”, “abra-cadabra” ou “alakazam”, alguma
criança diz espontaneamente: “Por favor!” tenho certeza de que ainda há
esperança para o futuro da humanidade.
São cinco dentre tantas outras palavras de gentileza que
fazem mágica acontecer. Especialmente se as dissermos com sinceridade. Principalmente
se acompanhadas de nossas ações gentis, generosas, compassivas. Assim, a magia do
amor se espalha e, dali a pouco, algum tipo de alegria volta para nós, fazendo constantemente
o mundo mais bonito. É o que os sábios chamam de “círculo virtuoso”.
Já dizia o Profeta Gentileza: “Gentileza gera gentileza”.
Desejo a todos nós, moradores deste nosso mundo que
gira sem parar, um ano gerador (e girador) de gentileza, amor, palavras mágicas,
beleza...
Inspirado no Conto “O Suave Milagre” de Eça de Queirós
e trechos selecionados da Bíblia Sagrada
No tempo
em que Jesus andou pela terra muitos o procuraram, nem todos o encontraram.
O
andarilho chegou faminto à próspera Enganim, cidade que na língua hebraica
significa “nascente de jardins”. Em busca de trabalho em troca de algum denário,
abrigo e comida, foi direto à propriedade do famoso senhor fazendeiro Obede.
Acontece
que as terras de Obede ressecaram tanto quanto o seu coração. O velho rico não
queria mais saber de gastos. Ofereceu apenas comida e uma cama de palha junto
aos animais em troca dos serviços de sol-a-sol do pobre viajante.