Para viver a paz e descobrir as coisas mais importantes da vida não basta contar histórias, é preciso ouvir as crianças
Começo a escrever este post no dia 11 de setembro de 2001 querendo fazer os sentimentos de medo, impotência e incompreensão que há 10 anos me paralisaram e continuam assombrando o planeta neste período, virarem coragem, poder de ação, tolerância e entendimento.
Para operar esta mudança de pensamento, a experiência mais marcante que me lembro nos últimos tempos foi a da confraternização entre crianças, jovens e adultos, entre judeus, muçulmanos e cristãos que aconteceu na Livraria da Vila, dia 28-08-11, no lançamento de dois livros de Mônica Guttmann.
O trabalho de arte-terapia e os livros da Mônica vem com um calorzinho gostoso no peito como um abraço. Talvez por isso o seu personagem Armando, que tenta entender e se livrar do sentimento de rejeição abrace as palavras de seu próprio livro.
Na apresentação do livro “Armando e a Rejeição” comecei perguntando para as crianças o que achavam da indagação do personagem: “Onde mora a rejeição?”
Bem, a maioria dos pequenos ouvintes não sabia o significado de “rejeição” mas já tinha experimentado o seu sentido. Então fomos compartilhando exemplos práticos e desvendando as palavras de Armando:
“Rejeição é aquele sentimento difícil que todos nós já tivemos ou vivemos em algum momento , quando acreditamos que não somos gostados , aceitos, amados, escolhidos, queridos...”
“A rejeição leva a divisão
escuridão
violência
A rejeição é como uma injeção venenosa que contamina quem somos e também como vemos o outro.
A rejeição é como se fosse um espelho quebrado, que mostra quem somos de um jeito “entortado”!”[1]
Mas Armando, assim como as crianças que ouviam a sua história, não queriam rejeitar nem ser rejeitadas:
“Bom mesmo é aceitar e amar criar e transformar.”
“Cada um pode contribuir a sua maneira neste planeta que precisa tanto da gente para cuidar, cultivar e transformar.”
Então, as próprias crianças começaram a me contar onde mora a rejeição e o que podemos fazer para acabar com ela! Vivemos na prática como rejeitar a rejeição! Dançamos em roda.
E dançando, respeitamos os passos lentos dos mais sábios, os passos acelerados dos mais novos, os passos curtinhos dos bem pequenos e os largos passos dos adultos.
Cantamos na ancestral língua hebraica: "Hine Ma Tov / Umanayim / Shevet Achim Gam Yachad" e traduzimos, dançando, o salmo: “Como é bom e agradável os irmãos viverem juntos em harmonia”.
Nessa hora era como se o nosso canto pudesse alcançar qualquer canto do mundo. E alcançou de verdade! Em visita ao Brasil, um coral internacional de jovens do oriente médio também participou do evento e emocionou a todos com suas vozes pela paz.
Esses jovens são de diversos países e religiões mas tem em comum a tolerância e o entendimento para respeitarem e falarem a língua do outro, tem coragem e poder de ação para saírem pelo mundo (e no Brasil cantaram inclusive nas favelas) divulgando uma bela mensagem, a de que a coexistência e a paz são possíveis.
Outra coisa em comum que as pessoas que buscam a paz tem é saber ouvir e aprender um pouco da cultura dos lugares por onde passam. Os jovens do Coral “The voices of peace” (As Vozes da Paz) não apenas dançaram e cantaram conosco o “Hine Ma Tov” como, na canção seguinte, incorporaram a vinheta lálálái e um pouco de gingado.
Para encerrar o dia agradável, a contadora de histórias Andi Rubenstein encarnou a personagem Dóris, uma formiga curiosa que tenta descobrir quais são “as coisas mais importantes da vida”.
Num mundo em que expomos as crianças à violência (anualmente, assistem a milhares de cenas de brutalidade e morte, seja nos filmes, games e no noticiário da TV) e a maior preocupação dos pais é com o futuro profissional dos filhos, novamente as crianças tiverem voz e esclareceram aos adultos:
“O mais importante é brincar, amar, ter amigos e histórias para contar”
Referências
Contadores de Histórias:
Lançamentos de Mônica Guttmann:
Doris e as coisas importantes da vida
Ilustrações:
Foto:
Simone Máximo
Música:
Hine Ma Tov – interpretação: Fortuna (adaptação de melodia tradicional, letra: Salmo 133)
Coreografia:
Fabio Lisboa (adaptação de passos tradicionais das danças circulares israelenses e cirandas brasileiras)
Vídeos: The Voices of Peace Choir
Coral árabe-israelense leva mensagem de paz a comunidades de Copacabana
The Voices of Peace Choir e Fabiana Cozza - "Trem das Onze"- ...
Voices Of Peace singing for the Pope Benedict XVI
Don't Laugh At Me - The Voices Of Peace
[1] GUTTMANN, Mônica Armando e a Rejeição – ilustrações: Mirella Spinelli – São Paulo: Paulus, 2011 (Coleção Armando) p. 3, 7, 12, 13, 16, 17
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