Aqui você encontra a arte de contar histórias (storytelling)
entrelaçada à empatia, mediação de leitura, educação, brincar, sustentabilidade e cultura de paz.

Pedro Bandeira e a viagem ao jovem leitor: Pra onde vamos?

Ilustração de Rogerio Borges em Kindlin na Floresta Encantada
"O livro te leva aonde você quiser!"
Pedro Bandeira 

Por Fabio Lisboa

Como no tempo da ficção, as mais de duas horas com Pedro Bandeira passaram voando! O encontro fez parte do “Segundas Intenções”, programação cultural variada que ocorre intencionalmente às segundas, claro, na BSP (Biblioteca de São Paulo). Lá, passeamos pelos sítios de Monteiro Lobato, rios de Mark Twain e ruas dos karas. O autor, que conquistou o público infantil e juvenil com mais de 20 milhões de exemplares vendidos, falou sobre a descoberta do prazer em ler, sobre sua infância e suas referências literárias que o ajudaram a sonhar, sobre seu empenho como escritor, sua entrada no mundo da literatura infantojuvenil e a responsabilidade de escrever para este público, e também sobre a criação do grupo secreto mais famoso entre os pré-adolescentes do Brasil: os Karas!

Em “Prazer em Ler: Um bate-papo sobre leitores em formação”, Bandeira abordou o contexto do local onde estávamos (o ex-presídio do Carandiru) transformado em Parque da Juventude e Biblioteca de São Paulo. O autor nos leva a crer que as casas de detenção onde os excluídos do convívio na sociedade são jogados só vão ser menos lotadas quando a educação os incluir. E para isso, a leitura é fundamental.

Mas não a leitura obrigatória, árida, distante da capacidade de compreensão dos leitores em formação. E sim a “leitura doce”, próxima, libertadora, transformadora.

Mas como a leitura pode ser próxima, livre e doce? Bem, cabe defender a importância dos pais, professores, contadores de histórias e tantos outros mediadores no apoio na transição da fala para a escuta, da escuta para a escrita, do real para o imaginário (e vice-versa).

Pedro Bandeira e a literatura juvenil no encontro Segundas Intenções


 Prazer em Ler: Um bate-papo sobre leitores em formação


O autor de literatura brasileira mais popular entre os leitores pré-adolescentes escreve com prazer. E claro, que tinha (e continua tendo) prazer nas mais variadas leituras! Quando menino, lia Monteiro Lobato e se imaginava o herói das Caçadas de Pedrinho.

Nesta segunda feira, a Biblioteca de São Paulo traz o autor para perto de fãs e convida também profissionais da área (mediadores de leitura, bibliotecários, professores etc) para enviarem perguntas e participarem do bate-papo. Quem não puder ir até a biblioteca poderá, em breve, assistir a um vídeo do evento. E falando em vídeo, no final da postagem, selecionei entrevistas bem bacanas com o criador de clássicos como Droga da Obediência, A marca de uma lágrima e O Fantástico Mistério da Feiurinha (no final, também, links interessantes).

Histórias para mudar o mundo - Evento Mundial


Mesmo que seja uma pequena ação como contar histórias num hospital, numa roda de amigos, numa sala de aula... Nos informem por favor. Esse é um evento mundial que começamos este ano, nós da RIC-Red Internacional de Cuentacuentos, e vamos ampliá-lo a cada ano um pouco mais. Conto com a ajuda de vocês e também com a divulgação. Afinal só juntos poderemos mudar o mundo.

Poema Fernando Pessoa: Liberdade

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...

História real: Herói da Floresta

Castanheira-do-Brasil por Clovis Miranda-WWF-Brasil
O castanheiro que não pode ser silenciado

Tentaram enterrar as suas palavras. O que podemos fazer para não silenciar o herói? De uma cobertura vegetal de 85% de floresta nativa (1997), resta pouco mais do que 20% (2011) na área em que José Carlos Ribeiro viveu e plantou vida, a vida toda.

“É um desastre para quem vive do extrativismo como eu, que sou castanheiro desde os 7 anos de idade, vivo da floresta, protejo ela de todo o jeito. Por isso eu vivo com a bala na cabeça (...).”

Árvore e ofício de vida: Castanheiro. O homem gostava de ser chamado pelo mesmo nome de suas “irmãs”: castanheiras-do-Brasil. E se às vezes esquecemos que somos todos parte da família da Terra, se estamos surdos para ouvir os suplícios da vida vegetal do planeta, ele não. Se as vidas ancestrais da Amazônia (e das cidades), destroçadas pela nossa ganância pelo novo, não podem gritar por socorro, ele falava por todos e todas.

Contos, simbologias e saúde mental

Ilustração: Eduardo Ferigato
Ao escrever sobre a saúde mental, o psicanalista-teólogo-escritor Rubem Alves constrói uma interessante metáfora dividindo o “eu” em dois:
“Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente "equipamento duro", e a outra denomina-se software, "equipamento macio". O hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. O software é constituído por entidades "espirituais" - símbolos que formam os programas e são gravados (...).
Nós também temos um hardware e um software. O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo "espirituais", sendo que o programa mais importante é a linguagem.
Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software. Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam. Não se conserta um programa com chave de fenda. Porque o software é feito de símbolos, somente símbolos podem entrar dentro dele. Assim, para se lidar com o software há que se fazer uso dos símbolos. Por isso, quem trata das perturbações do software humano nunca se vale de recursos físicos para tal. Suas ferramentas são palavras, e eles podem ser poetas [contadores de história], humoristas, palhaços, escritores, gurus, amigos e até mesmo psicanalistas.”

O homem não inventou nada mais simbólico do que a arte, em especial, a arte de contar histórias.

Desde os tempos do latim, arte (ars) é conexão: cada parte da história se liga a uma simbologia e cada simbologia atinge um local de nosso software mental. Todos se conectam aos personagens, mas cada um os interpreta usando os seus programas mentais, assim, a memória interna do sujeito associa as simbologias universais às suas vivências pessoais. Por isso, num grupo de crianças (ou adultos), uns sentem muito medo da bruxa, outros sentem ódio, outros compaixão.